A economia circular está diretamente relacionada à adoção de novos modelos de negócios e processos que possam proporcionar o melhor uso dos recursos naturais disponíveis e, neste sentido, essas tecnologias pode ser adotada em diferentes campos, incluindo o setor da indústria da mineração.
Em Belém, essas inovações relacionadas ao aproveitamento de resíduos da mineração em outras cadeias produtivas já vêm sendo pesquisadas nos laboratórios do Instituto Senai de Inovação (ISI) em Tecnologias Minerais.
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Para compreender de que maneira é possível relacionar a economia circular na mineração, o diretor do Instituto SENAI de Inovação em Tecnologias Minerais (ISI-TM), Adriano Lucheta, convida a conhecer melhor o próprio conceito de economia circular. O pesquisador aponta que, o conceito de Economia Circular difundido pela Fundação Ellen MacArthur se baseia em três princípios: eliminar os resíduos e a poluição; circular produtos e materiais em seus valores mais elevados; e regenerar a natureza.
“Partindo-se dessa definição, o conceito clássico de economia circular não engloba a mineração, uma vez que esta é uma atividade primária de exploração de bens minerais não renováveis, fora do loop de circularidade dos materiais (reuso, reparo, remanufatura e reciclagem). Alguns autores sugerem uma expansão desse conceito, considerando os resíduos e rejeitos presentes em minas fechadas, abandonadas ou em operação como materiais/matérias primas em estoque, integrando assim o loop regenerativo da economia circular, de maneira semelhante ao utilizado para as sucatas metálicas”.
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Neste sentido, Adriano Lucheta considera que os resíduos da mineração poderiam ser aplicados como matéria prima para novos produtos, reduzindo a pressão sobre a exploração de novas minas e estendendo as reservas naturais por mais tempo. “Outro exemplo em economia circular é a recuperação de metais valiosos a partir de sucatas eletrônicas e reutilização em novos produtos, criando o conceito de ‘mineração urbana’”, pontua, ao destacar outras iniciativas para o aumento da sustentabilidade da mineração.
“A redução no uso da água; redução das emissões de carbono; eliminação de resíduos (zero waste) e recuperação de áreas mineiradas também estariam alinhadas com os princípios de eliminação de resíduos e da poluição e regeneração da natureza. Essa nova visão da mineração já é oferecida para as indústrias nas linhas de pesquisa e árvore de competências do ISI-TM”.
O pesquisador aponta que, na estrutura localizada no bairro de Nazaré, em Belém, o instituto desenvolve projetos que têm como principal objetivo acelerar a transformação da mineração para uma economia de baixo carbono, sustentável, ambientalmente e socialmente segura. Com este foco, as pesquisas são realizadas em duas linhas principais: a de ‘Tecnologias Limpas: Reuso, Reciclagem e Monitoramento de Resíduos e Efluentes’ e a de ‘Verticalização Mineral: Desenvolvimento de Novos Produtos e Processos’. “Um projeto de bastante destaque, realizado em parceria com a Norsk Hydro, foi o desenvolvimento de um condicionador de solos a partir da compostagem do resíduo de bauxita e biomassa residual de dendê, com potencial para aplicação em áreas antropizadas e de baixa fertilidade, melhorando a fertilidade dos solos”, apresenta Adriano Lucheta.
“Esse trabalho foi premiado internacionalmente e é um caso de sucesso em economia circular na mineração no Pará. Outros exemplos de projetos desenvolvidos ISI-TM com grande aplicabilidade no Pará são a avaliação da utilização de estéreis da mineração de cobre como remineralizadores de solos e seu potencial como dreno de carbono, além de estudos para a valorização de escórias metálicas na construção civil, como substituto do clinquer em cimentos, agregados em concreto asfáltico e cerâmica vermelha”.
Um dos grandes desafios quando se pensa na adoção de processos de economia circular na mineração está justamente na identificação de onde os resíduos da mineração podem ser aproveitados. “Uma das maiores dificuldades é identificar aplicações em novos produtos e/ou processos com potencial de consumo na mesma escala em que os resíduos são produzidos na mineração, de forma segura ao meio ambiente e a saúde humana”, destaca. “Além disso, os custos logísticos e de transformação dos resíduos em novos produtos não podem ser muito superiores aos custos de estocagem sob condições controladas e seguras, o que inviabilizaria economicamente o reaproveitamento”.
Em termos de escala, o pesquisador destaca que a aplicação de resíduos da mineração na agricultura é uma alternativa que é vista de forma atrativa. “O Brasil é extremamente dependente da importação de insumos para a aplicação na agricultura, colocando o agronegócio em risco quando em condições adversas à aquisição externa, como a exemplo recente o conflito entre a Rússia e Ucrânia. Os estéreis e rejeitos da mineração podem ser aplicados como fontes de agrominerais (rochagem), corretivos de acidez ou alcalinidade, ou ainda, como fertilizantes e condicionadores de solos, melhorando a qualidade dos solos”.
Apesar disso, Adriano Lucheta destaca que a aplicação agrícola não é suficiente para o consumo de grandes volumes, já que algumas regiões de mineração também não estão próximas a áreas agricultáveis e considerando ainda que vários resíduos não podem ser aplicados diretamente no solo, por exemplo, em virtude de níveis de elementos potencialmente tóxicos acima dos permitidos na legislação brasileira.
Nesse sentido, o próprio fato de muitos resíduos da mineração ainda possuírem elementos de valor ou propriedades de interesse industrial, possibilitam que eles sirvam como matéria-prima secundária em outras cadeias produtivas como é o caso da construção civil, da siderurgia, da óleo e gás, entre outras. “Somente na cadeia da construção civil, os resíduos podem ser usados como: base estrutural para rodovias, produção de pavimentos e blocos estruturais, adição em cimentos, agregados em concreto, componentes em asfalto, pigmentos, cerâmicas e revestimentos, entre outras aplicações. Além disso, os resíduos podem ser reprocessados, usando novas tecnologias, para a extração de metais e elementos de terras raras remanescentes, com uma menor pegada de carbono em comparação à mineração primária”.
Para que todas essas aplicações possam ser consideradas, porém, são necessários anos de estudo e pesquisa até a obtenção dos protótipos dos produtos. Um processo que envolve grandes riscos ao longo do desenvolvimento e implica em investimentos financeiros significativos. Com o intuito de viabilizar essas pesquisas e compartilhar os riscos tecnológicos inerentes aos processos de inovação, o diretor do Instituto SENAI de Inovação em Tecnologias Minerais explica que o ISI-TM foi credenciado como UNIDADE EMBRAPII, na área de Economia Circular na Mineração. “Iniciativas de projetos na área de economia circular são essenciais para mitigar os impactos ambientais da mineração na região Norte, gerar desenvolvimento através de novas receitas com a utilização dos resíduos e proporcionar a conservação ambiental”.
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