A saúde mental é um assunto que merece atenção em todos os momentos da vida. Quando se trata de grupos minoritários que sofrem preconceitos e discriminações de diversas formas e até crimes como o racismo e a homofobia, o tratamento psicológico deve ser acompanhado com mais cuidados ainda.

Um estudo piloto feito pela Universidade Duke, dos Estados Unidos, denominado "Smile", que se dedica à análise da saúde mental de pessoas identificadas como minorias raciais e de gênero, forneceu as bases para a segunda fase da pesquisa sobre saúde mental que já está em andamento. No Brasil, o estudo é coordenado pela professora Jaqueline Gomes de Jesus, ligada ao Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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Realizado inicialmente em 2017 em seis países (Brasil, Quênia, Vietnã, Índia, Camboja e El Salvador), o projeto-piloto abrangeu 2 mil participantes. Agora, na etapa mais aprofundada, o foco será no Brasil, Quênia e Vietnã, devido ao financiamento aprovado pelo governo norte-americano destinado exclusivamente a essas nações. O objetivo é alcançar a participação de 3,5 mil indivíduos da população LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/travestis e intersexo) em cada um desses países. No Brasil, eles serão convidados a responder a um questionário abrangente.

Em entrevista à Agência Brasil, Jaqueline Gomes de Jesus explicou que essa segunda etapa aprofundará o que foi pesquisado na fase anterior, acrescentando uma "precisão gigantesca" às demandas em saúde mental e às intervenções em nível de políticas públicas.

O questionário abrange questões sobre saúde mental, com foco em ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, autoestima, 'suicidalidade' e apoio social, e leva aproximadamente 15 minutos para ser preenchido. Segundo a professora Jaqueline, esse tempo é necessário para uma avaliação detalhada, fornecendo não apenas um relatório geral sobre o bem-estar da população LGBTI+, mas também prestação de serviços adicionais.

Entre esses serviços está uma lista de entidades às quais a pessoa pode recorrer, caso sinta necessidade. "Se ela tiver alguma indicação de risco de suicídio, pode responder a um documento que a gente chama de planejamento de segurança, autoinstrucional. A pessoa vai avaliar a sua rede de apoio, contatos, com quem ela pode contar, para diminuir os riscos ligados ao suicídio", detalha a professora. Essa orientação não faz parte do questionário em si, mas é uma oferta de serviço adicional para ajudar os participantes em momentos de maior vulnerabilidade.

A importância do estudo pode ser ilustrada pelos dados globais de diferentes pesquisas, que revelam a prevalência de problemas de saúde mental na população LGBTI+. Por exemplo, cerca de 52% dos jovens LGBTI+ já se automutilaram, enquanto esse índice é de 35% para jovens cis héteros. Pessoas trans apresentam taxas mais altas de problemas de saúde mental do que pessoas cisgêneras LGB. Além disso, aproximadamente 44% das pessoas LGBTI+ relataram ter pensado em suicídio, em comparação com 26% dos cis héteros. Os dados também indicam que 92% dos jovens trans tiveram pensamentos suicidas e 84% se automutilaram.

A segunda fase do estudo, com coleta de dados prevista para 2024, visa fornecer informações inéditas com foco no Brasil. Os resultados esperados a partir de 2025 serão cruciais para embasar a elaboração de políticas públicas que atendam às necessidades específicas dessa parcela da população, baseadas em dados científicos robustos. “A pesquisa científica é fundamental para o desenvolvimento de tratamentos em saúde mental voltados para essa comunidade”, enfatiza Jaqueline.

A coleta de dados incluirá abordagens de grupos focais, permitindo a identificação precisa das necessidades de cada grupo em cada país, levando em conta questões culturais que influenciam nas intervenções mais adequadas. A violência contra a população LGBTI+ também será considerada, uma vez que números alarmantes de mortes violentas e suicídios são registrados anualmente. O estudo visa fornecer um panorama abrangente para ajudar a melhorar a saúde mental e o bem-estar dessa comunidade vulnerável.

O Brasil terá um papel importante para a pesquisa. Foto: (Reprodução)

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