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Velório de Mestre Damasceno reúne artistas em celebração à cultura

Mestre Damasceno, ícone da cultura marajoara, faleceu aos 71 anos. Sua arte e legado permanecem vivos nas tradições e celebrações do povo.

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Imagem ilustrativa da notícia Velório de Mestre Damasceno reúne artistas em celebração à cultura camera Ricardo Amanajás/Diário do Pará

Um dos maiores nomes da tradição marajoara, o artista, poeta, músico e mestre da cultura popular Damasceno Gregório dos Santos — carinhosamente conhecido como Mestre Damasceno — faleceu na madrugada desta terça-feira, 26 de agosto, aos 71 anos, justamente no Dia Municipal do Carimbó, expressão artística da qual ele era símbolo vivo.

Damasceno estava internado desde o fim de junho em Belém, enfrentando uma batalha contra um câncer agressivo, já em estado de metástase, que atingiu pulmões, fígado e rins. Nos últimos dias, seu quadro clínico se agravou com uma pneumonia severa e insuficiência renal. Após semanas de luta na UTI do Hospital Ophir Loyola, não resistiu a uma parada cardíaca às 1h26 da manhã. A informação foi confirmada por seu produtor e amigo de longa data, Guto Nunes.

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O corpo do mestre foi velado no Museu de Arte do Estado e será transportado nesta manhã de quarta-feira (27) para Salavaterra, na Ilha do Marajó, onde acontecerá o sepultamento, na quinta-feira (28) — numa despedida profundamente simbólica, devolvendo à terra natal o corpo de quem tanto fez por sua cultura.

Nascido em 1954 na Comunidade Quilombola do Salvá, no município de Salvaterra (PA), Damasceno carregava nas veias a força de dois mundos: era neto de indígena e descendente de pessoas negras escravizadas. Sua vida foi marcada por superações — como a perda da visão aos 19 anos — e, mesmo assim, ou justamente por isso, tornou-se um guardião das memórias, ritmos e narrativas do povo marajoara. Reinventou-se por meio da poesia oral, da música e das manifestações populares, elevando tradições locais a palcos nacionais.

Entre suas maiores criações está o Búfalo-Bumbá, uma versão marajoara do tradicional Bumba-meu-Boi, adaptada à realidade social, simbólica e ambiental da ilha do Marajó. Essa invenção foi destaque na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, realizada este mês, em que Damasceno foi o grande homenageado — mesmo hospitalizado, esteve presente por meio da representação de seu produtor e de um cortejo cultural que percorreu o Hangar em sua honra.

A trajetória de Mestre Damasceno foi reconhecida com importantes premiações: recebeu o título de Mestre da Cultura Popular pela Fundação Cultural do Pará em 2015, foi reconhecido como mestre do carimbó pelo IPHAN em 2017, e teve sua obra eternizada como patrimônio cultural do Estado do Pará por meio da Lei n° 10.141, aprovada em 2023. No mesmo ano, assumiu uma cadeira de membro fundador na Academia Marajoara de Letras — um feito simbólico para alguém que vinha da oralidade e de um contexto historicamente excluído das instituições formais do saber.

IMAGENS DO VELÓRIO EM BELÉM

Em maio deste ano, Damasceno foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta honraria concedida pelo Ministério da Cultura. A cerimônia aconteceu no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Lula e da ministra Margareth Menezes. Foi o coroamento de uma vida dedicada à cultura, às suas raízes e ao povo.

Além disso, marcou presença no maior palco da cultura popular brasileira: a Marquês de Sapucaí. Em 2023, foi homenageado pela escola Paraíso do Tuiuti, com um enredo sobre os búfalos do Marajó. Em 2024, foi um dos compositores do samba “A mina é cocoriô!”, defendido pela Grande Rio, que ficou com o vice-campeonato.

Mestre Damasceno foi mais que um artista: foi um elo entre passado e presente, entre memória e resistência. Sua arte, construída na escuta, no tambor e na palavra, seguirá viva nas comunidades, nos terreiros, nas rodas de carimbó e nas celebrações que ele ajudou a manter acesas.

Como disse seu produtor, Guto Nunes: “Mestre Damasceno rompeu barreiras e chegou em lugares inimagináveis para uma pessoa preta, quilombola, da oralidade. Ele viveu para ver sua importância reconhecida em vida. Isso é raro. E muito justo.”

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