
Uma descoberta recente no Parque Estadual do Utinga, em Belém, está reacendendo a memória ferroviária paraense. Voluntários e pesquisadores do Laboratório Virtual da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) localizaram cerca de 6 km de trilhos antigos, que, segundo especialistas, podem ser parte da Estrada de Ferro Belém-Bragança (E.F.B.B.), uma das mais importantes obras de infraestrutura do Brasil republicano.
O achado mais recente foi registrado no dia 22 de março, quando o engenheiro florestal Diego Barros, condutor do Ideflor, identificou um trecho submerso em um igarapé. A estrutura foi apelidada de “cemitério de ferro”, devido ao grande volume de peças preservadas. Após a limpeza feita pela equipe de Barros, foi possível que o Laboratório Virtual iniciasse análises mais detalhadas do material.
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A Estrada de Ferro Belém-Bragança começou a ser construída em 1883, ainda no período imperial, com o objetivo de integrar a capital ao interior do estado e facilitar o transporte de produtos agrícolas, como castanha e cacau. Concluída em 1908, no início da República, a ferrovia chegou a atingir mais de 270 km de extensão, ligando Belém a Bragança.
Durante décadas, os trilhos foram fundamentais para o desenvolvimento econômico e urbano da região, permitindo o escoamento de mercadorias e impulsionando a formação de povoados. Muitos municípios paraenses surgiram ou cresceram ao redor de suas estações. Parte da malha ainda foi aproveitada em linhas de bondes urbanos na capital.
Com a expansão das rodovias e a queda do transporte ferroviário no país ao longo do século XX, a ferrovia entrou em declínio. O último trecho foi desativado em 1965 e a maior parte de sua estrutura acabou abandonada e encoberta pela vegetação ou está submersa pelo rio que corta o parque.
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O desafio do resgate histórico
As buscas atuais concentram-se em rastrear elementos da malha Decauville, construída originalmente em bitola de 0,60 m e que se estendia por cerca de 6 km. A procura, entretanto, é dificultada pelo furto de materiais metálicos ao longo dos anos, destinados à venda em ferros-velhos. Por isso, muitas expedições se aventuram em áreas remotas da mata, em que a própria presença de animais peçonhentos afasta possíveis catadores.
Entre os registros recentes, havia ainda a menção a uma ponte de ferro, mas análises preliminares indicam que a estrutura não chegou a ser usada para o tráfego de trens, e sim como apoio para o transporte de maquinário pesado da construtora Byington, responsável por trechos da obra.
Futuro da memória ferroviária
Para historiadores, a redescoberta desses trilhos abre espaço para novas pesquisas sobre a urbanização e a economia amazônica no início do século XX. A expectativa é de que o governo do estado, em parceria com instituições acadêmicas, possa aprofundar os estudos sobre os achados e, eventualmente, restaurar trechos da antiga ferrovia para visitação.
Enquanto isso, moradores e voluntários seguem mapeando áreas do parque em busca de novos vestígios da Estrada de Ferro Belém-Bragança, mantendo viva a memória de um período em que os trilhos foram protagonistas do desenvolvimento paraense.
Antiga locomotiva da Estrada de Ferro de Bragança cortando o cruzamento da Av. Tito Franco (Alm. Barroso) com Tv. Vileta, em 1957. A casa branca, desenhada pelo arquiteto Camilo Porto de Oliveira, ainda se encontra do mesmo jeito. 🚂 pic.twitter.com/sxXCjAZN0Q
— Heber Gueiros (@hebergueiros) April 1, 2021
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