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EDUCAÇÃO

Pandemia afetou negativamente educação no Brasil

Após dois anos de pandemia, pais e responsáveis afirmam em pesquisa que estudantes precisam de reforço escolar para ajudar na aprendizagem: pelo menos dois em cada três alunos necessitam de apoio em algum conteúdo.

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O fechamento de escolas para todas as etapas de ensino durante um período da pandemia prejudicou o futuro de jovens e adolescentes no Brasil, mas foi especialmente difícil para as crianças menores, na fase da alfabetização. Levantamento divulgado pela organização Todos pela Educação, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que mais de 40% das crianças com 6 ou 7 anos de idade não sabiam ler ou escrever em 2021, o que representa mais de 2,4 milhões de crianças no país.

Após dois anos de pandemia, pais e responsáveis afirmam que estudantes precisam de reforço escolar para recuperar a aprendizagem: pelo menos dois em cada três estudantes precisarão de apoio em algum conteúdo. Para 28% dos responsáveis, a prioridade das escolas nos próximos dois anos deve ser de programas de reforço e recuperação.

Os dados são da pesquisa educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias, realizada pelo Datafolha a pedido do Itaú Social, da Fundação Leman e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As perguntas foram feitas por telefone a 1.306 pais e responsáveis de 1.850 estudantes, em todo o país, em dezembro de 2021.

Segundo o estudo, Matemática é a disciplina onde os estudantes mais precisam de apoio (71%), vindo em seguida a Língua Portuguesa (70%), Ciências (62%) e História (60%). Consideradas apenas crianças em fase de alfabetização, esse percentual sobe: 76% precisarão de mais atenção das escolas na retomada das aulas presenciais, segundo as famílias. Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), Laura Rayssa Nogueira, 23, diz que o acompanhamento pedagógico se faz extremamente necessário nesse momento porque as crianças foram prejudicadas pelo afastamento, “pois é muito importante para o desenvolvimento cognitivo das crianças”.

Ela diz que as faixas etárias mais prejudicadas são as iniciais (educação Infantil), em que as crianças estão iniciando a vida escolar. “Os prejuízos da pandemia podem ser medidos em curto, médio e longo prazos de acordo com o desenvolvimento de cada criança, já cada criança é única”. Laura é professora e dá aulas de reforço e revela que alfabetizou muitas crianças em casa durante a pandemia. “Essa experiência foi um desafio enorme por vários motivos, mas o principal foi a incerteza de tudo. Mas ao mesmo tempo foi maravilhoso ver cada criança aprendendo a escrever o nome, lendo suas primeiras palavras, superando cada desafio”, atesta.

Ela também é pós-graduanda em neuropsicopedagogia. Pela manhã Laura acompanha uma criança autista que está no Jardim I e faz a mediação do processo de sua aprendizagem na escola. No total possui hoje 8 alunos, chegando a trabalhar 10 horas por dia. “Vou até as crianças com atendimento de 1h30 para cada. Atualmente as aulas de reforço têm sido a minha complementação de renda”.

A aula de reforço é um atendimento personalizado e individual, necessitando que pais e responsáveis entendam quais são as necessidades específicas de cada aluno para que não haja comprometimento ainda maior da aprendizagem. Alguns alunos sentem falta de ânimo para os estudos, outros ficaram com lacunas no conhecimento.

“Com o advento da pandemia, grande parte dos alunos não teve mais vontade de estudar. As redes sociais poderiam ser sempre mais interessantes. Temos que reduzir essa falta de interesse e reavivar o ânimo para os estudos”, aponta Carolina Raiol, licenciada em Matemática e pós-graduada em metodologia do ensino da matemática.

Segundo ela, o desgaste momentâneo dos estudos criou lacunas que, se não forem preenchidas rapidamente, podem perdurar, “além da falta de socialização ser prejudicial em todas as faixas etárias, tornando crianças e adolescentes mais introspectivos e gerar desinteresse em fazer cursos superiores, por exemplo”.

FAIXAS ETÁRIAS

A professora afirma que todas as faixas etárias foram bastante prejudicadas. “Como meu foco são os adolescentes, acredito que eles tiveram um rompimento na socialização e bombardeio de informações em redes sociais. Predicaram, demais, a saúde mental desses jovens”.

Carolina trabalha na rede pública e rede privada. Dá aulas de reforço há quase 10 anos, iniciando esse trabalho antes mesmo de concluir a graduação. “Hoje dou aula particular por prazer, mas é um ótimo complemento de renda também. Chego a ministrar 12 aulas no dia, estou aproveitando enquanto sou jovem ainda para trabalhar bastante e passar um pouco do meu conhecimento e minha vontade de estudar para os alunos que tanto precisam de motivação”.

Dando aulas de reforço em Matemática desde 2019, Laylson Castro conta que durante a pandemia foi necessário adaptar as atividades e aulas para a modalidade remota. O grande problema é que nem todos os alunos tinham aparelhos eletrônicos para cumprir as tarefas.

“O professor não estava presencialmente para identificar um erro e corrigi-lo, não tinha como esclarecer uma dúvida no momento que aparecesse, logo não tinha como saber quanto ou se os alunos estavam aprendendo”, diz.

Todos esses problemas culminaram em uma dificuldade enorme no aprendizado de muitos estudantes, se fazendo urgente o reforço escolar. “A escola é um lugar que ensina além do que está no quadro. É um lugar de socialização, de formar amizades, de ter contato com o diferente seja de ideias ou formas. Acredito que durante o ensino remoto o que mais afetou professores e alunos foi a falta desse contato”.

Durante o ano de 2021 Laylson teve a experiência de estagiar em uma escola pública, onde vivenciou o ensino remoto e presencial. “No ensino remoto a dificuldade de avançar com os conteúdos era enorme. Não tínhamos um controle sobre o que os alunos estavam aprendendo ou se estavam aprendendo. Quando retornamos presencialmente conseguimos evoluir bem mais rápido, mas ainda assim tivemos dificuldades e ajustamos as formas de reforçar os conteúdos”, conta o professor, que é graduando de Licenciatura em Matemática pela Uepa.

PESQUISA

l Mais de 70% dos alunos que ficaram sem aulas presenciais nos últimos dois anos vão ter que passar por aulas de reforço de Matemática e Português em 2022. Além disso, 2 em cada 10 alunos correm o risco de evasão escolar. É o que mostra pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, por encomenda da Fundação Itaú Social, Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O levantamento mostra que o processo de reabertura e retorno presencial às escolas vem sendo assimétrico e tem relação com o nível de desigualdade socioeconômica. Estudantes e famílias revelam otimismo com o retorno presencial das escolas, mas também se preocupam com a necessidade de apoio e reforço escolar para recuperação da aprendizagem.

l De acordo com a pesquisa educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias, apesar de ter avançado o acesso aos conteúdos, 811 mil estudantes continuam sem receber nenhum tipo de atividade escolar, mesmo estando matriculados. O percentual de estudantes sem acesso à internet banda larga continua alto: 37%, sendo significativamente mais alto nas regiões Nordeste (51%) e Norte (46%).

l Apesar de ser inadequado para as atividades escolares, o celular segue sendo o principal equipamento utilizado pelos estudantes com atividades remotas (86%), sendo que 38% dividem o celular com outros membros da família. Metade dos responsáveis por estudantes matriculados na rede pública solicitou o auxílio emergencial em 2021. Com o fim do auxílio, a importância do retorno presencial ganha ainda mais força, uma vez que a escola contribui no combate à insegurança alimentar, por exemplo.

l A maioria dos estudantes vai precisar de apoio em Matemática (71%), Língua Portuguesa (70%), Ciências (62%) e História (60%), segundo os responsáveis. Entre as crianças na fase de alfabetização, 76% precisarão de mais atenção das escolas.

l Quando os pesquisadores quiseram saber sobre a prioridade na educação nos próximos dois anos, 28% dos responsáveis declaram que deve ser a promoção de programas de reforço e recuperação.

l Entre as crianças em fase de alfabetização, o percentual entre os que precisam de reforço sobe para 76%. Levantamento recente da ONG Todos pela Educação, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que mais de 2,4 milhões de crianças com 6 ou 7 anos de idade não sabiam ler ou escrever em 2021.

l Em dezembro de 2021, 2 em cada 10 estudantes corriam o risco de abandonar a escola. Dos motivos mais citados para o medo dessa desistência da escola estava o fato de o estudante ter perdido o interesse pelos estudos (29%) e por não estar conseguindo acompanhar as atividades (29%). Outros 15% citaram o fato do estudante não se sentir acolhido e 12% poderiam desistir da escola por terem que trabalhar.

l Mesmo com tantos percalços na educação nos últimos dois anos, de um modo geral, 76% dos pais ou responsáveis pelos alunos da região Norte avaliaram que a educação recebida da escola nesse momento foi boa ou ótima.

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