Coloridos, vistosos e capazes de despertar a atenção do público, as libélulas podem desempenhar um papel central para a promoção do ecoturismo de base comunitária na Amazônia brasileira. O potencial foi constatado por um estudo inédito realizado por uma equipe internacional de cientistas e que envolveu pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
Ainda que a observação de insetos não cause a mesma familiaridade que a observação de pássaros, atividade mais comum no Brasil, por exemplo, o potencial das libélulas para o ecoturismo já é aproveitado em outros países. E foi a partir daí que os pesquisadores decidiram investigar o que as comunidades que vivem na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, localizada entre os municípios paraenses de Santarém e Aveiro, pensam sobre a possibilidade de aproveitar a presença das libélulas no território para o ecoturismo. “As libélulas entram no grupo de insetos que as pessoas têm apreço. Além disso, são insetos que classificamos como bioindicadores, ou seja, para que eles ocorram, eles precisam de condições ambientais muito específicas”, explica o co-orientador da pesquisa, o professor do Laboratório de Ecologia e Conservação (LABECO) do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGECO) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Leandro Juen.
“Elas vivem na água quando são larvas, então, elas sempre vão estar, mesmo na fase adulta, próximas dos igarapés, dos lagos e das poças. Elas precisam muito dessa água limpa e por isso são bioindicadores porque elas só vão acontecer nessas condições. Então, se a gente consegue preservar as libélulas, consegue preservar várias outras espécies que são menos conhecidas, mas que são importantes também”.
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O professor conta que fora do Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, é muito comum as pessoas investirem em turismo para ir até os lugares observar as libélulas. No Brasil, Leandro Juen aponta que a Estação Ecológica do Cristalino, no Mato Grosso, recebe visitantes do exterior que vão para observar libélulas entre os organismos. Da mesma forma, esse potencial poderia ser aproveitado na Amazônia.
“Hoje, nós precisamos fomentar ou reconhecer o trabalho que as pessoas que vivem nas florestas, as comunidades dos povos originários, extrativistas, as comunidades quilombolas que fazem um papel essencial para conservar a biodiversidade e a Amazônia, para manter as florestas em pé e os rios fluindo. Então, o que a gente pensou foi em observar o conhecimento que eles têm sobre as libélulas e considerar se elas poderiam ser colocadas como uma atividade de ecoturismo de base comunitária”.
Autora principal do estudo, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) do Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Mayerly Alexandra Guerrero-Moreno, passou dois meses na Resex Tapajós-Arapiuns e entrevistou 415 líderes e moradores, indígenas e não indígenas, de 73 comunidades e de aldeias. Foram mais de 260 km percorridos para ouvir os moradores do território sobre as libélulas. E o que se identificou é que a grande maioria deles demonstraram interesse em aproveitar a presença desses insetos no território para fomentar um turismo que garanta a conservação e possibilite uma fonte de renda.
“O que a Mayerly fez, que foi a pesquisadora principal da pesquisa, foi avaliar a percepção desses moradores. Ela entrevistou mais de 400 pessoas que residem na Resex Tapajós-Arapiuns para verificar o interesse deles de utilizarem as libélulas como organismo chave para promover o turismo de base comunitária nessa reserva e mais de 90% de todos entrevistados concordam que as libélulas são importantes e que elas teriam um potencial ecoturístico para a reserva”, explica o orientador da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) do Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), José Max Barbosa Oliveira-Junior.
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“É um potencial para a geração de renda para a comunidade que ainda não é explorado, então, eles podem gerar renda através desse ecoturismo de base comunitária por meio da observação dos bichos, assim como se tem observação de aves, o que é muito comum no Brasil. E automaticamente, para além disso, a gente contribui também para a conscientização e para preservação da biodiversidade”.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Global Ecology and Conservation. Também integram a equipe de cientistas que atuaram no estudo os pesquisadores Miguel Puig-Cabrera e Maria Alexandra Teodósio, ligados à Universidade do Algarve (UAlg), de Portugal.
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