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CÍRIO 2020

Homenagens serão adaptadas para evitar aglomerações

A caminhada realizada pela Associação de Devotos e Romeiros de Nossa Senhora de Nazaré de Castanhal será substituída por carreata. Já o Grupo Sagrado Coração de Jesus fará peregrinações com no máximo 10 pessoas

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Imagem ilustrativa da notícia Homenagens serão adaptadas para evitar aglomerações camera Procissões foram canceladas | Mauro Ângelo

Mesmo com o cancelamento das procissões do Círio 2020, medida anunciada na última quinta-feira (06) pelo arcebispo metropolitano Dom Alberto Taveira Corrêa, devotos e peregrinos fazem questão de manter as suas homenagens para Nossa Senhora de Nazaré, em um formato diferente, adotando as medidas de prevenção contra a Covid-19.

Todos os anos, entre os dias que antecedem a festa católica, romeiros de diversas partes do Estado demonstram a sua fé, caminhando até a Basílica Santuário, em Belém. Esse ano a tradição não irá se repetir. Mas muitos fiéis buscam meios alternativos para celebrar Nossa Senhora.

É o caso da Associação de Devotos e Romeiros de Nossa Senhora de Nazaré de Castanhal, que promove uma romaria mariana há 41 anos. O grupo costuma reunir 1.200 pessoas. Eles saem na quarta-feira anterior ao dia do Círio da Igreja Matriz de São José, em Castanhal, e seguem até a Basílica, onde chegam na quinta-feira, em um percurso de 78 km.

“Às 6h30 da manhã tem a bênção da romaria, com o monsenhor Gabriel e saímos às 7h. O percurso tem nove paradas e, para isso, contamos com todo um aparato, onde temos massagistas, água, alimentação. É considerada a romaria mais organizada do Pará. Temos o apoio da PRF, que faz a proteção da romaria, da berlinda de Nossa Senhora, e nos acompanha até Belém. Temos também apoio do Corpo de Bombeiros, que leva uma ambulância, e da Polícia Militar”, informou o vice-presidente da Associação, Renato Roldem Furtado Freire, 52, empresário.

Renato já participa da romaria há 10 anos. Ele é fundador do Terço dos Homens de Castanhal e lembra que os romeiros contam ainda com a solidariedade de muitas pessoas ao longo do trajeto, que, à beira da estrada, distribuem água, frutas e alimentação aos devotos. “É uma tradição que aguardamos todos os anos. Para nós é um agradecimento pelas bênçãos e a proteção de Nossa Senhora. Nossa romaria é mariana mesmo, porque em todo o percurso vamos louvando, rezando e testemunhando. Ano passado rezamos 33 terços”, afirmou.

CARREATA

Mas esse ano, a homenagem será diferente. Renato explica que desde o início da pandemia o grupo já pensava em uma outra forma de homenagear a padroeira. Foi quando surgiu a ideia de realizar uma carreata, fazendo o mesmo trajeto e no mesmo dia em que a romaria costuma acontecer.

“Queremos fazer algo para não passar em branco. Foi sugerida uma carreata, temos uma berlinda linda e, ao invés de irmos a pé, vamos nos dividir em alguns veículos para ir até a Basílica. Normalmente quando chegamos batemos uma foto oficial na escadaria da igreja. Durante o percurso escolhemos um casal para entrar com a imagem e receber a bênção na Basílica. Ainda vamos nos reunir para organizar. Mas a ideia é estacionar e escolher um casal para entrar e receber a bênção”, disse ele, que este ano tem um agradecimento especial para fazer.

“Cheguei em Castanhal em 2009. Casei e depois tive o meu primeiro filho, João Victor, hoje com seis anos. Depois do nascimento dele, com a intercessão de Nossa Senhora, fiz a promessa de que se tivesse outro filho, queria homenagear minha mãe. E ano passado nasceu a minha filha, que chama Maria Madalena, hoje com um ano e dois meses. E no nosso grupo há pessoas que se curaram, que usavam droga e não usam mais, que conseguiram casa. São muitos motivos para agradecer”, garantiu.

PEREGRINAÇÃO

Ao longo de 30 dias antes do Círio, o Grupo Sagrado Coração de Jesus, no bairro do Mangueirão, realiza peregrinações ao visitar casas de famílias católicas no conjunto Carmelândia. É uma tradição que teve início há cerca de 26 anos e que este ano vai ter continuidade, porém, seguindo os protocolos sanitários como distanciamento social, uso de máscara e limite de até 10 pessoas nas reuniões.

Romeiros caminhando por ocasião do Círio do ano passado
📷 Romeiros caminhando por ocasião do Círio do ano passado |Ney Marcondes/Arquivo

Coordenadora do grupo há 20 anos, a dona de casa Maria Florencia de Carvalho Veras, 68, explica que nas novenas os fiéis rezam o terço, entoam cânticos marianos e rezam pelos pedidos dos moradores de cada casa, seja por um doente ou qualquer outra necessidade que aquela pessoa apresente. Este ano, as visitas devem iniciar assim que o grupo receber os livros de peregrinações.

“Com essa situação que a gente viveu muita gente quer pagar promessa e agora vamos ter que dar o jeito de ajudá-los. Vimos acontecer (o cancelamento das procissões) em Salvador, Minas, Goiás. Concordamos com a decisão porque se acontecesse o povo ia todo atrás de Nossa Senhora. Achávamos que não íamos poder fazer encontros nas casas. Ficamos felizes por saber que será permitido, desde que seja feito com um número reduzido de pessoas. Vamos poder agradecer a Deus e à Nossa Senhora”, explicou dona Flora, como é conhecida na comunidade.

Maria Florência de Carvalho
📷 Maria Florência de Carvalho |Wagner Santana

Para o dia do Círio, a ideia do grupo é preparar um café da manhã especial para se reunir e rezar o terço. “Estamos fazendo a nossa parte e Deus vai abençoar a todos independente de religião”, disse ela que, entre as inúmeras graças alcançadas, fala de uma em especial.

“Morava com a minha sogra, teve um Círio que todos foram acompanhar e eu fiquei em casa, cozinhando. Perto de terminar, fui e quando vi nossa Senhora pedi minha casa. Passou o ano todinho. Meu cunhado ofereceu uma casa para meu marido na Cidade Nova. Disse ao meu marido que havia feito um pedido e Nossa Senhora concedeu a graça. Ele fez a casa de madeira igual a nossa e passamos a ir todos os anos pagar essa promessa”, lembra ela, que é viúva.

Há pouco mais de dois anos, a enfermeira Dulcimar Silva, 67, mudou-se de Mosqueiro para Belém. Na Ilha ela participava de um grupo de peregrinação da paróquia de Nossa Senhora do Ó. Morando no conjunto Carmelândia, ela conheceu dona Flora e passou a integrar e, também, coordenar o grupo, junto com sua filha, a professora Tássia Silva, 30.

“Nossa senhora é tudo para mim. Tudo o que eu peço com fé nela, alcanço. Estou há cinco anos afastada do meu trabalho. O processo de aposentadoria ficou arquivado durante esses cinco anos. Mas esse ano fiz uma promessa que se eu conseguisse eu ia agradecer nas nossas peregrinações. Alcancei e graças a Deus já estou aposentada”, contou Dulcimar, que também tem testemunhos de cura na família.

“A minha irmã, cunhados, sobrinhos, umas dez pessoas tiveram a covid e passaram muito mal. Foram internados e a gente fazia terço todas as tardes, eu e minha filha, e todo domingo colocávamos os nomes deles nas missas on-lines. Graças a Deus estão bem. Com procissões ou sem continuamos tendo a mesma fé”, ponderou.

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