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Uma broca é uma broca: os reis e rainhas das ruas de Belém

Personagens de Belém, vendedores de rua usam criatividade e o bom humor para alavancarem as vendas e alcançarem a fama. Confira as histórias de alguns deles

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Imagem ilustrativa da notícia Uma broca é uma broca: os reis e rainhas das ruas de Belém camera Amandinha Silva, vendedora de hot-dog | Foto: Wagner Almeida

Andar por Belém e ouvir os chamados pregões, as famosas melodias dos vendedores de ruas, é algo bastante comum e que faz parte do imaginário dos moradores da cidade. Quer exemplos? “Tapioqueeeeirooo!”; “Olha o mingauuuu! Olha o mingau do Careca!” e até mesmo a buzina característica dos vendedores de pipoca e algodão doce e o tilintar dos vendedores de cascalho... Sim, para chamar a atenção do consumidor, a criatividade desses comerciantes supera todas as expectativas e tem gente que faz tanto sucesso que vira até “celebridade”, sendo conhecida por grande parte da população.

Quem frequenta as baladas da capital paraense com certeza já deve ter se deparado com um vendedor fantasiado de Chaves, o personagem mexicano, com sua lata de amendoins e aquela melodia engraçada e chiclete: “amendoim, uim, uim...”.

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Seu Zé Maria virou até tema de uma canção do extinto Quaderna. “Essa música veio na esteira de uma pesquisa que estávamos fazendo sobre os pregões, as melodias das ruas, são esses cantos de rua. ‘Tapioqueirooo’ tem melodia nisso aí, falar um pouco dessa musicalidade da rua, o Quaderna tinha essa pegada de pensar a música em toda parte, e com esse mote foi atrás dessas cantigas e veio os vendedores de amendoim”, explica o músico Cincinato Jr, que compôs a homenagem junto de Alan Carvalho.

“Tem uma música do Ari Lobo que se chama Vendedor de Amendoim, e já falava dessas músicas, aí lembramos do nosso Chaves. Ele é um músico, é baterista, toca mesmo. A partir disso fizemos essa homenagem pro Zé Maria, que a gente conhecia”, completa.

HOT DOG

Se Zé Maria faz sucesso nas baladas e ganhou música com a venda de amendoim, Amandinha Silva viu a fama surgir com a venda de hot dog e outros lanches, na esquina de onde mora, na Rua dos Caripunas. A pequena banca é comandada por ela com muito bom humor, o que tem cativado os clientes e a alçou a influenciadora digital com nada menos que 104 mil seguidores no Instagram (@amanda.hotcompleto) até o fechamento desta edição.

Parte desse sucesso se deve ao carisma da mulher trans que tem como slogan de venda “aqui a salsicha pula pra fora do pão!”.

“Também não é só hot dog; tem o pudim da vaca holandesa; tem a torta salgada de 300 andares; tem o arroz com galinha que vem diretamente da Angola; tem o X-camarão rosa extraído diretamente da Lagoa Azul, do filme da Sessão da Tarde; tem os docinhos ‘parada gay’ misturado com versátil; paz mundial, coco cristalizado com pedra Swarovski com a pedra filosofal perdida. São várias iguarias”, brinca, quase berrando.

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O humor de Amandinha, no entanto, esconde a dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal, o que a fez optar pela venda de rua.

“Eu vivia no mundo da prostituição, em beira de esquina, eu até mandava currículo e ninguém me chamava. Às vezes os clientes me obrigavam a usar drogas e eu já não queria mais isso. Aí montei essa venda com meu pai e graças a Deus tá crescendo. Foi pra mudar de vida mesmo”, avalia.

A vendedora conta que procura tratar os clientes com o maior carinho, mas de um jeito escrachado, que rende muitas risadas. “Tem que ter humor, alegria, felicidade. Eu não esperava tanta repercussão, eu nem tinha celular, ganhei e criaram um Instagram, as pessoas na rua que me contavam e aí repercutiu”, comemora. “Eu faço tudo pelos meus clientes, boto babador, limpo a boca. Só falto beijar os pés deles”, conta.

Entre os planos de Amandinha estão o de ter uma banca maior e expandir o negócio, além, é claro, de seguir com a vida de celebridade da Internet, com muitos publiposts, que ninguém é de ferro.

“Como vem muitos clientes de fora, eu quero ter uma estrutura melhor. Quero crescer com o suor do meu trabalho, toda ajuda é bem-vinda, mas quero crescer na luta, na guerra”.

ÁGUA

Já o vendedor de água Roberto Carlos Silva, 48 anos, autônomo, ficou famoso após ser traído, gosta de contar. “Eu tinha levado um chifre e estava chateado. Fui vender água no estádio com meu filho, no Mangueirão, e ninguém queria comprar. Aí eu comecei a gritar: água, caralho, vocês não tenham sede? (sic) E comecei a vender, foram umas cinco caixas. Vendi uns dez pacotes de água ‘rapidola’ e foi assim que começou”, relembra sobre a fama repentina.

“Aí fiz sucesso e comecei a vender assim. Um amigo me disse pra abrir um Instagram e comecei a fazer vídeos (@agua_caralhooficial)”, pontua.

Com o êxito nas vendas, Roberto continua a vender água mineral nos estádios, mas conseguiu abrir um comércio, batizado de Conveniência do Caralho, no bairro do Una, em alusão ao seu bordão proibido pra menores de 18 anos. “Eu estava com raiva pelo chifre, muito revoltado, não tenho vergonha de dizer. E graças a Deus isso mudou minha vida pra melhor. Tá vendo o que um chifre não faz?”, debocha.

A empatia com os clientes que alavanca as vendas ainda é alvo de teorias por parte de Roberto. “Acho que é por causa do meu jeito. O pessoal gosta, né? Toda vez faço na brincadeira, onde tem jogo eu vou. Eu vendia antes de três a quatro caixas de água, agora o mínimo são dez pacotes. No Instagram gravo os vídeos vendendo, com esse dinheiro sustento a mulher que vive comigo, meus três filhos e dois netos”, se orgulha o desbocado.

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