Em um momento de forte celebração para a cultura amazônica, o país amanheceu, nesta quarta-feira (26), com o reconhecimento oficial de um dos saberes mais emblemáticos da região. Em meio ao aroma marcante do tucupi, ao vigor do jambu e à tradição secular transmitida de geração em geração, o processo de elaboração do tacacá ganhou destaque nacional ao ser elevado ao status de Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão representa não apenas a valorização de uma comida típica, mas o reconhecimento do trabalho de milhares de mulheres que mantêm vivo um ofício profundamente enraizado na história da Amazônia.
Na terça-feira (25.11), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) oficializou o registro do Ofício das Tacacazeiras da Região Norte no Livro dos Saberes, durante a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O colegiado, ligado ao Ministério do Turismo, destacou o papel fundamental das tacacazeiras na preservação dos conhecimentos ancestrais que sustentam um dos pratos mais simbólicos da culinária amazônica: o tacacá, preparado com tucupi, goma de mandioca, camarão seco, jambu e temperos tradicionais.
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Para o ministro do Turismo, Celso Sabino, o reconhecimento fortalece comunidades tradicionais e impulsiona o turismo gastronômico brasileiro. “O tacacá e todos os demais pratos amazônicos não são apenas alimentos, mas embaixadores da biodiversidade, da história e da força do povo que se orgulha de suas raízes”, afirmou.

O ofício é comum às sete capitais da Região Norte, cada uma com suas particularidades. Em Belém (PA), há registros literários e artísticos sobre as tacacazeiras desde o final do século XIX. O IPHAN lembra que esse trabalho surgiu como alternativa de sobrevivência em períodos de crise econômica, quando mulheres passaram a vender comida nas ruas para sustentar suas famílias.
O pedido de registro começou em 2010, apresentado pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), no contexto de estudos sobre a mandioca no Pará. Em 2024, o processo ganhou novo impulso com uma pesquisa da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), que ouviu mais de 100 tacacazeiras em todos os estados da região. O levantamento mostrou que cerca de 70% das profissionais são mulheres, muitas delas de meia-idade, que aprenderam o ofício com mães, avós ou sogras — e hoje formam as próximas guardiãs dessa tradição.
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Com o reconhecimento, o IPHAN desenvolverá um Plano de Salvaguarda dividido em cinco eixos: gestão e empreendedorismo; acesso a matérias-primas e insumos; melhoria das condições de comercialização; divulgação cultural e gastronômica; e direito à cidade, buscando infraestrutura adequada nos pontos de venda. O objetivo é preservar o saber-fazer e aprimorar as condições de trabalho das tacacazeiras.
A inclusão do tacacá no Livro dos Saberes soma-se a outras práticas culinárias já reconhecidas pelo IPHAN, como o Ofício das Baianas de Acarajé, os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal, o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (AM), as Tradições Doceiras de Pelotas (RS) e a Produção Tradicional de Cajuína no Piauí. Uma conquista que reforça o orgulho da Amazônia e mantém viva a chama de seus sabores ancestrais.
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