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SILÊNCIO NO BARRACÃO

Acadêmicos da Pedreira anuncia fim de atividades

Também foram apontadas para o fim das atividades questões como a avançada idade de seus presidente e patrono para lidarem com os desafios de manter a escola neste momento de pandemia

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Imagem ilustrativa da notícia Acadêmicos da Pedreira anuncia fim de atividades camera Brincantes como a porta-bandeira Lourdinha Sena não querem que história da Acadêmicos da Pedreira vire uma lembrança no álbum de fotos . | Acervo Pessoal

O gavião-real da agremiação carnavalesca Acadêmicos de Samba da Pedreira fez um belo voo desde o seu retorno ao desfile das escolas de samba de Belém em 2019, mas se despede novamente, depois de um ano marcado pela perda de seu puxador oficial, Rico Medeiros, e de brincantes, ritimistas e simpatizantes em decorrência da Covid-19. Também foram apontadas para o fim das atividades questões como a avançada idade de seus presidente e patrono para lidarem com os desafios de manter a escola neste momento, quando não há previsão de uma vacina que permita se realizar o Carnaval. E ainda custear isto, quando todas as escolas acumulam dívidas que não puderam ser pagas sem a realização de eventos, sua principal fonte de recurso, no primeiro semestre.

O comunicado oficial, assinado pelo presidente Edson Barbery, finaliza falando aos guardiões da escola: “O nosso Acadêmicos encerra em definitivo todas as suas atividades agradecendo, de coração, todo o empenho e dedicação que cada um(a) de vocês teve para com ele, por esses anos todos”. Mas entre os brincantes, há quem ainda não tenha perdido as esperanças.

“É lamentável, porque passamos 10 anos sem desfilar. Eu entrei na escola no ano 2000, o primeiro desfile na então Aldeia Cabana, e fomos a campeã. Lutamos muito para que a escola voltasse e para a escola não morrer. Chega a encher os olhos de lágrima. Até então, ainda estamos lutando para que eles voltem atrás na decisão”, comenta a porta-bandeira Lourdinha Sena, 46.

Brincantes como a porta-bandeira Lourdinha Sena não querem que história da Acadêmicos da Pedreira vire uma lembrança no álbum de fotos .
📷 Brincantes como a porta-bandeira Lourdinha Sena não querem que história da Acadêmicos da Pedreira vire uma lembrança no álbum de fotos . |Acervo Pessoal

Campeã

Com um pé no Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Pará, que teria dado origem ao nome “Acadêmicos”, a escola estreou em 1982, sendo campeã do carnaval de Belém em 1999, 2000 e 2002. E havia se despedido do público em 2009, com enredo sobre os “80 Anos de Imigração Japonesa na Amazônia”. Como lembra sua porta-bandeira, apenas uma década depois, em 2019, a escola retornou aos desfiles, trazendo junto muitos amigos saudosos, como Catarina Nogueira, quem confeccionou todas as bandeiras da escola desde o primeiro ano, e o premiado carnavalesco Jorge Bittencourt.

Novata outra vez, a Acadêmicos começou no 3º Grupo. Saiu campeã e já otimista para o 2º Grupo, em 2020, também levando o primeiro lugar. Uma trajetória que não pôde ter o sonhado desfecho de reencontro com a taça de campeã do Grupo Especial.

O presidente da Império Pedreirense, Chico Pinto, eleito há duas semanas como novo presidente da Liga das Escolas de Samba de Belém, a ESA, lamentou a despedida. “É uma perda muito grande para o carnaval de Belém. A Acadêmicos era uma potência entre as escolas da cidade, que vinha ajudar em muito no carnaval. Com uma grande história, a gente sabe que é uma perda irreparável vê-la fechando as portas”, diz.

Sem deixar esmorecer

Com a saída de cena da Acadêmicos de Samba da Pedreira, quem assumiria o acesso ao Grupo Especial é o Grêmio Recreativo Carnavalesco e Cultural Os Colibris, do mesmo bairro. “Estamos esperando que seja oficializado. Não podemos negar a ansiedade, todos sabem do grande sonho, principalmente do meu esposo que foi um dos fundadores, o saudoso Alex Meirelles, de a escola ir para o Grupo Especial”, comentou a presidente de honra Tatiane Meirelles.

Porém mesmo com essa possibilidade, Os Colibris estão com sua agenda suspensa, como acontece com boa parte das escolas de samba desde o início da pandemia, que obrigou suas sedes e barracões a serem fechados. Tatiane diz que nem o enredo foi definido por lá. “Devido à pandemia, tudo atrasou, ficou parado e agora que a vida está tentando voltar ao normal, mas normal mesmo a gente sabe que será impossível, afinal perdemos muitos amigos, entes queridos. Sabemos que agora temos que seguir a vida, se reunir o mais breve possível e definir o nosso enredo”, avisa.

Acadêmicos da Pedreira anuncia fim de atividades
📷 |Reprodução

As demais escolas do grupo especial, também aguardam o momento de prosseguir na organização de seus desfiles. “Algumas estão escolhendo enredo, outras já escolhem o samba. Mas a gente depende da definição do poder público. Enquanto não tem vacina, não podemos nem fazer uma previsão. Acreditamos que não vai ser em fevereiro [como estava previsto], mas esperamos que ocorra em data oportuna”, comenta Chico Pinto, presidente da ESA, sobre o desfile, após uma reunião da liga na última quinta-feira,1°.

Em relação ao setor financeiro, “continua muito complicado”, diz ele. Parados há sete meses, sem nenhuma atividade, agora que algumas escolas estão voltando a fazer ações. A Piratas da Batucada, campeã do carnaval 2020, está rifando um “Kit Círio” esta semana, com pratos para o almoço do próximo domingo. A Xodó da Nega realiza no próprio domingo, 11, a partir das 16h, o “Bingo do Círio”, com cartelas sendo vendidas a R$3. A Bole-Bole realizou um festival da maniçoba, arrumou tudo em potinhos de 500g, fez delivery e um almoço para um número limitado de pessoas em sua sede.

“A gente tem conseguido sobreviver assim, vai lançar uma rifa, fez o festival de maniçoba, para ir pagando isso e aquilo, como uma conta de luz”, comenta Herivelto Martins, presidente da Bole-Bole. As escolas também têm se unido mas para dividir custos de lives e apoiar campanhas de arrecadação de cestas para seus brincantes que passam por dificuldades. “Quando puder fazer eventos, a gente está pensando fazer em conjunto. Na primeira live arrecadamos cesta básica para a comunidade da própria escola. Agora, não é só para arrecadar algo, as lives são também para nos manter vivos, mostrar que a escola continua, não deixar esmorecer”, completa.

Expectativa

Nos bastidores, as escolas acompanham atentas à movimentação, especialmente as que envolvem políticas públicas que possam minimizar os riscos de mais escolas entrarem em extinção. “Em Belém, o prefeito não vem para reeleição, então fica uma interrogação muito grande, não temos ideia de quem vai ser o próximo gestor municipal, não temos nem como discutir o carnaval com eles agora”, diz Chico. A “Lei Aldir Blanc” para auxílio emergencial na cultura é aguardada com grande expectativa. “São sete meses sem atividade, então tem sede com energia cortada. Saindo esse recurso, isso vai ser para amenizar alguns débitos que tem, principalmente de água e luz”, comenta.

Os dirigentes acreditam que assim que for possível prever uma data e o tempo necessário para realizarem seus eventos e arrecadarem o necessário, é possível construir o desfile das escolas em cerca de 50 dias. Mas desejam que os gestores públicos não esqueçam que as escolas não são apenas entretenimento. “A gente espera que o próximo prefeito tenha comprometimento com saúde, educação e cultura. O bairro onde é minha escola tem grande índice de criminalidade e a gente faz um trabalho que diminui isso, trazendo as crianças e jovens para a escola, para a música, a dança, mostrando um outro lado da vida. Não queremos retornar só os eventos, mas os projetos sociais da escola”, diz Chico.

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