
Ao longo da história humana, a extinção sempre foi encarada como um ponto final. Quando uma espécie desaparece da Terra, ela se torna apenas memória fossilizada - tema de museus, livros e ficções. Mas essa lógica acaba de ser desafiada por uma iniciativa audaciosa nos Estados Unidos, que promete reescrever o que conhecemos sobre o fim da linha evolutiva.
A empresa norte-americana Colossal Biosciences anunciou que conseguiu trazer de volta à vida o lobo terrível (Aenocyon dirus), espécie extinta há cerca de 12.500 anos. Segundo a companhia, esta é a primeira vez na história em que um animal extinto foi "ressuscitado" com sucesso, resultado de anos de pesquisa envolvendo DNA ancestral, clonagem e avançadas técnicas de edição genética.
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Os cientistas da Colossal criaram três filhotes com base no genoma reconstruído do lobo terrível. Utilizando como matriz genética o DNA de um dente com 13 mil anos e um crânio datado de 72 mil anos, a equipe modificou células de lobos cinzentos - parentes vivos mais próximos da espécie extinta - até obter o que classificam como um híbrido fiel à aparência original do predador pré-histórico. "Nossa equipe pegou DNA de um dente de 13.000 anos e de um crânio de 72.000 anos e fez filhotes de lobos terríveis saudáveis", declarou Ben Lamm, CEO e cofundador da empresa.
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PROJETO SIGILOSO
A Colossal já é conhecida por suas ambições em desextinção desde 2021, quando anunciou projetos para ressuscitar o mamute lanoso, o dodô e o tigre-da-Tasmânia. Porém, o trabalho com o lobo terrível foi mantido em sigilo até agora.
As criaturas agora vivem em um terreno de 2.000 acres, em local mantido em segredo, cercado por uma estrutura de segurança de padrão zoológico, com monitoramento por drones, câmeras e equipe especializada. O espaço, segundo a empresa, foi certificado pela American Humane Society e registrado no Departamento de Agricultura dos EUA.

ALTERAÇÕES GENÉTICAS
Para chegar ao resultado, a equipe realizou 20 alterações genéticas em 14 genes, responsáveis por características como pelagem branca, pelos longos e mandíbula mais robusta - marcas registradas do lobo terrível. Embriões desenvolvidos a partir dessas células modificadas foram implantados em cães de grande porte, que serviram como mães substitutas. Dois machos nasceram em 1º de outubro de 2024 e uma fêmea chegou ao mundo em 30 de janeiro de 2025.
“Ele carrega genes de lobo terrível, e esses genes fazem com que ele se pareça mais com um lobo terrível do que qualquer coisa que vimos nos últimos 13.000 anos. E isso é muito legal”, afirmou Love Dalén, professor de genômica evolutiva da Universidade de Estocolmo e consultor da Colossal, que participou da análise genômica, mas não diretamente do processo de clonagem.
QUESTÕES ÉTICAS
Apesar da empolgação científica, o projeto levanta questões éticas. Muitos críticos afirmam que os recursos usados na desextinção poderiam ser melhor aplicados na conservação de espécies ameaçadas que ainda vivem. Outros se preocupam com o bem-estar dos animais utilizados como substitutos e com possíveis impactos ecológicos de reintroduzir híbridos em ambientes naturais.
Christopher Preston, professor de filosofia ambiental na Universidade de Montana, reconhece os esforços da Colossal em mitigar esses riscos. “A Colossal tomou precauções cuidadosas para rastrear quaisquer consequências genéticas não intencionais de suas edições, eliminando edições arriscadas que são conhecidas por estarem associadas a resultados ruins”, destacou.
PAPEL ECOLÓGICO
Ainda assim, Preston questiona o papel que essas criaturas poderão desempenhar no mundo atual. “Em estados como Montana, estamos atualmente tendo problemas para manter uma população saudável de lobos cinzentos na terra diante da oposição política acirrada”, afirmou. “É difícil imaginar lobos terríveis sendo soltos e assumindo um papel ecológico.”
Como próxima etapa, a empresa pretende aplicar as tecnologias desenvolvidas na clonagem do lobo terrível para a conservação de espécies ameaçadas, como o lobo vermelho, do qual já produziram duas ninhadas por meio de métodos inovadores de clonagem. No horizonte, o objetivo de introduzir mamutes em ecossistemas até 2028 permanece de pé - e agora, parece mais próximo do que nunca.
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