O que era para ser uma comemoração festiva após dois anos de isolamento severo imposto pela pandemia de Covid-19, o Halloween nas ruas de Seul, capital da Coreia do Sul, terminou em uma tragédia sem precedentes.
Ao menos 153 pessoas morreram e outras 150 ficaram feridas em um tumulto depois que uma multidão se reuniu nas ruas estreitas do bairro Itaewon, na região central da capital sul-coreana, na noite do último sábado (29).
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Muito se especulou sobre o que teria provocado a morte em massa de centenas de participantes da tradicional festa. A principal explicação diz respeito a um possível tumulto ocorrido em um beco junto à saída 2 do metrô de Itaewon. Na correria em um espaço mínimo, algumas vítimas foram prensadas e morreram pisoteadas. Outras foram asfixiadas pela multidão.
Esta já é a pior tragédia no país desde o naufrágio do navio Sewol, há oito anos, quando 304 pessoas morreram, a maioria estudantes de ensino médio.
Entenda alguns pontos sobre o ocorrido:
INVESTIGAÇÃO
Choi Sung-beom, chefe dos bombeiros do distrito de Yongsan, onde fica Itaewon, afirmou à agência de notícias Reuters que todas as mortes provavelmente foram causadas pelo esmagamento no beco estreito, mas as autoridades disseram que ainda estão investigando as causas exatas. Ao menos 22 estrangeiros estão entre os mortos, segundo informou uma TV estatal, sem especificar as nacionalidades.
RESGATE
Vídeos nas redes sociais mostram socorristas tentando ressuscitar as pessoas deitadas no asfalto com massagens no peito. Em outro vídeo é possível ver bombeiros carregando macas com corpos cobertos por sacos plásticos. Muitas das vítimas eram mulheres na faixa dos 20 anos, segundo o Corpo de Bombeiros.
O LOCAL
Itaewon é conhecido por sua intensa vida noturna, com bares, boates e restaurantes, e tem caráter cosmopolita e internacional, com a presença de muitos turistas e estrangeiros. A região já abrigou a principal base militar dos Estados Unidos na Coreia do Sul.
A estimativa é de que 100 mil pessoas estivessem pelas ruas do bairro na noite da tragédia, segundo a imprensa local, celebrando o primeiro Halloween dos últimos três anos sem as restrições da pandemia. Muitos tinham seus rostos maquiados, usavam máscaras e fantasias.
RELATOS
Celebrar o Halloween na região faz parte do calendário da cidade, segundo o jornalista e consultor econômico carioca Thiago Mattos, em entrevista à Folha de S. Paulo. Ele vive em Seul há cinco anos.
Thiago relata ter visto corpos sendo removidos por paramédicos, mas inicialmente pensou que eram pessoas que haviam bebido demais sendo retiradas do local devido à embriaguez, algo que ele diz ser relativamente comum durante a festa.
"Quando eu fui vendo mais um, mais um e outro, tem alguma coisa errada, não é possível que seja tanta gente alcoolizada ao mesmo tempo. Quando cheguei na rua principal, onde os carros trafegam, vi que havia um oceano de ambulâncias e paramédicos chegando. Foi só aí que eu percebi a dimensão da situação", diz ele, acrescentando que a região não parecia mais cheia do que o normal para um Halloween.
Outras testemunhas, contudo, relataram sinais claros de problemas nos becos antes do incidente. Moon Ju-young, 21, disse à Reuters que a região "estava pelo menos dez vezes mais lotada do que o normal" e que a polícia "tinha dificuldade para manter o controle da multidão".
João Brasil, 23, estudante universitário de Belo Horizonte que faz intercâmbio em Seul, contou à Folha que Itaewon, tradicionalmente cheio aos fins de semana, estava tão lotado que era difícil de caminhar.
"Era uma força muito forte, ao ponto de não ter como suportar. Por muita sorte, a gente conseguiu colocar a mão na parede, a gente se sustentou na parede, e as pessoas no meio passando, igual um tsunami. Não tinha como fazer nada", afirma ele. Além dos moradores de Seul, o estudante diz que muita gente de cidades vizinhas foi curtir o Halloween no bairro.
CAOS TOTAL
Quando os veículos de emergência começaram a chegar, engarrafamentos e aglomerações de pedestres restringiam os movimentos, tanto na entrada quanto na saída do local das mortes.
Uma testemunha afirmou à Reuters que um necrotério improvisado foi instalado em um prédio adjacente ao local. Cerca de 50 corpos foram transportados para o ginásio Wonhyoro para que fossem identificados por suas famílias, segundo informaram agentes do governo. Os outros foram levados para hospitais.
Enquanto as vítimas eram resgatadas, as autoridades criaram um centro improvisado de gerenciamento de desastres e uma clínica de primeiros socorros em frente ao Hamilton Hotel, perto do local da tragédia.
REPERCUSSÃO INTERNACIONAL
Horas depois do ocorrido, na manhã deste domingo (30) no horário local, o presidente expressou condolências pelas vítimas e desejos de rápida recuperação aos feridos enquanto visitava o local da tragédia. Ele decretou um período de luto nacional.
Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, se disse "profundamente entristecido pelos terríveis eventos no centro de Seul" e que está com a população da Coreia, em uma postagem no Twitter.
Deeply saddened by the terrible events in central Seoul. What meant to be a celebration turned into a tragedy with so many young casualties.
— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) October 29, 2022
We are with the people of the Republic of Korea at this difficult moment.
O presidente americano, Joe Biden, Biden expressou condolências às famílias das vítimas e desejou rápida recuperação para os feridos. "Os Estados Unidos estão com a República da Coreia durante este período trágico", disse.
O papa Francisco dedicou sua tradicional oração às vítimas sul-coreanas "que morreram em consequência trágica do repentino tumulto da multidão".
E rezemos ao Senhor Ressuscitado também por todos aqueles - especialmente os jovens - que morreram esta noite em #Seul, devido às trágicas consequências de uma improvisa debandada da multidão.
— Papa Francisco (@Pontifex_pt) October 30, 2022
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