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OPINIÃO

A morte e a morte de Ruy Baldez

Arraial do Pavulagem promove encontros há quase 40 anos e atrai cerca de 30 mil pessoas, onde os ritmos da quadra junina se misturam aos sons da Amazônia.

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Imagem ilustrativa da notícia A morte e a morte de Ruy Baldez camera Músicos Júnior Soares, Ronaldo Silva RuY Baldez e Toni Soares. | Reprodução

A MORTE E A MORTE DE RUY BALDEZ

Beto do Carmo

Ruy Baldez Ribeiro D’Oliveira morreu numa véspera de São João, no já distante ano de 1999. Um AVC fulminante o levou em plena madrugada de um fim de semana em que estava só. Não houve tempo para fazer nada. Morreu solitário como quase sempre o foi em sua vida particular. Não se pode dizer o mesmo de sua figura pública. Admirado por muitos estava no auge da energia criativa, ativo participante do já famoso “Boi Pavulagem”, folguedo que ele sonhou e fez acontecer ajudado, claro, por outros companheiros que acreditaram na transformação do sonho em realidade. Para falar a verdade, ele foi mais do que um mero participante. Foi o fundador, o idealizador daquilo que agora Belém e o Brasil todo clamam como a mais popular manifestação cultural do Estado do Pará. Sua morte prematura surpreendeu a todos. No velório, os tambores ressoaram em sua homenagem. Virou nome de praça, mas, para a nossa alegria, o “Pavulagem” continuou vivo, crescendo e transformando-se em algo gigantesco que enfeitiça o povo e encanta a todos que tomam parte do cortejo que periodicamente toma as “ruas de Belém”, como Ruy cantava em toada premonitória no nascimento do “boizinho”. Hoje, os chamados “Arrastões do Pavulagem”, em qualquer época que saem às ruas, seja no Círio, ou na quadra junina, mostram um espetáculo de cores e gentes a alegrar a cidade, atraindo turistas de outras terras, consolidando-se cada vez mais como a grande representação do espírito festeiro do povo paroara. Ruy se foi, mas sua realização continua crescendo e em nossa memória sua persona animada e carismática permanece presente.

Desde o ano passado, entretanto, estão tentando matá-la, recontando a história do sonho de Ruy Baldez, como se não houvera sido ele o formulador, o gerador de toda essa fantástica festividade que se alastra pela cidade. A segunda morte de Baldez, do criador, tenta apagá-lo agora da memória, de forma supreendentemente malévola, reescrevendo a história como se o grande inventor jamais tivesse participado do surgimento do “boizinho”, a que ele deu nome e lutou para torná-lo realidade naqueles domingos de outrora na Praça da República. Confesso que chorei quando assisti ao programa televisivo que simplesmente desprezou os fatos, permitindo a concepção de narrativa absurdamente falsa, onde conhecidos personagens traem de maneira covarde o antigo companheiro, simplesmente ignorando de forma vil a participação de Ruy, tentando de maneira cínica reconstruir uma história que não tem base na realidade e que se choca vergonhosamente com a própria verdade historiográfica “confessada” nas primeiras gravações do então nascente grupo “Arraial do Pavulagem”. É vexaminoso o que se tenta fazer com a vida (e a obra) de Ruy Baldez. Ele morreu há muito tempo. Mas agora tentam matá-lo novamente, afastando-o de maneira pusilânime do jeitoso boizinho que ele trazia alegremente no coração. É necessário e urgente impedir esse assassinato cultural em andamento. Viva Ruy Baldez!

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