Rafael Bitencourt, 41, motorista que, segundo relatos, teve celular furtado no dia da morte Matheus Campos da Silva, 21, atropelado e alvo de deboche pelo condutor que o atingiu nas redes sociais, afirmou à polícia ter encontrado seu aparelho ao lado do jovem atingido. No entanto, Bitencourt disse não ter visualizado, pela velocidade da ação, o rosto do autor do crime, apesar de Silva ser o único transitando a pé na via.
Bitencourt esteve no 5° Distrito Policial, no bairro da Liberdade, em São Paulo, na tarde desta quinta-feira (4). O homem, que trabalha para aplicativos de transporte, levava um casal de passageiros no momento do suposto furto. Eles devem ser ouvidos nesta sexta-feira (5), segundo o delegado Percival Alcântara.
A família de Matheus Campos da Silva, representada pelo advogado Walisson dos Reis, nega ser o jovem um criminoso e classificou o depoimento de Bitencourt como confuso e nada esclarecedor. "Ele disse não ter visto o rosto do ladrão. Não sabe se é meu cliente. É um depoimento frágil", diz Reis.
O caso ocorreu por volta das 17h30 do último dia 25, na região central da capital paulista. Segundo o boletim de ocorrência, Christopher Rodrigues, 27, investiu com um Ford Ka sobre Silva após a vítima supostamente tomar de Rafael Bitencourt um celular, avaliado em R$ 800. Silva não tinha antecedentes criminais.
Em seu depoimento, Bitencourt disse estar metros à frente de Rodrigues quando foi alvo de furto. Cerca de dez segundos depois, ele afirma ter ouvido um estrondo. Ao conferir, avistou o corpo de Silva e seu aparelho celular.
Ele ainda declarou ter presenciado Rodrigues tentando pedir auxílio a uma ambulância que passava já em atendimento pelo local.
O autor do atropelamento afirmou à polícia que a colisão foi um acidente. Ele, no entanto, publicou uma sequência de vídeos e fotos em que aparece debochando da vítima e negando socorro. Uma das gravações, que veio à tona nesta terça (2), mostra Silva ainda vivo e ensanguentado sob o veículo.
Na filmagem, o atropelador diz: "Comédia, vai roubar trabalhador?". Balançando a cabeça e o indicador da mão esquerda, a vítima nega. Mas o motorista se recusa a oferecer ajuda: "Não, não vai sair, não. Só com a polícia, chama a polícia".
Em publicações divulgadas anteriormente, feitas logo após o ocorrido, ele escreveu: "Menos um fazendo o L", em referência a eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda no dia do acidente, o motorista fez mais uma publicação no Facebook em que dizia ter mandado Silva para "conhecer o tio Lúcifer".
O advogado de Rodrigues, Nino Gonçalves, diz que seu cliente desabafou nas redes sociais por estar cansado de acompanhar tanta violência no cotidiano paulistano.
Para Paloma Campos, 27, irmã do jovem morto atropelado, as publicações são uma admissão de culpa. "Ele teve, sim, a intenção de matar e deixou isso bem claro nos vídeos. Como você vê uma pessoa sob o carro e não ajuda?", questiona.
O inquérito policial deve ser concluído até esta sexta, segundo o delegado o Percival Alcântara. Inicialmente, a ocorrência foi registrada como furto e morte suspeita ou acidental. Segundo Alcântara, o intuito é esclarecer se o homicídio foi doloso, com intenção de matar, ou culposo, sem ela. Além disso, os investigadores querem saber se houve omissão de socorro.
"Se uma pessoa liga para o serviço atendimento, já basta para não ser considerado negligência", afirma o delegado.
Não foram encontradas imagens do acidente.
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