O comportamento do consumidor está em transformação. Em um mundo cada vez mais atento aos impactos ambientais, o modelo econômico linear – centrado em produzir, usar e descartar – cede espaço para a economia circular. Neste cenário, microempreendedores encontram nos brechós a chave para atender uma clientela mais exigente e preocupada com a sustentabilidade.
O debate sobre o consumo consciente de peças de vestuário está cada vez mais fortalecido no Brasil. Este movimento aponta para uma reflexão sobre os hábitos de consumo em um mundo já afetado pelos extremos climáticos. Embora seja uma atividade cotidiana, a moda pode carregar um peso ambiental significativo, se mantidos os mesmos modelos lineares de sempre.
A indústria da moda é reconhecida como a segunda mais poluente depois da indústria petrolífera. Para ilustrar o problema, a fabricação de uma única calça jeans demanda o consumo de mais de 3 mil litros de água, conforme um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
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ECONOMIA CIRCULAR
É nesse contexto que a prática de comprar em brechós, alinhada aos princípios da economia circular, ressurge como uma alternativa viável e estilosa. Os brechós se encaixam perfeitamente neste tripé da sustentabilidade. Por meio de um trabalho de curadoria, os brechós possibilitam o acesso a peças em perfeito estado de uso que, de outra forma, poderiam ser descartadas. A opção por uma peça de segunda mão, como uma calça jeans que já existe, economiza recursos que seriam usados na produção de uma nova peça. A partir deste entendimento, a peça mais sustentável é aquela que já existe.
Brechós e o Comportamento do Consumidor
A mudança de comportamento do consumidor criou uma oportunidade de mercado para empreendedores. A advogada e empresária Ana Gibson é um exemplo de quem soube aproveitar esse contexto, criando o Bora Garimpar Belém há cerca de três anos.
A ideia nasceu de uma experiência pessoal. Durante uma viagem, Ana percebeu o quão comum e cotidiano era o consumo de brechós fora do país. Ao retornar a Belém, ela ficou intrigada com a falta de valorização da reutilização de peças de segunda mão.
A ‘virada de chave’ para o sucesso do Bora Garimpar ocorreu com a profissionalização do conceito. A empreendedora começou a montar coleções e looks com peças de segunda mão, utilizando as redes sociais para engajar o público e promover eventos. O primeiro evento do Bora Garimpar reuniu mais de 50 brechós e atraiu cerca de 2 mil pessoas.
O empreendimento se tornou a principal fonte de renda da empreendedora e, recentemente, resultou na criação do primeiro brechó montado em container da cidade, incorporando o conceito da sustentabilidade também à estrutura física da loja.
“A ideia nasceu do nosso desejo de transformar não só o consumo, mas também os espaços onde a moda acontece. Sempre acreditamos que a moda circular precisava ocupar lugares que conversassem com seu propósito — e um container reutilizado representa exatamente isso: ressignificação”, explica Ana Gibson.
“Usar um container é tirar algo da rota do descarte e devolver para a cidade como espaço vivo, criativo e funcional. É uma escolha que reforça a lógica do reaproveitamento, do baixo impacto e do design inteligente. É um símbolo de que é possível criar beleza, propósito e inovação a partir do que já existe”.

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A visão de Ana Gibson sobre o consumo
Ana destaca que estes princípios estão alinhados ao que o consumidor espera, hoje. Para a empreendedora, a mudança no comportamento do consumidor é nítida. “As pessoas estão questionando mais, buscando peças únicas, entendendo impacto, valorizando histórias e propósito, não apenas o ato da compra”, acredita. “Pela nossa experiência, quem escolhe comprar em um brechó hoje normalmente busca economia com qualidade, peças exclusivas, menor impacto ambiental e apoio a mulheres empreendedoras e ao mercado local”.
Ana Gibson também acredita que a consciência ambiental tem crescido e inspirado mais pessoas a verem o brechó como uma escolha inteligente e sustentável.
“A moda é uma das indústrias que mais consomem recursos naturais e geram resíduos. Falar de clima sem falar de moda é ignorar uma parte importante do problema — e também da solução. A moda sustentável traz caminhos reais: reutilização, redução de resíduos, incentivo à economia circular, reparo, troca, upcycling e consumo responsável. Além disso, movimenta comunidades, fortalece pequenos empreendedores e reduz a pressão sobre o planeta”, reflete. “Acredito que a moda deve estar no centro do debate climático porque ela traduz, no cotidiano, escolhas que impactam diretamente o ambiente. E o brechó é uma das formas mais práticas, acessíveis e transformadoras de começar”.
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