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Ergonomia no Trabalho: muito mais do que trocar cadeira

Adequações envolvem desde a luminosidade até o mobiliário

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Imagem ilustrativa da notícia Ergonomia no Trabalho: muito mais do que trocar cadeira camera Reprodução/Freepik

A promoção de saúde no ambiente de trabalho passa pela adequação das atividades laborais às condições apresentadas pelo trabalhador. Dentro deste contexto, no âmbito da medicina do trabalho, a ergonomia é um aspecto que precisa ser muito bem estudado para que os trabalhadores possam exercer suas funções com motivação e boa produtividade e sem que isso prejudique sua saúde física e mental.

Mais do que promover a adequação de mobiliários, a ergonomia considera os diferentes aspectos que envolvem a adaptação do ambiente de trabalho ao trabalhador. A médica do trabalho Raijane Loras conceitua a ergonomia como uma “ciência que vai cuidar da adaptação do posto de trabalho num contexto específico, individualizando aquela pessoa quanto à estrutura e às condições de trabalho de forma que ela possa desempenhar as atividades laborais dela sem colocar em risco a sua saúde”, destaca. “Muitas vezes, quando se fala em ergonomia, as pessoas tendem a pensar que é apenas trocar cadeiras e não é. É uma adequação global de vários fatores”.

Elementos

Entre os elementos considerados, estão a luminosidade do posto de trabalho, o mobiliário – que abarca as adequações de cadeiras e mesas -, a altura da tela do computador, a ventilação, dentre outros vários fatores. Para além da adequação do ambiente, a ergonomia no trabalho também envolve a devida orientação quanto ao uso dos equipamentos e comportamento do trabalhador.

“O colaborador tem que ser treinado. Por exemplo, se ele faz um trabalho sentado, ele precisa fazer os ajustes da cadeira dele porque muitas vezes ele até tem uma cadeira adequada, mas não foi treinado a fazer uso dela, para ajustar as posições de forma que ele possa desempenhar a sua função sem comprometer a sua saúde”, exemplifica a médica.

“A sobrecarga mental também tem que ser avaliada, dependendo do tipo de atividade. Por isso que, muitas vezes, a gente cita que têm atividades em que há uma sobrecarga mental maior do que as outras. Então, é um uma adaptação global em todas as posições de trabalho à realidade daquele colaborador”.

Para que seja feita a correta adaptação, Raijane Loras aponta que, normalmente, é aplicado um questionário chamado Censo em Ergonomia, em que são coletadas informações importantes a respeito de cada trabalhador e possíveis desconfortos sentidos durante a execução de sua função.

“Primeiro a gente faz uma avaliação global e dos desconfortos sentidos pelos colaboradores que possam estar relacionados à ergonomia no ambiente de trabalho e depois eu faço um atendimento individualizado”, explica. “A gente começa a ver quais são os maiores números de queixas. Você verifica junto ao colaborador quais são as queixas dele, quais são as dificuldades que ele tem e o que ele acha que pode ser feito. Na maioria das vezes, o próprio colaborador sabe o que deveria melhorar no posto e no ambiente de trabalho dele. Então você ouve e sugere as mudanças e adequações”.

Investimento significa produtividade

Quando a ergonomia no ambiente de trabalho não é considerada, os prejuízos causados podem afetar diretamente a saúde dos trabalhadores e, indiretamente, também a produtividade e rendimento da própria empresa. Dentre as principais consequências relacionadas a inadequações ergonômicas no local de trabalho, a médica Raijane Loras aponta as queixas osteomusculares, quando o colaborador, normalmente, começa a sentir muita dor na coluna, no pescoço, nos punhos, nos joelhos ou nos cotovelos. Além dessas, Raijane aponta que tem sido visto cada vez mais problemas relacionados a uma sobrecarga mental muito grande, levando a transtornos psicológicos e psiquiátricos.

“Essas cobranças, a sobrecarga mental, têm aumentado muito o número de patologias psiquiátricas devido a esses desgastes da ergonomia e da adequação ao ambiente de trabalho. O trabalhador passa a ser menos produtivo, ele não tem ânimo para ir ao trabalho, não é estimulante para ele voltar ao posto de trabalho, ele começa a faltar, o rendimento dele cai e, mentalmente, ele fica sobrecarregado, levando a um quadro depressivo ou a uma síndrome chamada Síndrome de Burnout”.

Os problemas de saúde mental relacionados ao trabalho são tão incidentes que a médica aponta que, atualmente, tais condições já integram o chamado Nexo Técnico Epidemiológico, método que estabelece uma relação entre uma doença específica e determinada prática laboral. “Antes o CID das doenças psiquiátricas não entrava no Nexo Técnico Epidemiológico, agora entra. E o que é isso significa? Quando um colaborador é encaminhado ao INSS para uma avaliação de incapacidade por estar sem condições de exercer o seu trabalho, automaticamente, o INSS faz um cruzamento dessas informações com o Cadastro Nacional de Atividades Econômicas da empresa e verifica a incidência da patologia apresentada por aquele trabalhador nos outros colaboradores daquela empresa que exercem a mesma função”, explica Raijane.

“Se há essa relação, aquela patologia já é um nexo de acidente de trabalho. Então, o Nexo Técnico Epidemiológico está relacionado com a alta incidência entre os meus colaboradores daquela patologia e, agora, a parte psiquiátrica também entrou lá porque a gente está num mundo que vive em constante movimentação, em que a velocidade de renovação das informações é muito grande, então, as pessoas acabam se sentido sobrecarregadas até de informação”.

Evolução

Até para dar conta de todas essas novas demandas e transformações ocorridas nos ambientes de trabalho com o decorrer do tempo, a médica aponta que a ergonomia tem crescido muito. “Quando você consegue colocar um projeto de ergonomia na sua empresa você vai ver que todo o ambiente de trabalho melhora. O seu colaborador se torna mais positivo porque ele tem tranquilidade, ele tem prazer em ir para o seu local de trabalho, ele vai produzir mais e ele vai faltar menos”, aponta. “As empresas têm que parar de ver a ergonomia como gasto. Não é um gasto, é um investimento e quando a empresa faz isso, está investindo até no patrimônio dela porque o maior patrimônio que ela tem é o colaborador dela. Quando esse colaborador trabalha feliz e sem adoecer, ele tem prazer de voltar todos os dias e continuar trabalhando”.

Ergonomia no Trabalho: muito mais do que trocar cadeira
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