Conhecida como a maior feira a céu aberto da América Latina, o Complexo do Ver-o-Peso também é o principal cartão-postal e ponto turístico da capital paraense, completando nesta segunda-feira (27) os seus 396 anos de existência. O local é onde parte da população desperta todos os dias, bem antes do sol nascer, com cultura, cheiros e sabores amazônicos, sem deixar de lado o seu grande e importante papel na economia local.
Segundo a Prefeitura Municipal de Belém, que administra o espaço por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon), a feira conta com 1.193 permissionários atuando formalmente em todo o complexo que compreende a Feira do Açaí, Mercado de Carne Francisco Bolonha, Mercado de Ferro (Peixe), Pedra do Peixe e a própria feira do Ver-o-Peso. Este número pode ser ainda maior, se levado em consideração os ajudantes e ambulantes da área.
Além das estruturas arquitetônicas datadas do século XIX, o cenário possui milhares de histórias a serem contatadas por aqueles que tronam o Ver-o-Peso o que ele é para a cidade de Belém e também para o mundo. Somente na feira do açaí, a Secon contabiliza 99 permissionários ativos. Na pedra do peixe o número de trabalhadores registrados chega a 163.
Outros 95 que exercem atividades com pescados e mariscos, estão dentro do famoso mercado de ferro que começou a ser construído em 1899, com influência europeia. No mercado de carne datado da mesma época, a prefeitura contabiliza 93 feirantes. O maior número de permissionários está ligado diretamente a feira de Ver-o-Peso, que comporta seus 743 trabalhadores formais.
Quem trabalha no local, conta que o Ver-o-Peso é uma extensão da própria casa. Há 56 anos, Davi Furtado, 82, saiu do município de Bujaru, no nordeste paraense, com destino à capital em busca de trabalho. Ele começou a frequentar a feira porque conhecia algumas pessoas que já trabalhavam nos espaços, mas não imaginava que se tornaria um dos filhos desse ponto turístico.
“Por eu ser caboclo já conhecia a farinha, mas nesse início não sabia como e nem tinha orientações de como trabalhar com ela. Foi estando aqui que comecei a aprender sobre esse universo e graças a Deus, tudo que tenho hoje devo a essa atividade que me prendeu aqui. Espero que nos próximos anos essa essência do Ver-o-Peso continue forte e que mais pessoas possam vivenciar tudo o que tem aqui, seja nos seus trabalhos ou até mesmo com frequentadores”, disse.
ROTINA
Dos 62 anos de idade do artesão Tomás Alonso, 45 já foram destinados ao Ver-o-Peso. Sua história com a feira começa não tão diferente de outras que existem ali. Por influência de amigos e parentes, as artes produzidas lhe ajudaram a fixar raízes em um dos setores de maior circulação de turistas que visitam o complexo. Nesses anos todos, as marcas que ficam são do próprio trabalho, conta Alonso.
“Aqui acontece tanta coisa diariamente, mas nada é tão marcante quanto a nossa rotina mesmo. O compartilhar desse espaço com outros irmãos feirantes, as pessoas que passam por aqui sempre ensinando algo, é o que move essa feira. Claro que o trabalho também nos permite realizar muitos sonhos e quem vive aqui, está porque gosta mesmo”, afirma o artesão.
Outro lado importante da feira são os consumidores bastante exigentes, e que não abrem mão de ir ao local para garantir os melhores produtos, desde os pescados até o famoso almoço com açaí vendido nos boxes de comida. “Realmente, o Ver-o-Peso é algo inexplicável e com certeza faz parte da vida de todos que moram em Belém. Fazer a feira no Ver-o-Peso é muito diferente e sempre tenho certeza de que o melhor está aqui”, diz Sandra Rodrigues, 61.
O aposentado Jorge Dutra, 56, diz que o preço de comercialização, que geralmente é mais em conta, não é um dos principais motivos que o leva ao complexo. “Mesmo com essa conjuntura da nossa economia, essa questão do valor fica até em segundo plano quando a gente chega aqui. O que vale é vivenciar esse ambiente e sentir essa energia que só tem no Ver-o-Peso, um espaço que abraça a todos e que oferta muita coisa além de produtos”, destacou.
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