
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (17) em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que a sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump a produtos brasileiros é uma chantagem inaceitável e que se baseia em informações falsas.
"O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos", afirmou Lula.
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O pronunciamento do presidente teve 4 minutos e 50 segundos de duração.
O presidente dos Estados Unidos anunciou no dia 9 de julho, em uma carta publicada em sua rede social, a Truth, que produtos brasileiros passarão a ter essa sobretaxa de 50% a partir de 1º de agosto.
O governo brasileiro tem buscado um caminho diplomático para o impasse, com o vice-presidente Geraldo Alckmin à frente de conversas com o setor privado e com a cúpula do Congresso. Parlamentares e empresários têm defendido que o governo evite retaliações, como a adoção de uma tarifa recíproca.
"Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores", disse o presidente no pronunciamento.
Mais cedo, em Goiânia (GO), Lula disse que o Brasil vai taxar empresas de tecnologia americanas e defendeu mais controle sobre redes sociais, medida que é alvo de crítica da gestão Trump. O petista também afirmou que Alckmin e o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, têm tentado negociar com o governo Trump há pelo menos dois meses, sem qualquer resposta.
"Eles [o governo americano] não tiveram preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao Brasil, à indústria, ao agronegócio." O presidente brasileiro também afirmou que o governo vai responder "da forma mais civilizada possível e como um democrata".
Na terça (15), o governo Lula enviou uma carta ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, na qual manifesta indignação com a sobretaxa e diz seguir disponível para negociar uma solução mutuamente aceitável.
Uma sobretaxa de 50% praticamente inviabiliza os negócios de diversos segmentos do setor industrial brasileiro. Calçados, ferro gusa, máquinas e equipamentos, peças para veículos, móveis e ferroliga são alguns dos que, segundo as entidades que representam os produtores, exportam parte relevante das duas produções e não teriam como redirecionar suas produções para outros mercados.
A decisão de Donald Trump é vista como uma medida política, sem qualquer ligação com a economia. Na carta em que anunciou a sobretaxa, Trump cita o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) em ação que apura sua participação na trama golpista de 2022.
O presidente americano escreveu que a forma como o Brasil tem tratado Bolsonaro é uma "vergonha" e que o julgamento contra o ex-presidente é uma "caça às bruxas que precisa ser encerrada".
Ele também cita cobranças tarifárias e não tarifárias do Brasil que seriam injustas na visão do republicano. Ele afirma haver déficit com o país, mas os EUA na verdade têm superávit comercial com os brasileiros. Há 17 anos, o fluxo de bens entre os dois países favorece os americanos, que vendem mais do que compram.
Lula e integrantes do governo tem criticado diretamente o ex-presidente Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Deputado federal licenciado, Eduardo vive nos Estados Unidos onde tem pressionado por retaliações ao Brasil.
"Irei me licenciar sem remuneração para que possa me dedicar integralmente e buscar as devidas sanções aos violadores de direitos humanos", disse em março, quando anunciou que se afastaria do cargo. Quando Trump anunciou a sobretaxa, Eduardo Bolsonaro divulgou uma carta apelando às autoridades por uma "saída institucional que restaure as liberdade".
Dias depois, criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tentou negociar uma saída para as tarifas com a Embaixada dos Estados Unidos. "É um desrespeito comigo", disse à Folha de S.Paulo.
Nesta semana, o governo dos Estados Unidos também anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil. Na carta em que anunciou a sobretaxa, Trump já falava na possibilidade de o USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) investigar o país.
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A apuração, a cargo do USTR, vai avaliar práticas do país em áreas como comércio eletrônico e tecnologia, taxas de importação e desmatamento. O documento que detalha a investigação comercial cita o Pix como uma possível prática desleal do país em relação a serviços de pagamentos eletrônicos.
A rua 25 de Março, tradicional polo de comércio popular no centro de São Paulo, também é mencionada em meio a críticas a supostas falhas na proteção e aplicação adequada e efetiva dos direitos de propriedade intelectual.
Na noite de terça, o governo iniciou uma reação à investigação focada nas operações com Pix. A ideia é reafirmar o sistema de pagamentos automáticos como uma operação consagrada, brasileira e que causa ciúmes.
Membros da gestão Lula e aliados enxergam lobby de empresas de bandeiras de cartão de crédito e de big techs por trás da pressão dos Estados Unidos sobre o Pix brasileiro.
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