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SEXUALIDADE

Nojinho ou "frescura": por que alguns não curtem sexo oral?

Cheiro, aparência da genitália e má higiene são alguns das desculpas que levam as pessoas a considerarem essa pratica como repulsiva

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Imagem ilustrativa da notícia Nojinho ou "frescura": por que alguns não curtem sexo oral? camera Descubra por que essa prática ainda é vista com restrição por alguns. | Reprodução/ redes sociais

Muitas pessoas já passaram por este problema: ou por não se sentirem a vontade de praticar sexo oral, ou por terem nojo. Algumas tem problemas dentários e de mandíbula e não se sentem confortáveis, outras simplesmente não sentem prazer fazendo sexo oral no parceiro. Características vaginais e penianas, como o cheiro, o gosto, a umidade, pelos e a aparência, acabam sendo os motivos para a recusa por essa pratica.

Normalmente são as mulheres que não gostam de sexo oral mesmo vivendo em um relacionamento sério ou têm parceiro fixo e neste caso se sentem ainda pior, pois há a cobrança masculina. Descubra por que essa prática ainda é vista com restrição por alguns.

O relato do técnico em construção civil João Silva, de 37 anos, ilustra bem uma condição comum à muitas pessoas atualmente: a total aversão pelo sexo oral.

"Uma vez tive uma relação casual com uma mulher muito atraente que conheci pelo Tinder. Logo no primeiro encontro rolou aquela famosa química e acabamos indo para o motel sem pensar duas vezes. Estava tudo tranquilo até chegarmos no quarto. Assim que tiramos a roupa, senti um cheiro bem acentuado saindo da vulva dela e pensei: 'E se ela pedir para eu fazer um oral? O que vou fazer?'. Sugeri então que a gente tomasse um banho para começar a trocar uns beijos nas regiões íntimas. Mas para minha sorte, ela confessou que não gostava desse tipo de carícia lá embaixo. Respirei aliviado".

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Para a terapeuta sexual e mestre e doutorando pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Gianluca L. M. Leme, muitos desses conceitos estão diretamente ligados a tabus do passado.

"Porque o sexo ainda é focado na penetração, como se ela fosse o objetivo da relação e não o prazer", observa a especialista.

"Essa percepção está relacionada a um conceito desenvolvido há século que prega que fazer sexo é algo sujo e vergonhoso. Inclusive, estudos recentes revelam que a falta de higiene de muitos homens é um fator que impede diversas mulheres de explorarem mais o sexo oral", ressalta.

Para a sexóloga e terapeuta de casais Roberta Pessoa a recusa tem haver com a nossa cultura, educação, a mídia e até mesmo pelas pressões social.

"Tem a ver com a nossa cultura e com tudo que se repete há mais de dois milênios: que o prazer sexual é errado. Do ponto de vista da tradição, tirando o sexo vaginal, quase todas as outras práticas são vistas como pecaminosas, sujas e condenáveis", frisa.

Sendo assim, a sensação de ter a boca em contato direto com a vagina ou o pênis – partes associadas à impureza – pode causar desconforto em muita gente.

"É comum que alguns tenham nojo da aparência dos órgãos genitais, dos pelos, da umidade da vulva, e também dos fluidos femininos e masculinos que são liberados durante a prática sexual", afirma a sexóloga. "Muitas mulheres também têm aversão ao cheiro e ao gosto do esperma", complementa ela.

Ela informa ainda que, no geral, as pessoas costumam construir seu repertório sexual de acordo com as variáveis culturais.

"Isso é mais que evidente. Na idade média, por exemplo, o padrão de beleza e os atributos físicos desejados eram completamente diferentes dos que temos hoje. Tudo muda de acordo com as gerações e costumes", reforça a profissional.

Higiene e saúde

Independentemente da higiene, especialistas destacam que o sexo oral pode ser um canal para a transmissão de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como sífilis, gonorreia e herpes.

"Essas doenças podem ser passadas da boca para os genitais, ou vice-versa", alerta Lú Camillo, sexóloga em saúde e educação sexual.

Por isso, esclarece que o preservativo é um elemento imprescindível nessas horas.

"Indico o uso de camisinha sempre, pois pode ser a única forma de nos resguardar quando não temos certeza da saúde dos nossos parceiros", recomenda.

Segundo a profissional, existem no mercado muitas opções de proteção tanto para o público masculino quanto o feminino.

"O homem pode usar o preservativo comum e a mulher o interno, que é cortado e colocado externamente. Para quem quer algo novo, tem também a calcinha de látex que nem precisa ser retirada", informa.

Prazer X obrigação

O consumo da pornografia na sociedade, a prática do sexo oral parece ter virado uma obrigação e isso acaba impactando nas relações.

"Historicamente vivemos um período de transição. Antes, a obrigatoriedade do sexo estava implicitamente ligada ao casamento. Hoje, no entanto, a pressão vem da sociedade como um todo", revela a sexóloga Fernanda Viana.

A chave é encontrar o equilíbrio.

"O empoderamento feminino, o consentimento e a autonomia dos corpos faz com que as pessoas se tornem mais seletivas na escolha de suas parcerias. Isso é um começo positivo", pondera Fernanda.

Porém, o primordial é nunca fazermos o que nos desagrada na hora do sexo, aconselha Gianluca L. M. Leme.

"Você deve sempre se perguntar se o oral ou outra prática sexual te causa algum incômodo. Se a resposta é sim, procure ajuda profissional para descobrir a raíz do que te aflinge", sugere.

Já Fernanda Viana garante que o prazer sexual pode ser encontrado por métodos variados.

"É importante que as pessoas falem do que gostam ou não gostam nas suas intimidades, e que também façam acordos entre si. Se alguém não quer fazer algo, não precisa virar um problema. O diálogo sincero é essencial para minimizar conflitos e encontrar o caminho da satisfação", finaliza.

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