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Um ano depois, PSM de Ananindeua ainda é “potoca”

Mesmo o prefeito Daniel Santos “montando” cenário nas redes sociais, a realidade é que o atendimento está aquém e o espaço permanece vazio

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Imagem ilustrativa da notícia Um ano depois, PSM de Ananindeua ainda é “potoca” camera Enquanto o prefeito faz bravata na internet, O PSM de Ananindeua permanece vazio | ​Antônio Melo/Diário do Pará

A informação é do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos: em 1 ano de funcionamento, o Pronto Socorro Municipal daquela cidade (PSMA) realizou apenas mil cirurgias, o que dá, em média, apenas 3 por dia. E isso apesar da previsão inicial de 2.250 internações por mês, para os seus 75 leitos, 10 deles de UTI. É uma subutilização chocante, dada a superlotação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e à longa e dolorosa espera por uma cirurgia, em Ananindeua.

Só para se ter ideia: a cidade possui quase 508 mil habitantes. Em Macapá, capital do estado do Amapá, são 487 mil habitantes. Mas, no ano passado, o Hospital de Emergências de Macapá realizou mais de 6 mil cirurgias. Praticamente a mesma quantidade (5.752) do Pronto Socorro de Itaúna, cidade de 103 mil habitantes, no estado de Minas Gerais.

A subutilização explica o fato de o PSMA já ser apontado pela população como um “hospital fantasma”. É que quase sempre aparenta estar fechado e não possui a movimentação típica de um pronto socorro: ambulâncias, pacientes e funcionários entrando e saindo o dia inteiro.

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A subutilização estaria sendo causada por uma possível irregularidade: são vários os relatos de que o PSMA não estaria funcionando como uma unidade de “portas abertas”, ou seja, para atender todas as urgências e emergências que aparecerem. Em vez disso, estaria sendo usado como se fosse um hospital de retaguarda: lá só se consegue entrar através do encaminhamento por uma UPA.

A baixa quantidade de cirurgias foi divulgada por Daniel Santos em seu Instagram, em tom comemorativo, no último 4 de julho, quando o PSMA completou 1 ano de inauguração. Segundo o prefeito, o hospital salvou “milhares” de vidas. Mas quando foi inaugurado, às vésperas das eleições do ano passado, a expectativa anunciada pela própria Prefeitura era de que registrasse 2.250 internações mensais, ou 27 mil por ano. Talvez por isso, nem o prefeito nem a Prefeitura divulgaram quantas internações e atendimentos o hospital realmente já realizou.

SERVIÇOS

No entanto, no último 30 de março, o DIÁRIO mostrou que o PSMA havia realizado, até então, 79 internações mensais, ou menos de 3 por dia, segundo informações dos sistemas do Ministério da Saúde, o que é compatível com a quantidade de cirurgias anunciada agora pelo prefeito. Além disso, novas informações dos mesmos sistemas apontam que, até maio deste ano, o PSMA havia realizado apenas 1.652 serviços ambulatoriais (média de 165 mensais) e 896 atendimentos hospitalares. Ou seja, internações para cirurgias e tratamentos clínicos.

Em março deste ano, o vereador Flávio Nobre (MDB) conseguiu entrar no PSMA e mostrou a fantasmagoria que a população intui: dezenas de leitos hospitalares vazios. Quartos e corredores sem viva alma: nem médicos, nem enfermeiros, pacientes ou faxineiros. Nenhuma ambulância trazendo pacientes. No total, apenas quatro pessoas internadas. “Estou abismado com a falta de respeito ao dinheiro público. Porque são mais de R$ 20 milhões investidos somente na aquisição e reforma desse prédio, fora os equipamentos”, disse ele.

A filmagem comprovou o que muitos suspeitavam: apesar do prefeito jurar que o PSMA está em pleno funcionamento, aquele hospital quase não atende ninguém. Confirmação que veio novamente agora com o número de cirurgias citado pelo próprio Daniel Santos, as novas informações oriundas dos sistemas do Ministérios da Saúde e as reportagens realizadas, nesta semana, pela TV RBA.

Na manhã do último dia 20, o repórter Paulo Cidadão passou uma hora, em frente ao PSMA, com a câmera ligada. “Mas ninguém, absolutamente ninguém, veio aqui, para buscar atendimento”, relatou. Como sempre, as portas da frente estavam trancadas. E ele bateu no portão de ferro, que fica na lateral do prédio.

Um funcionário disse que a diretora do hospital não se encontrava, apesar de já serem 10h30. O repórter quis saber se o PSMA estava aberto e se qualquer pessoa que chegasse seria atendida. Mas o funcionário se irritou por estar sendo filmado.

Disse que não permitia que fizessem imagens dele. Depois, passou a filmar o repórter com o celular e até ameaçou processá-lo. No entanto, moradores das proximidades confirmaram que o hospital está sempre fechado. “Se eu precisar de uma urgência, um socorro, não sou atendido”, disse um senhor. Segundo ele, também não se vê qualquer movimentação naquele hospital, nem mesmo de médicos e enfermeiros.

A reportagem também irritou o prefeito, que divulgou um vídeo, em seu Instagram, afirmando que o PSMA está funcionando normalmente e que a subutilização do local não passa de fake news da RBA. Mas, no dia 24, o repórter Paulo Cidadão voltou ao pronto socorro e encontrou a situação exatamente igual: portas fechadas e nenhuma movimentação.

Para acabar com a discussão, Paulo lançou um desafio à população, uma espécie de VAR: se você estiver passando mal, tente ser atendido no PSMA. E caso lhe neguem atendimento, grave tudo em vídeo e mande para o zap 98407-1616, da TV RBA.

Em outra reportagem, a RBA entrevistou a vereadora Pâmela Wayne (MDB), que passou três horas em frente ao PSMA, mas também não constatou nenhuma movimentação, o que a deixou revoltada. “As UPAs estão todas sobrecarregadas, lotadas. Não têm atendimento, médico, remédio. Como é que pode um hospital desses, que custou mais de R$ 20 milhões, que poderia estar salvando vidas, atendendo pessoas com dignidade, estar parado assim?”, protestou.

Da mesma forma que a vereadora, a repórter também constatou que as portas do hospital estavam fechadas. E chamou atenção para um adesivo, na porta do PSMA, indicando que ele recebe dinheiro do SUS, embora praticamente não funcione.

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E esse é outro fato instigante. Segundo o InvestSus, sistema de consulta online aos repasses do SUS, a Prefeitura de Ananindeua recebeu do SUS mais de R$ 1,1 bilhão (líquido), de 2021 a 2025. Desse total, quase R$ 614 milhões foram para o atendimento de média e alta complexidade, ambulatorial e hospitalar.

Mas, no ano passado, o orçamento da Prefeitura destinou menos de R$ 1,7 milhão para a manutenção do PSMA. Neste ano, serão cerca de R$ 3,5 milhões, para o ano inteiro, o que dá menos de R$ 300 mil por mês. É menos da metade do que recebia do SUS, por exemplo, o Hospital Anita Gerosa (cerca de R$ 700 mil mensais), que atendia 1.000 pacientes e realizava 200 partos por mês.

Essa escassez de verbas para o PSMA levanta pelo menos três perguntas. A primeira é qual o motivo de uma verba tão reduzida, para um hospital público desse porte. A segunda é se mesmo essa verba reduzida é compatível com a baixa quantidade de atendimentos registrados lá. A terceira é para onde, afinal, está indo toda essa montanha de dinheiro do SUS, já que unidades públicas de saúde recebem valores tão reduzidos e até hospitais privados estão fechando as portas, naquela cidade, devido aos calotes do prefeito.

VÍDEO

PROPAGANDA

  • No vídeo que produziu para tentar desmentir a RBA, o prefeito Daniel Santos, que é médico, deu uma aula de tudo o que não se deve fazer em um hospital. Além disso, as imagens que divulgou também acabaram corroborando as denúncias da RBA.
  • Na sala de espera do PSMA, vê-se não mais do que meia dúzia de pessoas. Além disso, também só se vê um paciente transportado em uma maca. “Coincidentemente”, em um corredor no qual o prefeito e sua equipe se colocaram, para gravar o vídeo.
  • Mas o que mais chama atenção são os absurdos médicos cometidos pelo “Dr Daniel”. Em um local, que parece ser uma UTI, ele incomoda uma paciente, que acabara de ser operada, apenas para perguntar: “Tá sonolenta ainda? Tá tudo bem?”
  • Pior: ao contrário da enfermeira que se encontra no local, o “Dr. Daniel” está sem máscara, sem touca e com a mesma roupa usada na rua: camiseta, tênis e calça jeans. Além disso, aparentemente sem lavar as mãos, ainda ficou esfregando os braços daquela paciente recém-operada.
  • Situação semelhante ocorreu nas demais áreas do PSMA que ele visitou com a sua equipe de filmagem. A equipe, possivelmente, também sem qualquer cuidado mínimo para um ambiente hospitalar. Mas tudo em nome da propaganda, não é?
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