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TECNOLOGIA

Conheça japonesa, a primeira búfala de proveta do Marajó

Foram décadas de estudo para que os pesquisadores conseguissem reproduzir as condições ideais para a reprodução dos animais na região. O resultado já começa a dar os primeiros passos

Imagem ilustrativa da notícia Conheça japonesa, a primeira búfala de proveta do Marajó camera Divulgação
Conheça japonesa, a primeira búfala de proveta do Marajó
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Foram mais de quatro décadas de estudo até o nascimento, no dia 20 de dezembro de 2021, de Japonesa, a primeira “búfala de proveta” do Marajó, certamente a bezerra mais aguardada da Fazenda Paraíso, em Cachoeira do Arari. O nome Japonesa não foi por acaso, já que foi pensado em homenagem ao professor doutor Otávio Mitio Ohashi, descendente de japoneses, que faleceu no início de 2021 por conta da Covid-19. O professor deu início às primeiras pesquisas sobre produção in vitro de embriões no início da década de 1990, pesquisando tanto bovinos quanto bubalinos. Foi ele também que teve os primeiros resultados de nascimentos de bezerros bovinos no Estado do Pará, além de ter participado da montagem da maioria dos laboratórios de produção in vitro do país e de pesquisas com clonagem e transgênicos.

O nascimento da japonesa foi conseguido, ainda, através de uma parceria entre o Setor de Reprodução Animal do Instituto da Saúde e Produção Animal (ISPA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), produtores de búfalos da Ilha do Marajó, a Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (EETEPA) de Salvaterra e as prefeituras deste município e de Soure.

NOVA ERA NA REPRODUÇÃO BUBALINA

Os estudos sobre Produção In Vitro de Embriões Bubalinos (PIVE) se intensificaram em 2014 e, dois anos, depois já havia alcançado um resultado inédito na Região Norte, com a gestação das duas primeiras fêmeas de búfalo por meio da técnica. O professor Sebastião Rolim, um dos pesquisadores que coordenam a atual equipe, explica que, diferente da inseminação artificial, em que ocorre a coleta de material genético de um macho com alto valor genético e posterior fecundação em uma fêmea em período reprodutivo, a PIVE ocorre com a produção do embrião em laboratório, em incubadores ou “útero artificial”.

Outra diferença é que são realizadas técnicas específicas após a coleta, tanto do sêmen quanto de folículos ovarianos, ambos retirados de animais com alto valor genético. E os embriões são cultivados, por isso a técnica recebe o nome de “proveta”. Só então os embriões são transferidos para “barrigas de aluguel”, as búfalas receptoras de embrião, que não precisam ter alto valor genético, mas estar saudáveis. Atualmente, eles alcançam uma taxa de prenhez em torno de 40% de produção de embrião, no caso de animais não selecionados, e podem triplicar isso ao selecionar as características reprodutivas. “A gente obteve agora 42,8% de prenhez de búfalas com a técnica de produção in vitro, portanto estão vindo outras ‘Japonesas’ ainda este ano”, destaca Rolim.

A escolha do local não foi à toa, o arquipélago possui o maior rebanho de búfalos do Brasil e o segundo maior do mundo, ficando atrás somente da Índia. “A gente está sempre por lá [na Fazenda Paraíso], faz a pesagem da Japonesa mensalmente, quer saber se tá tudo bem. E acompanha também a mãe dela, uma vaca que produz uma boa quantidade de leite, sendo ordenhada todo dia. Ela tem um tratamento meio que especial, é um animal que precisa de um acompanhamento mais próximo. Ela provavelmente terá uma vida normal. A diferença é que, como ela foi produzida a partir de uma genética de alto valor, a gente precisa ter um cuidado a mais para garantir que ela expresse essa genética”, explica o pesquisador.

Atualmente, a equipe do projeto desenvolve as atividades com dez produtores da região, mas esse número será maior, já que o projeto foi aprovado para receber recursos da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e do Governo do Estado do Pará, garantindo a reforma e ampliação do laboratório e a compra de equipamentos, o que já vem sendo feito nos últimos três meses. “Com isso nós vamos poder atender aproximadamente 50 produtores da região, o que em termos de rebanho, representa 50 mil cabeças de búfalos”, diz Sebastião Rolim.

“A fertilização in vitro já é desenvolvida em bovinos no país de forma geral, inclusive fomos pioneiros na região também com os bovinos, quase 30 anos atrás. Mas em búfalo, essa tecnologia ainda é muito incipiente, ainda em desenvolvimento. No Brasil, ainda não é uma tecnologia economicamente viável na maioria das regiões. Como ninguém fazia, isso se tornava caro. Com a Japonesa, a gente já tem uma ferramenta prévia, para torná-la viável para o produtor. E com o nosso laboratório no Marajó, fica mais fácil ter acesso aos animais e as fazendas, o que pode diminuir os custos de produção, aumentando a renda do produtor, gerando mais sustentabilidade econômica, social e ambiental, através da geração de emprego e renda às comunidades locais, que vivem da produção de carne, leite e queijos de búfalos”, completa o professor.

As primeiras leituras sobre inseminação de búfalos chegaram à UFRA pelo professor William Gomes Vale, em 1976, enquanto realizava seu doutorado na Alemanha. Querendo desenvolver as técnicas na região, ele formou o primeiro grupo de pesquisa com Haroldo Ribeiro, Otávio Ohashi e José Souza Silva. Dois anos depois, eles chegaram ao desenvolvimento de um criopreservador específico para congelamento de sêmen de bubalinos, já que o existente era de bovinos e não estava dando o resultado esperado com búfalos. “Com isso, nós finalmente conseguimos adaptar e congelar o sêmen, mas precisávamos saber se ele fertilizava”, lembra o professor Haroldo Ribeiro, que entrou no projeto quando ainda era aluno de medicina veterinária da UFRA, na época ainda chamada de Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP). Quatro produtores acreditaram no projeto e permitiram a coleta de material.

O pecuarista Liberato de Castro, proprietário da Fazenda Itaqui, no município de Santa Cruz do Arari, disponibilizou 25 búfalas para os pesquisadores realizarem o teste de inseminação. Após o procedimento, exames de sangue foram enviados para a Alemanha, onde o professor William fez as análises e verificou as taxas hormonais. “Se a progesterona tivesse alta, significava que estavam prenhas. Dois meses depois da inseminação voltei à fazenda e constatei a prenhez, confirmando quatro gestações”, orgulha-se Haroldo.

A gestação da búfala é de dez meses e os primeiros búfalos produzidos por inseminação artificial da América Latina nasceram em 1982. Em 2021, a pesquisa teve mais uma vitória significativa, quando nasceu a primeira búfala por inseminação artificial com sêmen sexado através da técnica de imunosexagem, ou seja, em que há escolha sobre o sexo do animal. Portanto, novos avanços irão acontecer na reprodução de búfalos e de fato a primeira vitória desta nova empreitada já veio - Japonesa, a saudável bezerra que segue sendo acompanhada pela equipe.

DETALHES

■ Em 2021, o queijo do Marajó, feito com leite de búfala, ganhou o selo de Indicação Geográfica (IG).

■ O Pará concentra 520 mil búfalos, dos quais mais de 320 mil estão no Marajó.

*Informações da Associação Paraense de Criadores de Búfalas (APCB) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).FOTO: divulgação

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