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OPERAÇÃO CAPA PRETA

Testemunha indicou emails e contratos para ação contra filho de Lula

Um mês e meio após deixar a Presidência, em 2011, Lula visitou a sede do grupo empresarial de Jonas Suassuna, à época sócio do filho do ex-presidente, Fábio Luis. Foi apresentado a funcionários e executivos do Grupo Gol, holding de Suassuna que reúne dez

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Imagem ilustrativa da notícia Testemunha indicou emails e contratos para ação contra filho de Lula camera Reprodução

Um mês e meio após deixar a Presidência, em 2011, Lula visitou a sede do grupo empresarial de Jonas Suassuna, à época sócio do filho do ex-presidente, Fábio Luis.

Foi apresentado a funcionários e executivos do Grupo Gol, holding de Suassuna que reúne dez empresas das áreas editorial e de tecnologia, sem relação com a empresa aérea de mesmo nome. Ao conhecer o diretor comercial Marco Aurélio Vitale, perguntou ao filho: "É esse o capa preta?".

Lula se referia à desconfiança por Vitale ter uma trajetória em órgãos de imprensa. Ele trabalhou no Grupo Folha de 1992 a 2001 na área comercial, sem ligação com a Redação do jornal Folha de S.Paulo, e passou por outros veículos em funções semelhantes.

Mais de seis anos depois, foi Vitale quem ajudou os investigadores da Polícia Federal a levantar indícios contra o filho do petista em negócio com as teles Oi e Vivo.

O ex-executivo de Suassuna foi testemunha-chave na apuração que culminou na Operação Mapa da Mina, deflagrada pela Lava Jato na última terça-feira (10).

O objetivo dela foi aprofundar apurações sobre o suposto uso de firmas de Lulinha e de Suassuna para pagar despesas pessoais da família de Lula, entre elas a compra do sítio de Atibaia (SP). A origem desses recursos, segundo a investigação, foram a Oi e a Vivo.

As relações comerciais entre essas empresas e as firmas ligadas a Lulinha são conhecidas dos investigadores ao menos desde 2016. Relatório da PF daquele ano apontou o repasse de R$ 132 milhões da Oi e R$ 40 milhões da Vivo para o Grupo Gol e para a Play TV (Gamecorp), também sociedade de Fábio Luis e Suassuna.

Por serem relações de companhias privadas, os agentes tinham dificuldade em identificar indícios de crime.

Vitale indicou o possível "mapa da mina" ao apontar os contratos privados –inacessíveis aos agentes– que dariam cobertura para os repasses. Mostrou também emails entre executivos que indicavam que o resultado comercial para a Oi dos produtos feitos pelo Grupo Gol eram baixíssimos, comparados à contrapartida dada pela tele.

O ex-executivo entrou no radar da PF após conceder entrevista à Folha de S.Paulo em outubro de 2017, quando afirmou que as firmas de Suassuna eram usadas como fachada para o recebimento de recursos da Oi em favor da família de Lula.

Com base em relatos de Vitale, a Folha de S.Paulo localizou documentos que corroboravam boa parte das declarações que deu sobre contratos das firmas.

Convidado a ir a Curitiba pela PF, surpreendeu agentes ao chegar sem advogado e sem proposta de delação premiada. Apresentava-se como testemunha. Ele afirma que não cometeu crimes enquanto dirigia empresas de Suassuna.

Entregou seu computador para que mensagens fossem analisadas e, ao longo de dois anos, foi duas vezes à capital paranaense. Também enviou à força-tarefa vídeos com temas que os agentes queriam esclarecer. Num deles, aparece um Buda de madeira de 1 metro que ele tem na varanda.

Vitale disse que decidiu falar após ser chamado pela Receita para explicar uma operação financeira em seu nome com uma empresa de Suassuna. Auditores passaram a perguntar sobre outras transações das firmas do ex-chefe e ele respondeu a todas. Foi quando, disse ele, decidiu expor os problemas que via no Grupo Gol. O caso que o levou ao Fisco foi arquivado.

Vitale decidiu escrever um livro sobre bastidores da empresa, além de detalhar contratos suspeitos de que tinha conhecimento e cruzá-los com informações reveladas pela Folha de S.Paulo. Chegou a ter acordo apalavrado com duas editoras, que recuaram. Decidiu, em 2018, imprimir a obra de forma independente.

Ele disse ter vendido e distribuído 4.000 cópias de "O Sócio do Filho" pela internet e em livrarias. Um desembargador, disse ele, comprou 15 livros para distribuir no Natal de 2018. Uma pessoa também obteve um exemplar afirmando que ele chegaria às mãos do presidente Jair Bolsonaro, durante a campanha eleitoral.

A aventura independente teve percalços. Vitale encontrou vazia uma livraria em Niterói que faria a divulgação do livro. O dono, casado com uma mulher de esquerda, disse que temeu divulgar o evento.

No livro, Vitale relata que a única visita do ex-presidente ao Grupo Gol foi aquela, em fevereiro de 2011.

Eles se encontraram um mês depois, no Paraguai. O executivo apresentava uma ferramenta tecnológica ao Ministério da Educação daquele país. Lula fora a um evento e a um encontro com o então presidente Fernando Lugo.

O negócio no Paraguai não foi para a frente –o que Vitale atribui a um acordo assinado dois meses depois entre os países, em que o Brasil aumentou o pagamento pela energia da hidrelétrica de Itaipu. O ex-executivo afirma que o empresário temeu a vinculação do acordo entre os governos com futuro contrato público a ser obtido pelo Grupo Gol.

Ao comentar as declarações de Vitale, em 2017, Suassuna negou ser laranja da família Lula, e disse que seu ex-executivo tentou chantageá-lo antes de procurar a imprensa. Disse também que processaria o ex-funcionário.

Vitale nega ter tentado negociar seu silêncio com o ex-chefe. Nesses dois anos, nunca foi intimado sobre qualquer processo contra ele.

Ele registrou boletim de ocorrência após ouvir de três ex-funcionários da Gol que Suassuna vinha fazendo ameaças. A Justiça arquivou a queixa por falta de provas.

Além da receita com o livro, Vitale é fotógrafo e presta assessoria a empresas para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

A defesa do filho de Lula ainda não se manifestou sobre a operação deflagrada na terça. O ex-presidente chamou naquele dia a ação de "canalhice".

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