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Cresce o número de universitários acima de 40 anos no Brasil

Segundo o MEC, o número de universitários acima dessa idade mais que triplicou em 10 anos, mostrando que são capazes de vencer todos os desafios pessoais e profissionais para realizar esse sonho

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Imagem ilustrativa da notícia Cresce o número de universitários acima de 40 anos no Brasil camera Grupo de amigas que encontrou na educação uma nova oportunidade para recomeçar. | Divulgação

Em um período de apenas 10 anos, o número de universitários com mais de 40 anos nas universidades brasileiras quase triplicou, segundo apontou o Censo da Educação Superior do Ministério da Educação de 2022. Entre os motivos que levam as pessoas acima dessa idade a ingressarem no ensino superior, estão histórias que envolvem a vontade de mudar a trajetória profissional, fazer uma segunda graduação, ou mesmo realizar o sonho de concluir um curso.

Foi por meio da iniciativa de acompanhar a filha que faria a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela primeira vez, que a servidora pública Ana Isadora Souza Almeida, 41 anos, acabou se tornando acadêmica do curso de pedagogia da Universidade do Estado do Pará (Uepa) Campus Vigia. Ainda que o desdobramento não tenha sido planejado, tudo contribuiu para que ela realizasse o desejo antigo de retornar aos bancos da universidade.

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“Eu cursei turismo e me formei muito cedo. Na época não existia o Enem, era o vestibular tradicional e as universidades públicas eram sempre muito concorridas e eu vindo do ensino público era um pouco mais difícil”, recorda. “Fiz o curso e logo depois que concluí eu fiz um concurso público para Vigia na área de turismo e fui aprovada. Daí, então, eu entrei na minha vida profissional, mas a minha vontade e meu sonho sempre era entrar na área da educação. Isso ficou para um plano futuro”.

Já trabalhando como servidora do Museu Municipal de Vigia, a vida de Ana Isadora foi se desenvolvendo e a vontade de cursar pedagogia acabou adiada. Até que, com o tempo, ela percebesse a necessidade de aprofundar os seus conhecimentos e de se atualizar. “Eu engravidei, formei uma família e com toda essa responsabilidade que fica a gente vai adiando os sonhos. Eu ainda tentei fazer outro curso em 2017 para 2018, porém, em 2019 eu engravidei de novo e eu tive que parar”, lembra. “A gente sabe que o mercado, hoje, te exige muito e eu sentia falta de estar mais atualizada com tudo que vem acontecendo no mundo da Educação porque no museu a gente trabalha com a educação patrimonial. Então, eu me encorajei. Eu fui fazer o Enem, passei e, então, eu comecei essa nova carreira acadêmica”.

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Quando já estava cursando pedagogia, curso no qual ingressou em 2022, Ana Isadora recebeu uma notícia que a fez se interessar ainda mais pelo curso e persistir mesmo diante das dificuldades naturais da vida adulta, as demandas do trabalho, o cuidado com os filhos e a família. “Eu tinha acabado de ter um bebê, ele estava com dois anos, e logo depois que eu comecei o curso eu descobri que o meu filho é autista. Eu sou mãe atípica e Deus me encaminhou por uma trajetória que eu pudesse também entrar nessa formação não só por uma questão financeira, mas também pela questão do acompanhamento especializado do meu filho”, avalia. “Hoje a pedagogia, para mim, não está só no sentido da educação, mas também de um acompanhamento mais especializado não só para o meu filho, mas para as crianças que precisam dessa linha de formação”.

Compartilhando o mesmo curso, a também acadêmica de pedagogia da Uepa Campus de Vigia, Edeoniza do Socorro Rocha do Mar, 48, também encara o acesso ao ensino superior como um sonho que ela precisou aguardar o momento certo de concretizar. “É a minha primeira graduação. Eu passei um bom tempo fora da escola. Eu concluí meu ensino médio em 1996. Como as oportunidades de ingresso nas universidades eram uma realidade bem longe da minha, devido a situação financeira dos meus pais e eu sou a segunda de oito filhos, então, se eu fosse para a capital estudar, os meus irmãos iriam ficar sem nada porque a minha mãe ganhava apenas um salário-mínimo -, então eu tive que deixar esse sonho para trás”.

Foi neste período que Edeoniza começou a trabalhar e viu o sonho de cursar uma faculdade, especialmente o curso de Serviço Social, ficar cada vez mais longe. Mas as experiências que ela foi tendo ao longo da vida acabaram lhe mostrando uma identificação com a área da educação e, anos mais tarde, foi exatamente nesta área que ela acabou iniciando a graduação. “Eu já trabalhava, depois veio o casamento, as filhas e a minha dedicação já foi para a minha família e para a vida profissional como recepcionista de hospital. Mas os cursos que me despertavam interesse eu sempre fazia”, lembra. “Em uma época os padres que regiam a Paróquia começaram um trabalho social de resgate das crianças que não conseguiam acompanhar os professores na sala de aula. E eu fui servir de voluntária nesse projeto e em seguida a prefeitura me contratou como monitora de reforço escolar”.

Vendo a dedicação da irmã e as dificuldades enfrentadas no seu trabalho no hospital durante a Pandemia da Covid-19, uma irmã de Edeoniza resolveu inscrevê-la no Enem e, depois, no curso de pedagogia na Uepa. Ela acabou aprovada não apenas na Uepa, mas também em outras três universidades. “Em 2021 a minha irmã me inscreveu no Enem no último dia. Eu fui fazer a prova sem perspectiva nenhuma e depois ela acabou me inscrevendo na Uepa sem eu saber. Ela me inscreveu em pedagogia, mas disse que ainda dava tempo de eu trocar o curso, mas eu não troquei. Fui fazer a prova sem perspectiva porque eu não tinha me preparado, mas para a minha surpresa eu fui aprovada graças à minha irmã, eu agradeço muito a ela por ser a pessoa que me incentivou”, recorda.

Com a vida toda estruturada em Vigia, Edeoniza optou pelo curso de pedagogia – apesar de não descartar o sonho de cursar também serviço social no futuro – e o resultado foi que a universitária se encantou. Mas, além das características do curso em si, ela atribui isso ao acolhimento recebido dos colegas de faculdade. “Hoje estou com 48 anos e eu só tive essa possibilidade de me sentir à vontade porque eu fui muito bem acolhida pela minha turma”, relaciona. “Nós formamos um grupo de 5 amigas que está junto desde o início do curso e elas têm idade para serem minhas filhas, duas têm a mesma idade da minha filha mais velha e nós temos um bom relacionamento, a gente se ajuda, então isso também é muito importante”.

Conhecendo bem os desafios de conciliar uma graduação com o trabalho, a maternidade e os cuidados com a casa, a também aluna do curso de pedagogia da Uepa em Vigia, Cleudes Mendonça, também destaca a relação com os colegas de curso. “Já tive outra oportunidade de fazer uma outra graduação, mas por problemas pessoais não consegui concluir. Hoje me sinto satisfeita fazendo uma graduação, apesar das dificuldades que enfrento por causa do trabalho e também o trabalho de casa, filhos etc..”, considera. “É uma experiência desafiadora, mas a relação com os colegas é bem legal, consigo me relacionar com todos e a troca de experiências é importante e contribui para a minha formação. Eu tenho planos de atuar na área que estou e seguir a carreira de professor”.

Quem também faz planos é a acadêmica de Terapia Ocupacional da Uepa Campus Marabá, Simone Neves, 51. Para ela, a possibilidade de ingressar no ensino superior também é um sonho que vem se realizando. “Eu sempre gostei de estudar, terminei o ensino médio, na época curso técnico em contabilidade, com 17 anos, e nutria o sonho do ensino superior”, lembra. “Naquela época em Marabá, em 1989, só tinham universidades públicas nas capitais e nem particulares tinha. Na época, eu tinha condições financeiras de cursar fora, mas preferi não sair da minha cidade por motivos pessoais”.

Na época, Simone ainda chegou a prestar vestibular para algumas universidades, mas não conseguiu aprovação. Foi quando ela decidiu se dedicar ao trabalho e em seguida veio o casamento e os filhos. “Em 2020 passei no concurso público municipal, mas não ter o ensino superior limita muito você crescer profissionalmente e financeiramente. Eu morava no mesmo bairro onde fica a Uepa (em Marabá) e era meu caminho de casa sempre. Eu passava na frente e olhava o prédio da Uepa e dizia nos meus pensamentos com Deus que eu queria estudar naquelas salas com central de ar. Eu me imaginava muito lá dentro, estudando”, recorda.

Com dois anos de curso, Simone se apaixonou pela profissão de terapeuta ocupacional e segue a sua trajetória acadêmica certa da escolha que fez. “Já dentro da universidade eu passei, e ainda passo, muitos perrengues até me habituar com os conceitos novos. Tive muita dificuldade. Estar numa sala de discentes com a cabeça fresquinha sem muitas preocupações ou com outras graduações não é fácil, mas tenho lutado para superar”, conta. “O fato de não ter tido nível superior na minha vida me limitou muito. O nível superior é muito importante pra todos! E sou grata a Deus por mim e pelas demais pessoas que podem ter acesso ao conhecimento através dessa oportunidade na Uepa”.

Aluno do curso de educação física da Uepa, em Belém, Durban Guedes, 44, sempre teve uma ligação muito forte com o esporte. Jogou basquete desde os 8 anos de idade na escola e a oportunidade de cursar uma área ligada ao esporte veio a partir do apoio que ele e a esposa buscavam dar à filha do casal. “A minha filha, que hoje tem 18 anos, foi fazer a prova do Enem como treineira em 2022 pela primeira vez, então, eu e minha mulher resolvemos fazer companhia a ela e nos inscrevemos no Enem também. E para minha surpresa, acabou que conseguimos entrar. Ela entrou em Letras - Língua Portuguesa e eu em Licenciatura Plena em Educação Física”, recorda. “E a pandemia me ajudou a conseguir conciliar o trabalho com o curso, pois desde a pandemia consegui adequar meu trabalho para Home Office. E desde então tenho conseguido levar desse jeito”.

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