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DESCASO

Obra na Feira da Terra Firme vira pesadelo

Trabalhos começaram em julho de 2022 e tinham previsão de término em setembro de 2023, mas estão se arrastando desde então. Pior para quem depende do espaço e tem de se virar em uma feira provisória

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Imagem ilustrativa da notícia Obra na Feira da Terra Firme vira pesadelo camera Queixas são frequentes, principalmente em relação à queda das vendas e fuga de clientes | Diário do Pará

Há mais de dois anos, comerciantes do Mercado Municipal da Terra Firme, em Belém, aguardam ansiosos pela entrega da reforma do local. As obras, iniciadas em julho de 2022, tinham previsão de término em setembro de 2023, mas o prazo foi prorrogado sem atualização oficial. Enquanto isso, os trabalhadores se encontram instalados em uma feira provisória na avenida Celso Malcher, onde enfrentam condições insalubres e infraestrutura precária, afetando tanto a qualidade dos produtos quanto o volume de vendas.

O DIÁRIO esteve recentemente no local. No espaço improvisado, as queixas são frequentes entre os permissionários e vendedores da região. As dificuldades são visíveis. Além da avenida em péssimas condições para transitar, os vendedores reclamam das instalações improvisadas e da falta de condições básicas, como água corrente e segurança.

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Para Eugênio Silva, de 51 anos, vendedor de peixes há 25 anos na feira, além de enfrentar queda nas vendas, teve que investir recursos próprios para tornar o espaço minimamente utilizável. “Isso aqui está ficando maior imundice. Tem muito urubu e rato, e a gente trabalha com alimentação. Fica ruim nessas condiçõe”, relata. “Já era pra entregar isso há muito tempo. A última data que deram era para setembro de 2023. Até agora nada”, comenta sobre a última atualização que tiveram, do ano passado. Para conseguir continuar, Eugênio segue atendendo sozinho a clientela, dispensando o ajudante que anteriormente tinha.

Antônio Martins, 64, outro vendedor de peixes e morador da área, compartilha as mesmas dificuldades e vê com preocupação o futuro do mercado. Ele calcula, também, que as vendas caíram mais de 50% desde que a obra começou. “Tem que se virar nos trinta, porque não é fácil não. Ainda conto com a ajuda de um filho, senão seria difícil manter tudo”, declara. Para ele, enquanto permissionário, a feira temporária não oferece estrutura mínima para vender produtos frescos.

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O sentimento de frustração e revolta também é compartilhado por Francisco Perote, de 65 anos, que há 30 anos vende lanches e comidas no local. Ele denuncia que o descaso é total e que muitos trabalhadores tiveram que arcar com reformas e consertos necessários. “Vieram fazer isso aqui [local provisório] e disseram para nós que iriam fazer uma parte de ferro. Não foi concretizado isso. Entregaram só a armação, e ‘o resto é com vocês’. Eu gastei R$1.900 com piso e porta”, compartilha. “Fora que aqui falta água e a gente precisa pressionar os trabalhadores da obra para religar, eles liberam um pouco e depois para o abastecimento”, acrescenta.

A autônoma Iracir Mourão, 49, que trabalha com carnes há cerca de 20 anos, não é permissionária, mas como vendedora local, foi diretamente impactada pela transferência das atividades para a feira provisória. Ela destaca que a falta de transporte público e a distância do local reformado afastaram os clientes habituais da avenida.

“Muita gente vinha de outros bairros, mas agora fica difícil. Quem vinha de ônibus acabou deixando de vir. Minhas vendas caíram e isso complica muito, porque tiro 50% da minha renda daqui para ajudar nas despesas da minha casa. Me sinto lesada porque esse mercado já deveria estar pronto, e essa demora afeta todos nós. É o nosso sustento”, pontua.

SEURB

Nota

l De acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), as obras de revitalização do Mercado da Terra Firme têm entrega estimada até dezembro deste ano. Inicialmente orçada em R$3.119.683,35 para realocar 102 permissionários e 184 auxiliares, atualmente conta, conforme a secretaria, com um investimento de R$7,15 milhões.

l “Todo o processo de revitalização dos Mercados, Feiras e Complexos foi decidido em audiências públicas abertas e acompanhado pelos feirantes, moradores dos bairros envolvidos e população em geral, que puderam opinar no projeto e na alocação das feiras provisórias padronizadas, montadas próximas aos espaços em obras”, declarou.

l “Além disso, as Comissões de Fiscalização (Cofis), escolhidas pelos trabalhadores das feiras, acompanham continuamente as intervenções nos mercados”, finalizou.

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