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Biogás leva benefícios para produtores no sudeste do Pará

A Unifesspa, através do projeto Bioconstruções, implementa biodigestores que transformam matéria orgânica, como fezes e urina de animais e outros resíduos, em biogás

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Imagem ilustrativa da notícia Biogás leva benefícios para produtores no sudeste do Pará camera Os biodigestores auxiliam os produtores rurais | Divulgação

Resíduos orgânicos que são despejados na natureza são os elementos principais para a produção do biogás, biocombustível que vem sendo utilizado para auxiliar o cenário energético em vários países do mundo. Essa energia pode ser utilizada na forma elétrica, térmica, mecânica e convertida em biometano, comumente utilizado em cozinhas de casas e restaurantes. A reportagem de hoje do projeto Tecnologias Sustentáveis traz duas iniciativas que vêm auxiliando produtores rurais e uma empresa na capital.

A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), através do projeto Bioconstruções, implementou, no segundo semestre do ano passado, na zona rural do município de Canaã dos Carajás, o primeiro biodigestor que transforma matéria orgânica, como fezes e urina de animais e outros resíduos, em biogás – que substitui o gás tradicional e pode até ser usado em geradores elétricos nas propriedades -, e biofertilizante, que substitui o adubo químico e são utilizados nas hortas, sistemas agroflorestais e pastos.

Os biodigestores auxiliam produtores rurais que, em contrapartida, concedem 1 hectare de sua propriedade para que seja instalado um sistema sustentável de produção, o agrosilvopastoril, que será acompanhado pela Unifesspa e alunos do curso de agronomia. “Quatro dias depois do sistema instalado o produtor já tem o gás funcionando no fogão da cozinha de sua casa”, destaca David Dourado, pós-doutor em Engenharia de Biomateriais, professor do Instituto do Desenvolvimento Agrário e Regional (IEDAR) da universidade e coordenador do projeto.

O sistema utiliza fezes de suínos, caprinos, bovinos ou equinos que são misturadas a determinada proporção de água, dependendo do tipo de dejeto animal. Os produtos (água+fezes) são inseridos numa caixa de alimentação e, em seguida, guiadas por um cano subterrâneo. Todo esse dejeto é depositado numa manilha de fermentação.

Sistema é considerado de baixo custo
📷 Sistema é considerado de baixo custo |Divulgação

“O processo de quebra anaeróbia da matéria orgânica ocorre na manilha (tubo) de fermentação onde nós colocamos uma caixa d’água com a boca voltada para baixo que, guiada por um suporte, faz ela subir e descer em função do volume de biogás produzido. Este gás será diretamente ligado ao fogão da cozinha das casas”, detalha. Com o tempo, a matéria orgânica é biodigerida e direcionada à caixa de descarga, também chamada caixa de biofertilizante.

Muitos municípios das regiões sul e sudeste do Estado já procuraram o pesquisador para instalar o sistema, considerado de baixo custo, rápida instalação e de grande retorno econômico. “Hoje o gás de cozinha custa em média R$ 100,00 e um saco de adubo químico R$ 200,00 e ao instalar o sistema ele rapidamente se paga, com resultados muito bons. O custo do investimento fica em torno de R$ 3 mil”, afirma.

O sistema pode ser financiado pelo próprio produtor rural, por órgãos de fomento ou pelo governo municipal ou estadual, como no caso da Secretaria de Estado de Agricultura que financiou os primeiros 20 biodigestores para São Domingos do Araguaia. “A prefeitura de Canaã dos Carajás também financiou os 4 primeiros equipamentos em parceria com os produtores rurais”. Hoje já estão em funcionamento aproximadamente 150 biodigestores nas regiões sul e sudeste do Pará.

“É um projeto socioambiental e econômico baseado na inovação e tecnologia e de viés sustentável. Alia o ensino, pesquisa e extensão à cadeia produtiva agrícola do município de Canaã dos Carajás e de toda a região sul e sudeste do Pará”.

Restos de alimentos são usados na geração do gás

A tecnologia do biogás também chegou com força total à região das ilhas de Belém que, nos últimos anos, vem apostando em modelos de sustentabilidade para reduzir custos e aproveitar ao máximo o potencial da natureza local. A experiência alcançou visibilidade na ilha do Combu, que se tornou um polo turístico e gastronômico em Belém. Lá a comunidade aprendeu que o lixo produzido pode se reverter em renda e também fonte para um modelo de vida sustentável importante para a região ribeirinha.

A empresária Prazeres Quaresma instalou uma mini usina de biogás no seu restaurante
📷 A empresária Prazeres Quaresma instalou uma mini usina de biogás no seu restaurante |Mauro Ângelo

A empresária Prazeres Quaresma foi uma das pioneiras a implantar um modelo de gestão sustentável no restaurante Saldosa Maloca, de sua propriedade, especializado em mariscos e comidas oriundas da floresta. É um dos estabelecimentos mais frequentados da ilha.

Na parte de trás do restaurante, Prazeres ergueu em junho de 2019 uma mini usina de biogás, encomendada de uma empresa de São Paulo. Os restos de comida dos clientes são reunidos e despejados num sistema composto por 4 grandes aparelhos que decompõem os alimentos gerando o gás que é levado por um sistema de encanamento diretamente aos fogões instalados na cozinha do restaurante.

Um segundo sistema de tubos realiza o escoamento do líquido produzido no processo de decomposição que mais tarde será usado como biofertilizante na sua propriedade. Segundo ela, a economia com a compra de gás alcança 15%. “Após um período de uso, os biodigestores otimizaram seu funcionamento, fornecendo um gás mais consistente, de melhor qualidade. Ainda não abdiquei totalmente do gás convencional, mas a economia é clara”, diz.

Prazeres ressaltou que cada bolsa do sistema custou R$ 5.900,00 com vida útil de 25 anos, período que reduzirá seus gastos com a compra de botijão de gás. “Acho que além da economia do gás, o grande ganho com o sistema é poder utilizar o lixo orgânico que o restaurante produz em benefício do próprio estabelecimento, auxiliando na redução dosresíduos”, destaca.

Cada bolsa da usina produz até treze quilos de gás de cozinha, dependendo da quantidade de restos de comida armazenados. Essa quantidade é a mesma que contém num botijão doméstico. O sistema pode absorver até 8 quilos de resíduos por dia.

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