 
 O encontro entre Donald Trump e Xi Jinping desta quinta-feira (30), à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Gyeongju, na Coreia do Sul, promete influenciar não apenas o rumo da guerra comercial entre Estados Unidos e China, mas também o papel do Brasil nesse no cenário econômico global.
Trump desembarcou em Gyeongju nesta quarta-feira (29), na terceira e última etapa da viagem dele pela Ásia. Recebido pelo presidente sul-coreano Lee Jae Myung, o americano ganhou uma réplica de uma coroa de ouro de uma antiga dinastia coreana e foi condecorado com a Ordem de Mugunghwa, a mais alta honraria do país.
Mas é o encontro com o presidente chinês que concentra as atenções internacionais. Essa será a primeira reunião presencial entre os dois desde o retorno de Trump à Casa Branca. Até esta quarta-feira (29), a China ainda não havia confirmado oficialmente a reunião, que foi anunciada unilateralmente por Trump.
Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, os dois líderes terão discussões “aprofundadas” sobre “questões estratégicas e de longo prazo relacionadas às relações entre China e Estados Unidos, além de temas importantes de interesse comum”. “Estamos prontos para trabalhar em conjunto com a parte americana para que esse encontro seja um sucesso e produza resultados positivos", acrescentou.
Além disso, Trump também demonstrou confiança para o encontro. “Espero uma excelente reunião com Xi Jinping. Muitos problemas serão resolvidos”, declarou o presidente dos Estados Unidos.
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Expectativas e possíveis acordos
O governo chinês afirma esperar que as duas potências “se encontrem no meio do caminho”, frase usada pelo chanceler Wang Yi em conversa com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, na terça-feira (28). Pequim tenta evitar um novo aumento de tarifas de até 100% sobre produtos chineses, que Trump ameaça impor em resposta às restrições da China às exportações de terras raras, nome dado a minerais estratégicos para a indústria tecnológica.
De acordo com comunicado do Ministério das Relações Exteriores da China, o objetivo é “criar condições para o desenvolvimento das relações bilaterais”. O Departamento de Estado americano confirmou a ligação e disse que Rubio defendeu uma comunicação “aberta e construtiva” entre as duas maiores economias do planeta.
Embora Trump afirme querer focar o encontro em temas comerciais, analistas avaliam que Xi Jinping deve tentar incluir a questão de Taiwan nas negociações. Pequim quer que Washington reafirme que não apoia a independência da ilha, posição que constava em declarações anteriores, mas que recentemente deixou de aparecer em documentos oficiais do Departamento de Estado.
Em resposta, o chanceler de Taiwan, Lin Chia-lung, afirmou que as relações com os Estados Unidos seguem “muito estáveis” e rejeitou qualquer temor de abandono, destacando a cooperação em segurança e comércio. Pequim reagiu com irritação, chamando as declarações de “vergonhosas” e pedindo que Washington trate o tema com “cautela e prudência”.
Impactos no agronegócio e no Brasil
A reunião entre os líderes também é observada de perto pelo setor agrícola dos Estados Unidos. Os produtores de soja esperam que o encontro traga algum alívio à crise gerada pela guerra comercial. Desde que Trump impôs tarifas a produtos chineses, Pequim praticamente suspendeu as importações de soja americana, um golpe duro para os agricultores.
Com isso, o Brasil se tornou o principal fornecedor do grão à China. Segundo dados do Banco Mundial, hoje, cerca de 70% da soja importada pelos chineses é brasileira, contra apenas 21% de origem americana. Um eventual acordo entre Washington e Pequim pode alterar esse equilíbrio e afetar diretamente o mercado brasileiro.
Além disso, as terras raras, minerais essenciais para a produção de eletrônicos, veículos elétricos e equipamentos médicos, também devem estar na pauta do encontro. A China domina cerca de 70% do processamento mundial desses materiais, o que lhe garante poder estratégico nas negociações.
Por outro lado, os Estados Unidos tentam diversificar fornecedores e reduzir a dependência, buscando parcerias com países como Austrália, Japão, Malásia e, mais recentemente, com o Brasil, que possui as segundas maiores reservas de terras raras do mundo e vem se tornando um parceiro potencialmente estratégico para Washington.
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Cenário tarifário e próximos passos
Desde fevereiro, os Estados Unidos mantêm uma tarifa de 20% sobre produtos químicos usados na produção de fentanil. Trump já indicou que pode reduzir essa taxa pela metade, caso Pequim adote medidas mais duras contra o tráfico da substância.
Contudo, novas medidas estão no horizonte. A partir de 1º de novembro, Washington pode aplicar uma tarifa de 100% sobre as exportações chinesas de terras raras, em resposta às restrições impostas por Pequim. Além disso, o governo americano ameaça sobretaxar produtos chineses se a China continuar comprando petróleo da Rússia e da Venezuela, uma forma de pressionar indiretamente Moscou e Caracas.
Com esse cenário, o resultado do encontro entre Trump e Xi vai além da cúpula da Apec. A reunião pode redefinir as relações comerciais entre Estados Unidos e China, reconfigurar o mercado global de commodities e reposicionar o Brasil em uma disputa que envolve poder econômico, influência política e recursos estratégicos.
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