O percurso que o mecânico João Paulo de Almeida, 19 anos, faz de bicicleta da sua casa, no centro de Ananindeua, até o trabalho, no bairro de Nazaré, em Belém, demora aproximadamente 40 minutos. Se optasse pelo transporte coletivo levaria, em média, 1h30 e ainda teria de desembolsar cerca de R$ 200 por mês. Na balança, tempo e dinheiro pesam para o trabalhador. “Além de ser um meio de locomoção mais rápido e saudável, não fico preso no engarrafamento. Optei pela bike há um ano e não me arrependo”, diz.
Apesar das vantagens elencadas, João Paulo e outros trabalhadores que decidem pela bicicleta enfrentam uma estrutura cicloviária deficiente na Região Metropolitana de Belém. Mesmo diante de um cenário arriscado, a bicicleta ainda é o meio de transporte mais eficiente, barato e rápido conforme aponta o projeto Acesso a Oportunidades, coordenado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O baixo custo de aquisição, operação e manutenção também torna a bicicleta uma das soluções mais simples para o acesso a oportunidades e direitos na cidade. Contudo, pedalar em segurança ainda é um privilégio. Nas capitais brasileiras, apenas 13% da população com renda mensal entre zero e meio salário mínimo mora próximo a ciclovias ou ciclofaixas. O número salta para 30% entre os que ganham acima de três salários mínimos.
Os dados são do PNB (People Near Bike), indicador percentual de pessoas que moram a menos de 300 metros da infraestrutura cicloviária, de 2019. O PNB é apurado anualmente pelo ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento) e considera também as diferenças a partir de renda, gênero e raça. Para o pedreiro José Luís Lopes, 39 anos, o custo com a manutenção da bicicleta não se compara com o que seria gasto com o transporte coletivo no trajeto para o trabalho. Calculando rápido, ele disse que seria em torno de R$ 140 em apenas quinze dias. “Com a manutenção da bike sei que é menos do que isso, pois são serviços simples. Nunca parei para orçar, porém, tenho certeza que é mais em conta”.
Além da economia, José garante que a “magrela” ainda traz benefícios à saúde. “É como se eu fizesse uma corrida. Demoro uns 55 minutos de casa até o trabalho. Se fosse de ônibus demoraria 1h30 e ainda teria de enfrentar congestionamento. Sei que as dificuldades existem, com motoristas avançando sinal ou pedestres atravessando na nossa frente, e uma estrutura incompleta na cidade. Acredito que apenas 50% do percurso é favorável para os ciclistas”, diz ele, que saiu do Parque Verde em direção à rodovia Bernardo Sayão.
Quando cai a noite é a vez do vigilante Paulo Roberto, 32, seguir de bicicleta para o trabalho. Apesar de considerar que o trânsito esteja mais tranquilo no fim do dia, ainda precisa enfrentar o tráfego pela manhã, quando encerra o expediente, por volta das 9h. “Faço o trajeto da avenida João Paulo II até o Mangueirão e demoro cerca de 20 minutos apenas. Nunca parei para calcular quanto gastaria com ônibus porque uso a bicicleta há muitos anos. Mas sinto falta de uma estrutura melhor na cidade porque ainda é muito arriscado para os ciclistas. Deveria ter mais investimento por parte do poder público”, declara.
Renda
Dados de uma pesquisa elaborada pela Associação Transporte Ativo e o LabMob da UFRJ indicam que 40,3% dos usuários de bicicleta no país têm renda entre um a dois salários mínimos. As pessoas utilizam a bike para trabalhar, estudar, fazer compras, para o lazer, dentre outras atividades. No entanto, embora os indivíduos com menor renda sejam os que mais pedalam, ainda estão longe de terem uma infraestrutura cicloviária qualificada.
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