Depois das luzes piscando, das confraternizações animadas e dos brindes repetidos, o corpo cobra a conta. A manhã seguinte às festas costuma chegar acompanhada de dor de cabeça, boca seca, enjoo e uma sensação estranha de cansaço que parece não passar. A ressaca, velha conhecida de quem exagera (ou às vezes nem tanto), é imprevisível, mas tem explicações bem claras dentro do organismo.
A ressaca é resultado de uma combinação de processos inflamatórios, metabólicos e neurológicos desencadeados pelo consumo de álcool. Segundo a nutricionista Patricia Neri Cavalcanti, do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas, o etanol ingerido é transformado no fígado em acetaldeído, uma substância tóxica responsável por boa parte do mal-estar.
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Além disso, mesmo uma desidratação leve já é suficiente para provocar dor de cabeça, boca seca, fadiga e fraqueza. O álcool também irrita a mucosa do estômago, o que contribui para náuseas e desconforto abdominal.
Outro fator importante acontece quando o álcool já saiu da corrente sanguínea, mas o corpo ainda sente seus efeitos. O endocrinologista e médico do esporte Clayton Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen, explica que a ressaca surge justamente nesse momento, quando permanecem os impactos inflamatórios, hormonais e metabólicos.
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O álcool também inibe o hormônio antidiurético (ADH), aumentando a perda de líquidos pela urina. O resultado é mais sede, tontura e piora da dor de cabeça. “É um pacote de múltiplos efeitos do álcool. A pessoa acorda com sensação de corpo moído, fadiga e hipersensibilidade porque há liberação de citocinas inflamatórias”, resume o médico.
A digestão também sofre. O álcool altera o funcionamento do estômago e do intestino, piora o refluxo e retarda o esvaziamento gástrico, intensificando o enjoo. Em alguns casos, favorece episódios de hipoglicemia, especialmente quando a bebida é consumida em jejum, causando tremores, sudorese e palpitação. Para completar, o sono fica fragmentado e pouco reparador, aumentando a irritabilidade e a sensibilidade à dor no dia seguinte.
Por que algumas ressacas são piores?
A resposta passa pela genética. Algumas pessoas metabolizam o álcool mais lentamente, prolongando seus efeitos. Alterações no fígado, uso contínuo de medicamentos e inflamações hepáticas também dificultam esse processo. “Cada dose impõe estresse adicional a um órgão já fragilizado”, explica Patricia.
O tipo de bebida também influencia. Além do teor alcoólico, entram em cena os congêneres substâncias naturais da fermentação, como taninos, histaminas e sulfatos. Elas aumentam a inflamação e o desconforto gastrointestinal.
De modo geral, especialistas apontam:
- Mais ressaca: vinho tinto, uísque e conhaque;
- Intermediária: cerveja;
- Menos ressaca: vodca e gim, por serem bebidas mais “puras”.
Ainda assim, a quantidade ingerida e a sensibilidade individual continuam sendo os fatores decisivos.
Quanto tempo o corpo leva para se recuperar?
Não há uma regra fixa. O fígado metaboliza, em média, meia a uma dose de álcool por hora, mas os efeitos inflamatórios e a má qualidade do sono podem durar de 12 a 24 horas, ou até mais. Por isso, mesmo após o álcool ser eliminado, o cansaço pode persistir ao longo do dia.
Quando a ressaca vira sinal de alerta
É importante procurar atendimento médico se surgirem sintomas como:
- vômitos persistentes ou com sangue;
- confusão mental;
- dor de cabeça intensa;
- palpitações;
- dor abdominal forte;
- diarreia com sangue;
- tremores ou sudorese intensa.
O que ajuda e o que não resolve
Beber água melhora a desidratação, mas não atua diretamente na inflamação. Em quadros mais intensos, água de coco, isotônicos ou soro caseiro ajudam a repor eletrólitos como sódio, potássio e magnésio.
Alimentos leves no dia seguinte, como frutas ricas em água, caldos, vegetais e proteínas magras facilitam a recuperação. Comer antes de beber também reduz os efeitos da ressaca, pois retarda a absorção do álcool.
Sobre medicamentos, o neurologista Diogo Haddad, do Hospital Nove de Julho, alerta: paracetamol deve ser evitado após consumo excessivo de álcool, pois ambos sobrecarregam o fígado. Anti-inflamatórios também exigem cautela, já que aumentam o risco de gastrite e sangramentos. A orientação é hidratar, repousar e só recorrer a analgésicos se a dor persistir no dia seguinte.
Quanto às fórmulas “anti-ressaca” vendidas na internet, especialistas são unânimes em não haver comprovação científica. “Não existe substância capaz de neutralizar rapidamente os efeitos tóxicos do álcool”, reforça Patricia.
No fim das contas, a melhor prevenção continua sendo manter moderação, hidratação, alimentação adequada e sono de qualidade. O corpo agradece principalmente depois das festas.
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