Por que o Brasil tem farmácias concorrentes uma ao lado da outra nas ruas?

Em um panorama notável, o Brasil viu a abertura de 22 novas farmácias diariamente em 2024, resultando em um total superior a 90 mil estabelecimentos no território nacional. Esse crescimento impulsionou o faturamento do setor para impressionantes R$ 220,9 bilhões, conforme informações divulgadas pela IQVIA. O fenômeno destaca uma transformação significativa no varejo farmacêutico, influenciada por diversos fatores como o envelhecimento da população, a digitalização dos serviços e a ampliação das ofertas disponíveis nas farmácias.

O envelhecimento demográfico do Brasil se configura como um dos principais propulsores deste crescimento. De acordo com os dados do Censo de 2023, mais de 32 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, com previsões que indicam que esse número pode dobrar até 2050. À medida que a população envelhece, aumenta também a demanda por medicamentos, o que intensifica a presença das farmácias em áreas urbanas e bairros.

Adicionalmente, a crescente preocupação com a saúde mental tem se mostrado um fator crucial na expansão das vendas. Um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Farmácia em parceria com a consultoria IQVIA revelou que as vendas de estabilizadores de humor e antidepressivos aumentaram 88% entre janeiro e maio de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior. A telemedicina e as receitas digitais têm contribuído significativamente para essa tendência.

A automedicação também desempenha um papel importante no aumento do consumo de medicamentos. Com o modelo moderno de farmácias self-service, onde os clientes têm acesso facilitado a gôndolas repletas de produtos variados, os consumidores encontram mais facilidade para adquirir medicamentos sem necessidade de receita médica e produtos voltados à saúde preventiva.

Transformação do Portfólio e Atração de Novos Clientes

As farmácias evoluíram para se tornarem centros multifuncionais, oferecendo não apenas medicamentos, mas também produtos de higiene pessoal, cosméticos e alimentos não alcoólicos. Além disso, serviços como vacinação e testes rápidos passaram a ser comuns nesses estabelecimentos desde a regulamentação em 2014, que transformou as farmácias em unidades de assistência à saúde.

A Lei Federal 13.021/2014 possibilitou que essas lojas realizassem atendimentos básicos como vacinação e acompanhamento farmacêutico, consolidando sua importância especialmente em áreas onde o acesso aos serviços de saúde é limitado.

Com o avanço da tecnologia, grandes redes como Drogasil, Pague Menos e Drogaria São Paulo estão investindo pesadamente em comércio eletrônico, entrega e marketing digital, ações que têm potencializado as vendas e fidelizado clientes através de ofertas personalizadas baseadas em dados.

Desafios Enfrentados pelas Pequenas Farmácias

Apesar da expansão do setor, a concentração nas mãos das grandes redes se torna cada vez mais evidente. Em 2024, a Abrafarma reportou um aumento na sua participação de mercado para 47%, crescendo 16% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, as farmácias independentes viram sua participação cair para 17%. Das quase 8 mil farmácias que encerraram suas atividades neste ano, cerca de 87% eram pequenas empresas.

Esse cenário é atribuído à concorrência acirrada: grandes redes abrem filiais próximas às farmácias locais, oferecendo preços competitivos que dificultam a sobrevivência dos pequenos negócios. Especialistas destacam que essas redes contam com equipes dedicadas à expansão que identificam locais estratégicos para instalação e firmam parcerias com investidores imobiliários. Nesse modelo, as grandes redes operam com menos riscos financeiros ao não necessitarem investir na construção física das lojas.

Modelos Associativos como Solução para os Pequenos Empreendedores

No entanto, os desafios permanecem significativos. Os altos custos operacionais e locatários elevados são barreiras constantes enfrentadas pelos pequenos empresários no setor farmacêutico.

Percursos Regulatórios e Perspectivas Futuras

Possíveis alterações na regulamentação do setor podem impactar diretamente o mercado. O governo está avaliando uma proposta que permitiria a venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados, o que poderia afetar negativamente as vendas das farmácias tradicionais. Essa discussão já ocorreu anteriormente e enfrentou resistência por parte das entidades do setor farmacêutico; no entanto, ganhou nova força recentemente.

Segundo informações do canal Curioso Mercado sobre o cenário da expansão farmacêutica no Brasil, o país se encontra em uma trajetória oposta à observada em mercados como os Estados Unidos e China. Enquanto esses países veem uma diminuição nas lojas físicas em favor do digital, no Brasil ainda há um crescimento acelerado no número de estabelecimentos físicos.

Diante das numerosas transformações que estão moldando o setor farmacêutico e da crescente digitalização dos serviços oferecidos, surge uma questão relevante: qual é a preferência dos consumidores na hora da compra? Eles optam pelas farmácias físicas ou pela comodidade das plataformas online? Comentários sobre este tema são bem-vindos!