
Em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma nova denúncia promete chacoalhar os bastidores da política nacional. Nesta terça-feira, 2 de setembro, Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prestou um depoimento à Comissão de Segurança Pública do Senado. Em sua fala, ele acusou o gabinete de Moraes de forjar documentos para justificar uma operação da Polícia Federal contra empresários bolsonaristas, realizada em agosto de 2022.
Participando de forma remota, Tagliaferro declarou que o relatório utilizado para fundamentar os mandados de busca e apreensão — com base em uma reportagem do portal Metrópoles sobre empresários que teriam defendido um golpe de Estado — foi fabricado dias após a operação já ter sido realizada. A medida teve como alvos nomes como Luciano Hang (Havan), José Koury (Barra World Shopping) e Ivan Wrobel (W3 Engenharia), integrantes do grupo de WhatsApp “Empresários & Política”.
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“A busca e apreensão foi realizada em 23 de agosto. Porém, se os senhores observarem, os relatórios e todo o material que a mim foi passado para montar aquela farsa, são dos dias 26, 27 e 28 de agosto”, afirmou Tagliaferro. Segundo ele, o material foi elaborado a pedido do juiz auxiliar de Moraes, Airton Vieira, que, de acordo com o ex-assessor, "não sabia mexer com computador".
O ex-assessor apresentou supostos prints e mapas mentais que teriam sido produzidos por ele após a operação, alegando que o ministro Alexandre de Moraes não tinha conhecimento de que Vieira havia delegado a ele essa tarefa. “Airton me pediu para não falar nada”, declarou.
Tagliaferro ocupou o cargo de chefe de gabinete na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a presidência de Moraes na Corte em 2022.

Alvo da PGR
A participação de Tagliaferro ocorre em um momento delicado: ele foi denunciado em agosto pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por crimes como violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação sobre organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A denúncia se deu após suspeitas de que ele teria vazado mensagens internas do gabinete de Moraes.
O depoimento de Tagliaferro provocou uma enxurrada de reações no campo político, especialmente entre senadores aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que viram na fala do ex-assessor uma prova de que houve abuso de autoridade e perseguição judicial contra apoiadores do ex-presidente.
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Oposição reforça discurso contra o STF
O senador Flávio Bolsonaro, presidente da comissão e um dos principais articuladores do evento, afirmou que as revelações são gravíssimas e que Tagliaferro se tornou um “ícone” por supostamente expor irregularidades cometidas pelo ministro Moraes, segundo a BBC News Brasil.
O senador Esperidião Amin, do Progressistas de Santa Catarina, afirmou já ter reunido as 27 assinaturas necessárias para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a conduta do STF na produção de provas relacionadas ao 8 de janeiro e outras ações.
A ex-ministra Damares Alves, senadora pelo Republicanos do Distrito Federal, foi ainda mais enfática: sugeriu a suspensão imediata do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, sob alegação de que o processo estaria contaminado por "provas forjadas". "Esse magistrado tinha que ser preso hoje", disse, referindo-se a Alexandre de Moraes.
Base do governo ausente
Enquanto a oposição ocupava a sessão com duras críticas, nenhum senador da base governista, membro titular ou suplente da Comissão de Segurança Pública, compareceu à audiência. Os únicos senadores petistas presentes, Augusta Brito e Paulo Paim, não integram oficialmente o colegiado e evitaram comentar diretamente o conteúdo do depoimento.
Nos bastidores, a ausência foi interpretada como uma tentativa do governo de não dar visibilidade política ao evento, visto que a denúncia de Tagliaferro ocorre em paralelo à fase final do julgamento de Bolsonaro no STF por tentativa de golpe.
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