Período tão esperado por quem não abre mão de consumir a polpa do fruto, a safra do açaí no Estado do Pará está se aproximando e, com ela, a maior demanda de trabalho para os profissionais que tradicionalmente garantem o açaí na mesa dos paraenses: os batedores. Reunindo o conhecimento cultivado por gerações, cada profissional mantém suas técnicas e segredos para extrair o açaí especial de cada dia.
A profissão exercida com tanto orgulho há 30 anos foi apresentada à batedora Valquíria Costa, 67 anos, quando ela mudou do município de Capanema, onde nasceu, para a capital. Ela lembra que em meados dos anos 1992 a quantidade de batedores de açaí na cidade não era tão grande como hoje e a maneira que existia para aprender a profissão era observando os que já atuavam na área. “A gente aprende observando, aprende pela experiência mesmo. Eu comecei a bater açaí em 1992 e aprendi observando o meu ex-marido”.
Como em qualquer outra profissão, Valquíria aponta que o mais importante é manter a atenção na atividade que se está fazendo. Se o batedor não ficar concentrado na máquina e no modo de despejar a água sob os caroços, não tem açaí que preste. “Não existe milagre. É trabalhar e prestar atenção no que está fazendo. Se a pessoa não tiver atenção, desanda mesmo”.
Litro do açaí médio segue entre R$ 12 e R$ 18 em Belém
A água adicionada ao processo de extração da polpa é o que vai determinar a textura da bebida que é recolhida pela bacia de inox. Na preferência dos paraenses, a batedora aponta que está o açaí de tipo médio. “As pessoas gostam mais do médio, até porque o açaí do grosso é mais caro. Mas a gente tem que fazer ao gosto do freguês, quando eles querem aquele papa mesmo, a gente coloca menos água”, conta Valquíria. “Eu tomo de qualquer jeito. Lá em Capanema a gente tomava açaí mais quando íamos pro interior porque, naquela época, não tinha tanta gente que batia na cidade. Mas depois que eu vim para Belém comecei a tomar todo dia e, em 1992, comecei a trabalhar com ele também”.
Foi também observando que Gilberto Lima dos Santos, 65, aprendeu o ofício que garante o sustento da família há 15 anos. “A gente aprende olhando e trabalhando. Quando a gente é aprendiz, começa a bater devagar até ir pegando experiência e já começar a trabalhar direto”, lembra. “É uma profissão muito boa, o sustento da gente. Eu gosto demais da minha profissão”.
Mais do que o trabalho em si, Gilberto também é um apaixonado pelo açaí. Não há um dia sequer que ele fique sem consumir o alimento preparado pelas suas próprias mãos. “Eu tomo açaí todo dia, não pode faltar”.
SEGREDO
Além do almoço, a tigela de açaí também acompanha as refeições da batedora Maria Elizete dos Santos, 47 anos, durante a merenda e a janta. Apreciadora da bebida, ela acredita que cada batedor tem o seu segredo para extrair um açaí especial. “O amor e a prática do batedor faz diferença, sim. Tem que saber como colocar a água porque não pode despejar tudo de uma vez, então, tem o seu segredo, sim”, considera, ao contar que aprendeu a profissão há 25 anos, acompanhando a irmã que já atuava como batedora de açaí.
Antes mesmo de iniciar o processo de extração, Elizete considera que o trabalho dos batedores já inicia com a própria escolha dos frutos. “Quando o caroço do açaí está bem pretinho, bem maduro, é quando está bem produtivo”, avalia. “Já quando ele está com a parte da bandinha ainda meio verdinho, não vai dar uma produção muito boa. Ele rende menos e até mesmo para amolecer, antes de bater, demora mais. Nesse período da safra, agora, é quando ele fica bem melhor, fica mais gostoso. Isso tudo é conhecimento que o batedor tem e que faz diferença”.
O conhecimento acerca do processo de extração do açaí foi apreendido pela batedora Jaqueline Martins, 35 anos, quase por acaso. Cabeleireira, ela conta que investiu, junto com o marido, na abertura de um ponto de venda de açaí para complementar a renda, mas que a pessoa responsável por tocar o negócio seria um batedor que eles já conheciam. Quando a estrutura já estava toda montada, porém, Jaqueline soube que o batedor não poderia mais manter a parceria e foi então que ela mesma decidiu aprender o ofício. “Eu acabei descobrindo que gosto até mais de bater açaí do que de trabalhar com cabelo”, sorri, ao lembrar que em apenas três meses o negócio já conseguiu reunir uma clientela fixa. “As pessoas gostaram, até porque viram que o nosso açaí é de qualidade, com branqueamento, como deve ser mesmo. Eu tive que aprender tudo muito rápido e hoje eu gosto até mais do que a profissão que era a minha área mesmo”.
PARA ENTENDER A SAFRA
- No Pará, o período da safra do açaí vai de agosto a novembro. Para além da maior oferta e qualidade do fruto, a época também costuma garantir um preço mais acessível ao produto que faz parte da alimentação básica de muitos paraenses.
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