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Pesquisa mostra que Brasil perdeu leitores e queda do consumo de livros

Em quatro anos, entre 2015 e 2019, o número de leitores no Brasil diminuiu cerca de 4,6 milhões. É o que demonstram os resultados da 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgados pelo Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural. E essa queda a

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Imagem ilustrativa da notícia Pesquisa mostra que Brasil perdeu leitores e queda do consumo de livros camera Maior acesso a outras atividades off e on-line afastam brasileiros dos livros. Mas o tempo de leitura cresceu entre as crianças | Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em quatro anos, entre 2015 e 2019, o número de leitores no Brasil diminuiu cerca de 4,6 milhões. É o que demonstram os resultados da 5ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgados pelo Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural. E essa queda aconteceu entre os mais ricos e escolarizados, o que representa uma diminuição de 4% no nível geral de leitura no país.

“Quanto mais acesso as pessoas têm, mais terão acesso às atividades off e on-line. As pessoas estão passando muito mais tempo no WhatsApp e Facebook, deixando de lado a leitura”, diz Rosi Rosendo, diretora de Contas/Ibope Inteligência.

E olha que a pesquisa foi bem generosa ao definir um leitor, pois levou em consideração a pessoa que leu um livro nos últimos três meses, inteiro ou em partes. Três em cada dez pessoas entrevistadas declararam ter feito isso. O público alvo abrange a população a partir de cinco anos de idade, alfabetizados ou não, as diversas faixas de escolaridade, ambos os gêneros e todas as classes e faixas de renda familiar.

De acordo com os dados da pesquisa, atualmente o Brasil conta com 52% de leitores (ou 100,1 milhões de pessoas), o que representa uma diminuição de aproximadamente 4,6 milhões de leitores em relação à edição anterior da pesquisa, de 2015, quando o percentual de leitores era de 56%. Com exceção da faixa etária entre 5 a 10 anos, que apresentou um acréscimo de 4 pontos percentuais na proporção de leitores, todas as outras faixas de idade apresentaram estabilidade ou decréscimo entre as duas edições da pesquisa. Ou seja, as crianças estão lendo mais. Já as principais reduções ocorreram entre adolescentes de 14 a 17 anos e jovens de 18 a 24 anos, e entre indivíduos com nível de escolaridade médio e superior. O decréscimo atingiu também todas as faixas de renda familiar.

São dados impactantes, a gente precisa provocar uma reflexão para tentar mudar esse retrato. Esses números precisam chegar a toda a sociedade civil e aos governos”, diz Zoara Failla, coordenadora da pesquisa.

Sem tempo e sem prazer

A falta de tempo é o principal motivo apontado tanto por leitores (47%) quanto não leitores (34%) para o fato de não terem lido mais. Entre os últimos, 28% afirmam não ler mais porque “não gostam”, e 14% porque “não têm paciência”. As dificuldades na leitura existem: 19% dos brasileiros reclamam de ler devagar, e 13% se queixam de falta de concentração. Uma a cada dez pessoas afirma não compreender a maior parte do que lê. Mas quando tem esse tempo livre, na rotina usa a internet.

A forma como o brasileiro usava o tempo livre em 2019 acompanhou a tendência dos últimos anos: perde força a TV (67%, contra 73% antes) e cresce o uso da internet (66%, contra 47% em 2015) e do WhatsApp (62%, contra 43% em 2015). A leitura de livros em papel ou digitais se manteve no mesmo patamar (24%).

“O número de pessoas que usam seu tempo livre com a internet e redes sociais cresceu muito e vai aumentando conforme a leitura vai caindo. Não podemos esquecer que vivemos uma crise, eu vejo um impacto no acesso aos livros, a queda dos números de livros indicados na escola, tudo isso contribui para ter essa redução”, afirma Zoara Failla.

Apesar dessa redução no percentual de leitores, a média de livros lidos em um período de três meses se manteve estável – passou de 2,54 em 2015 para 2,60 em 2019. O brasileiro leu 1,05 livro por inteiro, contra 1,06 em 2015, enquanto os livros lidos em parte foram em média 1,55 em 2019 contra 1,47 em 2015. Nos três meses anteriores à coleta de dados, 52 milhões de pessoas compraram algum livro, em papel ou em formato digital. Dos que costumam comprar livros, 35% utilizam livrarias físicas, 14% compram em bancas de jornal e revista, 12% fazem aquisições on-line e 9% procuram sebos, entre outras alternativas.

Professor ainda é o maior incentivador

Especificamente sobre o gênero literatura, foram obtidos alguns resultados relevantes. Observa-se que o professor é o maior responsável por incentivar o interesse dos alunos (52%), porém os filmes baseados em livros também foram um fator de interesse (48%), assim como a indicação de amigos (41%) e a identificação com o autor (35%).

“É fundamental investir nesse mediador da leitura. As crianças que vêm das famílias mais vulneráveis precisam desse mediador. Como estão as escolas infantis públicas? Não tem espaço multiliterário para essas crianças, 66% das escolas não têm esse espaço. Precisamos de políticas públicas para que o professor, que é esse mediador, possa formar esses agentes. Falta vontade política para formar e mudar esse país”, pontua Zoara.

Os leitores de literatura leram mais livros deste gênero por vontade própria (2,89 livros em 3 meses) e por inteiro (2,28 livros no período) do que os leitores de livros em geral.

Embora a internet e as redes sociais estejam mostrando sua força nos hábitos de leitura, a preferência de 67% dos leitores que já leram livros digitais é pelo papel impresso. Apenas 17% declaram preferir o livro digital.

Ainda assim, os livros digitais já são bem conhecidos pelos brasileiros (44% ouviram falar e, desses, 37% já leram nesse formato). Mas a maioria dos que já leram nesse formato baixa os livros oferecidos gratuitamente pela internet (88%).

O celular é o dispositivo mais utilizado para ler os conteúdos (73%); o computador é usado por cerca de 31% dos leitores e menos de 10% leram no tablet, iPad ou em leitores digitais como Kindle, Kobo e Lev.

Quanto ao audiolivro, cerca de 20% dos brasileiros já ouviram livros dessa forma. O consumo desse formato de livro foi ainda mais frequente entre os indivíduos com ensino superior (40%), pertencentes à classe B (31%) e entre os leitores de literatura (33%).

Confira alguns pontos indicados no levantamento

Os preferidos

A Bíblia ainda foi o livro mais citado em 2019 pelos leitores, quando questionados sobre os gêneros que mais costumam ler. Na sequência, vieram os livros de contos, romances e livros religiosos. Apesar disso, a menção à Bíblia apresentou um decréscimo em comparação a 2015 – de 42% para 35% em 2019.

Entre os autores preferidos dos brasileiros, o mais citado foi Machado de Assis, seguido por Monteiro Lobato e Augusto Cury. Entre os estrangeiros, destacam-se as escritoras J. K. Rowling e Agatha Christie.

Leitura em casa

A casa é o lugar onde a maior parte dos leitores brasileiros costuma ler (82%). Cerca de um quarto deles (23%) têm o hábito de ler na sala de aula e 15% vão à biblioteca da escola ou faculdade.

Quem vai à biblioteca

Segundo a pesquisa, 34 milhões de pessoas frequentam bibliotecas no País, sendo a maioria pertencente à classe C (49%), seguida das classes B, com 26%, e D/E, com 21%. Os estudantes são 60% dos frequentadores. A principal motivação para ir à biblioteca é ler livros para pesquisar ou estudar (51%) e, em seguida, ler por prazer (33%).

De modo geral, os frequentadores consideram que as bibliotecas têm bom atendimento (96%), apesar de apenas 57% declararem que encontram todos os livros que procuram. Entre aqueles que não frequentam bibliotecas, 34% alegam falta de tempo e 20% dizem não gostar de ler. Vale destacar que 13% deles mencionaram não haver biblioteca próxima para frequentar.

A metodologia

Nessa edição o número de entrevistas foi ampliado de cinco mil para oito mil, permitindo a leitura dos resultados por capital, além das cinco regiões brasileiras.

A edição também dedicou um módulo específico aos hábitos de leitura de literatura dos leitores brasileiros, com mais dados sobre os fatores e influências no interesse por literatura, autores preferidos e formatos e/ou dispositivos escolhidos.

O objetivo do levantamento é conhecer o comportamento do leitor brasileiro, a partir dos cinco anos de idade, medindo a intensidade, forma, limitações, motivação, condições de acesso ao livro – impresso e digital – pela população, orientado para contribuir com as políticas públicas e expandir o público leitor.

‍A coleta de dados foi encomendada ao Ibope Inteligência, por meio de entrevistas domiciliares, face a face, com registro das respostas em tablets, e aconteceu entre 28 de outubro de 2019 a 13 de janeiro de 2020, ou seja, meses antes da pandemia resultante do coronavírus, não havendo, portanto, interferência dessa situação na realização ou nos resultados da pesquisa.

‍No total, foram realizadas 8.076 entrevistas em 208 municípios, sendo 5.874 nas capitais de 26 estados. Os resultados da pesquisa podem ser analisados para o total do Brasil, pelas cinco regiões e por capitais. Eles foram ponderados considerando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2017, do IBGE. Com um intervalo de confiança estimado de 95%, a margem de erro máxima estimada é de 1,1 p.p. para mais ou para menos, sobre os resultados encontrados no total da amostra.

*Com Agência O Globo

Dados completos

A pesquisa está à disposição para leitura ou download no site do Instituto Pró-Livro (www.prolivro.org.br)

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