A fim de diminuir os espaços de desigualdade de gênero e privilégios sociais no âmbito acadêmico, o programa inédito “Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência” foi lançado ontem, no Centro de Eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
A cerimônia contou com a presença da ministra da Igualdade Racial (MIR), Anielle Franco, a secretária de Políticas e Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do MIR, Márcia Lima, além da cientista Jaqueline Goes de Jesus, pioneira na pesquisa do sequenciamento genético do coronavírus, e a renomada professora emérita da UFPA e uma das fundadoras do Centro de Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), Zélia Amador de Deus.
O programa exclusivo para mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas é resultado da parceria entre os ministérios da Igualdade Racial, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); das Mulheres; dos Povos Indígenas; e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao MCTI. Ao todo, o governo federal vai investir aproximadamente R$ 7 milhões para, inicialmente, 40 a 45 bolsas de estudos de mestrado, doutorado e pós-doutorado sanduíche em âmbito internacional.
A iniciativa visa incentivar a participação e dar suporte às mulheres cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas que, historicamente, encaram barreiras em suas trajetórias acadêmicas e científicas para chegar ao topo. Para se ter uma ideia, considerando que as mulheres representam cerca de 44% da força de trabalho no Brasil, elas estão em apenas três de cada dez ocupações em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, segundo dados de 2020 da Relação Anual de Informações Sociais–Rais da Unesco.
Anielle Franco pontua que o lançamento do programa é apenas um passo para continuar abrindo caminhos. “A gente ainda tem muita coisa para fazer, por isso estamos lançando aqui, nesse lugar especial, com história e muito renomado, não só para a população negra, indígena e quilombola, mas também para as mulheres negras. Então, a gente espera que as pessoas olhem para esse programa com muito carinho, para contribuir (...) pelo pouco tempo que passei aqui, avalio e entendo que é uma universidade que tem pessoas que muitas vezes são as primeiras de suas famílias a se formarem, e é por isso que estamos aqui, porque a educação perpassa por ter acesso à direitos e melhorias para a população”, disse.
HOMENAGEM
O programa também homenageia a pesquisadora negra sergipana Beatriz Nascimento, ativista do movimento negro que criticava a postura considerada por ela como despreocupada e negligente tanto da academia, quanto das pesquisas por não haver aprofundamento sobre a história do povo negro no Brasil, bem como de suas origens africanas.
A expectativa é que o edital seja anunciado nos próximos meses, a secretária Márcia Lima, destaca que o programa nasceu baseado em evidências e é preciso aumentar a diversidade de gênero na circulação internacional. “Como sempre digo, boas políticas públicas a gente faz baseado em evidências, e as evidências empíricas que nós temos dizem que o acesso à estágios no exterior durante o doutorado ou bolsa de pós-doutorado, são muito mais restritas para as mulheres cientistas, em especial às mulheres negras, indígenas e ciganas. Então, nós precisamos aumentar a diversidade racial e de gênero nesta circulação internacional, porque nós sabemos a importância que tem na carreira científica, você ter essa circulação. Então, estamos garantindo esse direito às mulheres desses grupos étnicos-raciais”, ressalta.
O diretor científico do CNPq, Olival Freire, também esteve presente, e destacou a importância do programa para a promoção da igualdade de oportunidades na ciência.
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