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CASO KAT TORRES

Paraense suspeita de tráfico humano ameaçou 'haters'

No dia 18 do mês passado, Torres foi presa preventivamente no Brasil suspeita de manter pessoas em condições análogas à de escravidão nos Estados Unidos.

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Imagem ilustrativa da notícia Paraense suspeita de tráfico humano ameaçou 'haters' camera Katiuscia publicou um vídeo 'inusitado' no seu Facebook | ( Divulgação )

"Olá, divas alienígenas", diz Kat Torres em um vídeo publicado na sua página ainda disponível do Facebook em março deste ano. Nele, ela ensina o passo a passo para preparar para um banho alienígena.

Suspeita de tráfico humano, paraense Kat Torres é presa

A receita inclui bichos de pelúcia, sais de banho, produtos para tratamento de pele, fitas brilhantes, balas sortidas, lâmina de barbear "somos alienígenas, não nos machucamos", bolas e ovos de plástico colorido. Ela ressalta ser essencial que todos os artigos sejam derramados na banheira com a embalagem.

A página no Facebook é uma das contas ainda ativas de Kat Torres, como é conhecida a influenciadora Katiuscia Torres Soares. Ela deletou a página do Instagram em meados de outubro após o início das denúncias de charlatanismo e tráfico humano.

No dia 18 do mês passado, Torres foi presa preventivamente no Brasil sob suspeita de manter pessoas em condições análogas à de escravidão nos Estados Unidos, entre outros possíveis crimes. O caso está em segredo de Justiça. A defesa dela afirma, por meio de nota, que as acusações são infundadas.

Após a prisão, o MPF (Ministério Público Federal) abriu um canal para colher depoimentos de supostas vítimas, com a garantia de preservação de identidade e sem necessidade de comparecer à instituição.

A influenciadora se definia como modelo, atriz e vidente terapêutica. Em seu site, prometia resolver problemas de forma milagrosa com planos mensais e anuais que podiam chegar a R$ 700.

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Nas redes sociais, ela apresentava versões contraditórias. Em alguns posts, ostentava em hotéis cinco estrelas e vestia roupas de grifes, enquanto em outros pedia dinheiro e afirmava passar necessidades. "Vocês só precisam me enviar todo o dinheiro que puderem doar", escreveu ela em março deste ano.

Aos seguidores, ela dizia não acreditar em investir dinheiro e que, quando precisava, este aparecia. Sobre o pedido de ajuda, afirmou ter sido uma oportunidade aos seus seguidores. "Quem me ajuda, se ajuda. Era uma chance. Quem pegou, pegou", escreveu.

Já a persona "good vibes" dava lugar a outra quando era criticada e, por vezes, ameaçava "haters".

Torres nasceu em Belém, Pará. De família pobre, contava nas redes sociais que por vezes sua família não tinha comida. "Até na rua já moramos", relatou ela em um post de 2017.

Naquele mesmo ano, em entrevista a Amaury Junior, ela afirmou que escreveu o livro "A Voz" em transe e que pertencia a uma comunidade na qual tomava ayahuasca. Também disse que ajudava as pessoas a escutarem a voz da vida delas.

Gladys Pacheco, advogada de ao menos 15 pessoas que se apresentam como vítimas de Torres, afirmou que "a voz" seria uma espécie de entidade com a qual Torres dizia conversar, atraindo seguidores e clientes por meio da fé espiritual.

As suspeitas contra Torres começaram a ganhar força nas redes por meio da conta no Instagram Vítimas da Voz, criada por parentes e amigos de uma jovem que foi morar com ela nos EUA e sumiu. A suposta vítima deletou as redes sociais e aplicativos de mensagens e interrompeu todo contato com a família.

O caso originou um boletim de ocorrência por suspeita de tráfico humano e uma campanha nas redes. Outras pessoas passaram, então, a denunciá-la. Entre as 15 que Pacheco representa está a jovem procurada pela família que deu origem à campanha na internet e, depois, foi localizada.

Para a advogada, Torres estabelecia uma relação de dependência com as pessoas –algumas teriam feito os supostos tratamentos por cerca de sete anos.

Entre as supostas vítimas, segundo a advogada, havia mulheres em busca de espiritualidade e melhoria nos relacionamentos que pagavam até US$ 5.000 (mais de R$ 25 mil, na cotação atual) por consultas e banhos terapêuticos.

Quando criticada, a influenciadora expunha os "haters" nas redes. Segundo Pacheco, um desses casos foi o do arquiteto e ativista pela equidade racial Antonio Isuperio.

Em 2021, ele a criticou no Instagram. Após o episódio, Torres divulgou nas redes sociais o telefone dele e pediu aos seguidores para denunciarem sua conta. A partir daí, ele passou a receber ameaças de morte.

Isuperio levou o caso à polícia em Nova York, onde vive, e ao MPF. "Se não fosse branca, não conseguiria ser essa charlatã", disse ele à reportagem.

Advogado de Torres, Rodrigo Menezes declarou, por meio de nota, que desconhece os dados vazados de pessoas que a criticavam.

Em relação às acusações, afirmou serem infundadas e que Torres "jamais praticou os crimes de que está sendo acusada".

"A informação de que ela pudesse submeter pessoas à condição análoga à escravidão não procede e isto será comprovado ao longo da instrução processual", disse ele.

Em relação ao canal do MPF para receber eventuais denúncias contra sua cliente, o advogado afirmou confiar que a instituição "saberá filtrar com notoriedade informações desprovidas de qualquer cunho de veracidade, daqueles que buscam alcançar alguma fama através desse episódio".

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