No período em que a conexão entre Belém e a região nordeste do Estado ainda era feita através da Estrada de Ferro de Bragança, no início do século XX, um ramal da ferrovia foi aberto em direção à então Vila Pinheiro, hoje distrito de Icoaraci. O extinto ramal é, justamente, a origem da movimentada avenida Augusto Montenegro, que hoje abriga edifícios residenciais, órgãos públicos, serviços diversos, além de um fluxo intenso de veículos.
O professor do curso de história da Universidade da Amazônia (Unama), Diego Pereira Santos, explica que a história da formação da atual avenida Augusto Montenegro tem uma íntima ligação com a atuação do político que dá nome à via até hoje. Augusto Montenegro foi um advogado e político brasileiro que governou o Estado do Pará entre 1901 e 1909, tendo exercido um importante papel na locomoção da cidade e que tem ligação com o que viria a se tornar a avenida Augusto Montenegro. “É no governo de Augusto Montenegro que se tem a conclusão da Estrada de Ferro Belém/Bragança. O caminho ferroviário era fundamental e passou a fundamentar aquela região porque a Estrada de Ferro de Bragança corria paralela à Almirante Barroso e um dos ramais era exatamente a Augusto Montenegro”, afirma Diego.
Com o objetivo de aproximar as Províncias do Pará e do Maranhão e estimular o desenvolvimento da região bragantina paraense, a Estrada de Ferro de Bragança teve suas obras iniciadas ainda em 1883. A conclusão, porém, ocorreu apenas 25 anos depois, em 1908 pelo então Governador Augusto Montenegro que, apesar de não ter sido o responsável por iniciar a construção, teve atuação de destaque na sua ampliação e finalização.
Além do destino final, o município de Bragança, a estrada de ferro também recebeu, ao longo do seu percurso, ramais que foram importantes para o deslocamento no Estado. Partindo de Belém, o ramal que levava à então Vila Pinheiro, hoje distrito de Icoaraci, se transformou na avenida Augusto Montenegro. “Depois concluída a Estrada de Ferro, se tem a abertura do Ramal do Pinheiro, que vai ser realizado também pelo Augusto Montenegro, que é essa área em direção às áreas que davam acesso à chamada Vila Pinheiro, hoje Icoaraci”, explica o professor. “Então, se observa esse braço da Estrada de Ferro e que começava exatamente no Entroncamento e seguia em direção a Icoaraci”.
O historiador lembra que a abertura do ramal ocasiona mudanças importantes não apenas na antiga Vila Pinheiro, que começa a receber um volume grande de visitantes, como também no próprio percurso do ramal. “A abertura do ramal vai trazer também uma forma de vida social e espacial de Belém que até então não era tão vista, na chamada Fazenda Pinheiro, onde se localizava a Vila Pinheiro. Então, se tem ali todo um complexo agrícola de granjas e hortas que vão surgir no entorno da ferrovia”, aponta Diego Pereira Santos. “Ela vai possibilitar essa circulação de produtos, pessoas, mercadorias em direção à vila porque até, no início do século XX, essa circulação era permitida apenas pelo rio, então, com a abertura da ferrovia a gente vai perceber essa mudança de perfil relacionado a essa estrutura de transporte, antes muito vinculada à questão fluvial e depois com o destaque ferroviário”.
DIFICULDADES
Depois da desativação da Estrada de Ferro, o caminho que ligava a região do Entroncamento a Icoaraci acabou ficando ocioso. O professor Diego Pereira Santos aponta que a área chegou a ficar abandonada, antes que começasse a receber as obras que a transformariam em avenida. “Essa área acabou sendo abandonada pelo menos até a década de 60. Ela deixou até de ser trafegada durante praticamente 10 anos e aí, em 1975, esse caminho é transformado efetivamente em avenida Augusto Montenegro”, aponta.
As mudanças mais recentes ocorridas na avenida estão bem presentes na memória da aposentada Mouzarina da Costa Ferreira, 87 anos. Moradora do Conjunto Gleba II, na avenida Augusto Montenegro, há 48 anos, ela lembra que quando chegou ao local não existia sequer uma linha de ônibus que adentrasse o caminho. “Quando chegamos aqui a Augusto Montenegro era só um caminho. Passando a Rua da Marinha para baixo, era só mato. As pessoas iam para Icoaraci pela Arthur Bernardes, ninguém ia por aqui porque não chegava”, recorda. “A única linha de ônibus que tinha para gente era o Jurunas-Conceição que a gente tinha que andar até a avenida Dalva pra pegar porque aqui na Augusto Montenegro mesmo não passava nenhum”.
Além da dificuldade com o transporte, Mouzarina lembra que, em 1974, a região também não contava com abastecimento de água e nem de energia. Além da moradia da família, eram muito poucas as construções encontradas naquele local, à época. Cenário muito diferente do atual. “A gente tinha que sair para apanhar água aonde hoje é o Ulisses Guimarães. Com a energia a gente se virava na lamparina mesmo. Nós fomos os 4º moradores do conjunto”, lembra. “Agora não, mudou muito. A gente tem tudo, tudo perto. Aqui temos linhas de ônibus que levam para todo canto de Belém que queira ir, temos uma boa iluminação, rede de esgoto, aqui não enche quando alaga, temos coleta regular de lixo. Hoje é uma beleza mesmo”.
Augusto montenegro
Augusto Montenegro foi um político, advogado brasileiro e Governador do Pará no período de 1901 a 1909. Foi responsável por concluir a Estrada de Ferro de Bragança. Regularizou as finanças, melhorou o serviço de águas, e resolveu a secular pendência das terras do Amapá, ganhando dos franceses. Augusto Montenegro substituiu o governador Paes de Carvalho. Em sua homenagem, foi dada a uma rodovia o nome de Augusto Montenegro, sendo uma das mais movimentadas do município de Belém.
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