
Levantamento realizado pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa CIN), revela que o principal destino do açaí paraense são os Estados Unidos, com uma participação de 75,40% nas exportações do produto no período de janeiro a junho de 2025, o que corresponde a U$ 43.651.848 e um crescimento de 59,34% em relação ao mesmo período de 2024.
A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma taxação de 50% sobre determinados produtos afetará diretamente a cadeia produtiva do açaí, que é uma das principais expressões da bioeconomia paraense. O açaí ficou de fora da lista anunciada pelo governo americano na quarta-feira e será taxado em 50%, fazendo com que o fruto importado se torne artigo de luxo no país norte-americano.
O aumento da taxação deixa os produtos brasileiros no mercado norte-americano mais caros e reduz significativamente o volume de exportações, atingindo diretamente a cadeia do açaí. Com a redução de exportações, a expectativa é que cerca de 300 mil trabalhadores sejam impactados no estado, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA).
“O açaí do Pará, responsável por cerca de 90% da produção nacional, nasce de uma cadeia que envolve milhares de famílias ribeirinhas, pequenos produtores, batedores e indústrias”, destaca Denise Acosta, presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas).
A cadeia produtiva do açaí é uma atividade que gera emprego, renda e inclusão social em diversas regiões do estado. No entanto, ao impor uma taxação tão elevada, há o risco real de inviabilizar a exportação por parte de muitas empresas que hoje atuam nesse mercado. “Isso compromete não apenas a inserção internacional do produto, mas também pode causar desequilíbrios no mercado interno, tanto no Pará quanto em outros estados que consomem o açaí paraense”, ressalta Denise.
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Para a presidente do Sindfrutas é fundamental que esse tema seja tratado com atenção pelas autoridades brasileiras, considerando a importância do setor para a economia da região Norte e para a sustentabilidade da Amazônia. “Medidas de articulação diplomática e de apoio aos produtores são urgentes para evitar prejuízos a uma cadeia que simboliza o potencial econômico da floresta em pé”.
Depois dos Estados Unidos, os principais destinos do açaí produzido no Pará são o Japão e a Austrália. O Japão aparece em segundo lugar, com importações que somaram US$ 9.947.220 entre janeiro e junho de 2025, o que representa uma participação de 17,18% nas exportações totais do produto e um expressivo crescimento de 431,17% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na sequência, está a Austrália, com um volume importado de US$ 9.655.947, participação de 16,68% e aumento de 26,73% na comparação com 2024.
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De janeiro a junho, o Pará exportou US$ 32.119.015 de açaí na categoria “sucos (sumo) de outras frutas, não fermentado, sem adição de açúcar”, o que equivale a 55,48% da demanda enviada ao mercado internacional do produto. O segmento de “outras frutas, partes de plantas, preparadas/conservadas de outro modo” alcançou U$ 17.850.095, o que representa uma participação de 30,83% nas exportações.
Setor de pescados está entre os mais prejudicados
O Pará vai ser um dos estados brasileiros mais prejudicados com as tarifas de exportação aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que atendeu a um pedido do deputado brasileiro, Eduardo Bolsonaro (PL).
Entre os itens com mais embarques aos norte-americanos estão os pescados. O Pará se mantém como o maior exportador de peixes do Brasil, com uma participação de 25,30% no total nacional, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Pará.
O impacto do “tarifaço” no setor pesqueiro do Pará é significativo, especialmente para a exportação de pargo, que é a principal espécie enviada para os Estados Unidos. As exportações de pargo do Pará para os EUA representam uma parcela significativa da produção, com o estado sendo responsável por 87% da produção nacional, segundo a Oceana Brasil, organização internacional focada exclusivamente nos oceanos.
No primeiro semestre de 2025, a exportação alcançou 2.300 toneladas e US$ 15 milhões em receitas - valor que poderia ser superado no segundo semestre com a entrada da temporada de pesca do pargo, iniciada em maio.
MERCADO
Dados da Fiepa mostram que o setor pesqueiro é crucial para a economia estadual e compõe a maior parte das exportações , que totalizaram 69,04 milhões de dólares em 2024, com um volume de 8.375 toneladas.
Atualmente o mercado norte-americano representa 70% das exportações brasileiras de pescados e mais de US$ 240 milhões de dólares, O setor emprega, em nível nacional, mais de 20 mil pescadores artesanais, 5 mil pequenos piscicultores e 4.500 trabalhadores nas indústrias de processamento, envolvendo empregos diretos e indiretos, inclusive afetando pescadores artesanais e a aquicultura familiar.
A decisão do governo americano de aumentar as tarifas de importação em 50% sobre produtos brasileiros atingiu em cheio o setor, que já vê contratos suspensos e embarcações paradas. Essa situação pode levar a demissões e perdas financeiras consideráveis para a indústria pesqueira paraense.
De acordo com Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, o impacto é particularmente preocupante porque 70% das exportações do setor são destinadas ao mercado americano. A situação é agravada pela falta de alternativas comerciais, já que desde 2017 o Brasil enfrenta um embargo nas exportações de pescados para a União Europeia. A Abipesca defende a abertura do mercado europeu como alternativa às exportações de pescados.
“Se nós tivermos uma tarifa de 50% praticamente inviabiliza essa exportação. Desses 97%, cai a zero a exportação para os EUA. Então, o impacto é gigantesco. Também é uma cadeia que os produtores são, na sua maioria, integrados a grandes cooperativas, que já estão reduzindo os seus abates diários”, revelou o representante da Associação Brasileira da Indústria de Pescados.
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