
Durante três dias, um ferry-boat do Exército Brasileiro se transformou em uma clínica itinerante, aportando em uma comunidade ribeirinha de Abaetetuba, a ilha Anequara, na região do Baixo Tocantins, para levar serviços de saúde, assistência social e regularização militar a quem vive em áreas de difícil acesso.
O Comando Militar do Norte (CMN) realizou a Ação Cívico-Social (ACISO) fluvial, encerrada na quinta-feira (21), que beneficiou as pessoas com consultas médicas, exames, vacinação, odontologia, distribuição de medicamentos e emissão de documentos.
A iniciativa foi coordenada pelo Comando da 8ª Região Militar, em parceria com a Prefeitura de Abaetetuba e o Hospital Geral de Belém (HGB). Mais de 100 militares participaram voluntariamente da ação. Equipes também realizaram testes rápidos, coleta de preventivo, atualização vacinal e orientações de saúde. Jovens também puderam regularizar o alistamento militar diretamente no local.
O general de Exército José Ricardo Vendramin, Comandante Militar do Norte, lembrou que a ação faz parte das comemorações pelo Dia do Soldado, celebrado nesta segunda-feira, 25, mas as homenagens ocorreram na própria quinta-feira (21).
“Essas comunidades ribeirinhas são as mesmas de onde vêm nossos soldados, sargentos e oficiais. Então, prestar esse apoio é motivo de honra e satisfação. Estimamos bem mais de 3.500 atendimentos apenas para os próprios moradores da comunidade de Anequara, em três dias de ação”, afirmou. O objetivo era de, ao todo, 3 mil atendimentos, que foi ultrapassado.
Segundo o general, a escolha de Abaetetuba teve caráter estratégico e simbólico, já que o município fez aniversário recentemente. “O município completa 130 anos, tem quase 200 mil habitantes, metade deles vivendo em ilhas de difícil acesso. Nossos meios fluviais, consultórios portáteis e equipamentos móveis foram fundamentais para chegar até aqui. Vamos repetir essa ação em 2026, trazendo ainda mais especialistas e equipamentos”, destacou.

Conteúdos relacionados
- FAB leva 50 mil atendimentos a comunidades no Pará
- Ribeirinhos vão receber serviços de saúde gratuitos
O coronel Rogério Mergulhão, responsável pela área da saúde na operação, através do HGB, destacou o impacto da ação na vida da população ribeirinha e quilombola. “A odontologia, em especial, superou as expectativas: prevíamos 40 atendimentos por dia, mas chegamos a 80. A população tem muita dificuldade de acesso a um dentista particular. Uma obturação chega a custar R$200, sem contar o deslocamento de voadeira até a cidade. Aqui, eles conseguiram o atendimento perto de casa”.
Segundo o coronel, a parceria com a prefeitura vai garantir continuidade aos casos mais complexos. Destes, alguns procedimentos foram encaminhados para cirurgias em Abaetetuba, principalmente na área de ginecologia. “Tivemos, por exemplo, pacientes que necessitam de histerectomia ou de tratamento para incontinência urinária. Houve também casos de emergência, como cólica renal”.
Saindo da ilha de Mariquara, cerca de 5 minutos, Joyselma Góes, de 23 anos, dona de casa, levou os filhos Josilene, de 5 anos, e Rubens, de 2, e aproveitou a ação para esclarecer uma preocupação antiga.
“Eu fiquei agoniada com a cabeça do meu filho, achei que estava crescendo estranho. Não é toda hora que a gente consegue médico, ainda mais pra criança. A gente fica agoniada sem saber se é algo grave. Quando soube que eles vinham aqui, vim logo. Graças a Deus, o doutor me explicou e passou remédio”, contou aliviada.
O movimento mais intenso foi na pediatria e na odontologia. Segundo o tenente Orlando Fonseca Neto, médico generalista que atuou na área da pediatria, muitos diagnósticos revelaram situações que poderiam ter sido identificadas antes.

“A consulta é muito importante para monitorar crescimento, ganho de peso e desenvolvimento neuropsicológico. Aqui tivemos casos de atraso de fala e suspeita de transtorno do espectro autista ou déficit de atenção; que acabam sendo retardados, e eles são comuns. Encaminhamos para que continuem o atendimento pelo SUS”, explicou.
Moradora da ilha de Sapucajuba, a cerca de dez minutos dali, a pescadora Maria Olinda da Silva, de 54 anos, atravessou de barco para buscar ajuda para dores crônicas. “Eu tenho problema de coluna e de coração. Já fiz cirurgia, mas ainda sinto muita dor. Vim aproveitar essa chance porque ir ao médico nem sempre é fácil. Gostei muito do atendimento, ele pediu exames para eu trazer depois”, disse, enquanto aguardava a vez para as consultas dos netos.
Moradora da própria comunidade, Josiane da Silva, 19 anos, viveu um momento especial durante a ação: levou o filho Benjamin, de apenas 3 meses, para a primeira consulta médica da vida dele. “Foi passado uma pomada para ele, porque deu tipo uma micosezinha nos bracinhos, uma alergia que ele teve. Eu fiquei muito feliz, porque era a primeira vez que ele veio no médico”, compartilhou.

A coronel Mônica Xavier, que coordenou parte da mobilização, apresentou números que dão a dimensão da ação: “tivemos quatro médicos [apenas do Exército] atuando diariamente, além da odontologia, farmácia, psicossocial e vacinação. Em apenas um dia, aplicamos 55 doses de vacinas; na odontologia, no dia 19, foram feitos 63 atendimentos e 120 procedimentos; e no dia 20, 80 atendimentos e 160 procedimentos; atendemos 151 pessoas em consultas médicas e 170 em psicossocial. A farmácia, por sua vez, chegou a entregar mais de 1.500 medicamentos. Além disso, 63 crianças participaram do escovódromo”, detalhou.
Segundo a prefeita de Abaetetuba, Francineti Carvalho, o município tem três realidades: urbano, rural e ribeirinha; no último caso, algumas comunidades possuem suas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – para as que não tem, há a UBS fluvial. A parceria com o Exército funcionou de forma parecida, mas com maximização de atendimentos. “É importantíssima não apenas pelos atendimentos de saúde, que já são fundamentais, mas também trazemos uma inspiração para nossas crianças e jovens: o exemplo do Exército, que mostra amor à pátria e à Amazônia. Essa é uma forma maravilhosa de comemorar os 130 anos do município, oferecendo dignidade ao povo”, disse.
Para saber mais, acesse a edição eletrônica do jornal Diário do Pará
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar