Na Marginal Tietê, via que corta São Paulo, a madrugada do último sábado (29) expôs uma das mais brutais faces da violência que insiste em atravessar o cotidiano urbano. Entre o barulho dos motores e o arrastar metálico de um carro em alta velocidade, o destino de Tainara Souza Santos, 30 anos, foi reescrito em segundos, e segue mobilizando familiares, médicos e autoridades que agora lutam, cada um à sua maneira, pela sobrevivência e pela verdade.
Internada desde que foi atropelada e arrastada por mais de 1 km, Tainara passou na última terça-feira (2) por novos procedimentos cirúrgicos, incluindo a colocação de pinos no quadril e a realização de uma colostomia. A família informou que ambas as intervenções foram bem-sucedidas e que a jovem permanece estável, embora inconsciente na Unidade de Terapia Intensiva.
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As equipes médicas pretendem reduzir a sedação nesta quarta-feira (3) para observar a reação da paciente, que sofreu amputações nas duas pernas - uma das quais perdida ainda no momento em que foi arrastada pelo veículo conduzido por Douglas Alves da Silva, 26 anos, preso no dia seguinte ao crime.
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Além das mutilações, Tainara apresenta clavícula trincada e costela fraturada, mas, segundo os profissionais de saúde, não será necessário realizar outros procedimentos por ora. A amiga de infância, Letícia Dias, relatou que a vítima também apresentou inchaço cerebral, embora exames tenham descartado gravidade no edema.
A CAPTURA E A VERSÃO DO SUSPEITO
Douglas Alves da Silva foi encontrado em um hotel na zona leste de São Paulo, onde buscou se esconder após o atropelamento. No momento da prisão, tentou tomar a arma de um policial e acabou baleado no braço. A defesa alega que ele não recebeu atendimento adequado e acusa agentes de agressão e tortura. Denúncias que serão investigadas pela Corregedoria da Polícia Civil, a pedido da Justiça.
O relato do homem, porém, não convence os investigadores. Douglas afirmou que desconhecia Tainara, que tudo não passou de um acidente decorrente de uma suposta falha mecânica e que não percebeu que arrastava uma pessoa sob o veículo. A polícia desmonta cada ponto da versão.
O QUE APONTA A INVESTIGAÇÃO
Segundo o delegado Augusto Bícego, o suspeito já conhecia a vítima e nutria ciúmes por um relacionamento esporádico que não aceitava ver chegar ao fim. Versões colhidas indicam perseguição prévia e indicam que Douglas ignorou pedidos do amigo Kauan para parar o carro enquanto a vítima era arrastada. A polícia afirma que ele só abandonou o corpo quando este se desprendeu do veículo - e não por decisão voluntária de prestar socorro.
Mais tarde, orientado por um advogado, levou o carro até a casa de um ex-sogro, onde deixou o veículo longe da cena do crime, e então se hospedou em um hotel para fugir da prisão.
QUEM É TAINARA
Descrita como alegre, divertida e sempre cercada de amigos, Tainara é mãe de dois filhos - um menino de 12 anos e uma menina de 8 - com quem mora sozinha. Trabalhava na produção de uma agência de comércio eletrônico e, segundo pessoas próximas, vinha planejando novos projetos pessoais e profissionais.
"Aproveita a vida, tudo o que pode”, diz Letícia Dias, emocionada. O irmão da vítima, Luan, reforça: “Ela faz todo mundo sorrir. Não arruma briga. É querida demais."
CLAMOR POR JUSTIÇA
A família promete não descansar até que o caso seja julgado exemplarmente. Os advogados que representam Tainara, Fabio Costa e Wilson Zaska, afirmaram nas redes sociais que “o caso jamais ficará impune” e que "a Justiça será feita".
Enquanto isso, entre cirurgias, sedação controlada e a luta silenciosa no leito de UTI, Tainara tenta sobreviver ao que amigos descrevem como "a tragédia que vai marcar para sempre a sua vida", e que reacende, mais uma vez, o alerta sobre a violência contra mulheres no país.
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