Novas mensagens ligam Edcley a mais duas questões do Enem

O escândalo envolvendo o estudante de medicina Edcley Teixeira ganhou novos capítulos nesta semana. Mensagens obtidas em um grupo de WhatsApp mostram que, já em março de 2025, oito meses antes do Enem, ele indicou respostas exatas de duas questões de matemática que posteriormente apareceram, com números idênticos, no exame oficial. Diferentemente das três perguntas anuladas pelo governo, essas continuam válidas segundo o Inep.

Duas perguntas de matemática, a de probabilidade envolvendo lançamento de dados e a que trata de concentração de soluções, apresentaram números exatamente iguais aos compartilhados por Edcley para os alunos dele meses antes da prova.

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Em 17 de março de 2025, ele enviou ao grupo com centenas de estudantes que haviam contratado as mentorias a mensagem. “Uma coisa eu garanto: se cair no Enem, pode marcar ‘125/216’ sem medo de ser feliz… Nem leia, não”, disse.

Em novembro, o Enem 2025 trouxe uma questão sobre lançamento de dados cúbicos. O gabarito oficial apontou como correta justamente a alternativa que dizia: “Artur, com possibilidade de 125/216”. O item estava nas posições 178 (prova azul), 176 (cinza), 169 (amarela) e 172 (verde).

No mesmo mês de março, ele também repassou outra situação-problema ao grupo: “Você tem 10 ml de uma solução com concentração de 99,95% de água e o restante de cloro. [De] quantos mililitros de água pura você precisaria adicionar a essa solução para que a concentração de água passe a ser de 99,90%?. Resposta: 5", enviou.

Essa outra pergunta também reapareceu no Enem, com conteúdo quase idêntico e apenas uma variação de unidade de medida. A resposta correta, novamente, era 5 (alternativa “e”). Nenhuma das duas questões foi anulada pelo Inep.

Veja as mensagens:

Como Edcley teria acessado o conteúdo?

Edcley alega ter identificado que o Prêmio Capes de Talento Universitário utilizava perguntas que serviam como pré-testes para o Enem e percebeu que esses itens poderiam ser aproveitados em edições futuras do exame. A partir dessa descoberta, passou a estimular calouros de universidades a participar do concurso, com o objetivo de reunir o máximo possível de questões aplicadas na avaliação.

Para ampliar o acesso a esse material, ele começou a oferecer pagamentos aos estudantes que conseguissem memorizar cada item apresentado no concurso. Dessa forma, formou um acervo crescente de perguntas semelhantes ao modelo utilizado pelo Inep, criando o que chamava de “banco de itens”, material que utilizava posteriormente nas aulas e mentorias para candidatos ao Enem.

Esse conteúdo, organizado e revisado por ele, passou então a ser comercializado em pacotes de mentoria, reforçando a estratégia que adotou para antecipar temas e formatos de questões. O banco de itens se tornou parte central das aulas dele e dos PDFs distribuídos aos alunos, que recebiam orientações baseadas no material coletado meses antes da prova oficial.

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Edcley nega conhecimento prévio das perguntas

Em entrevista ao programa Fantástico, que foi ao ar neste domingo (23), Edcley Teixeira se defendeu das acusações e negou saber antecipadamente que as questões que ele havia compartilhado com os alunos seriam usadas no Enem. Para ele, as semelhanças entre as perguntas que ele divulgou e as questões do exame seriam apenas coincidências. O estudante reafirmou que não teve qualquer tipo de acesso privilegiado ao conteúdo da prova antes da aplicação dela.

O governo e o Inep têm se posicionado de maneira clara sobre o episódio. O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que o Enem 2025 permanece válido e que o resultado final será publicado em janeiro de 2026. Para ele, não há razão para questionar a validade da prova, apesar das investigações em andamento. O presidente do Inep, Manuel Palacios, também declarou que não há risco técnico de fraude no exame deste ano e que nenhum candidato foi prejudicado pela divulgação antecipada de questões por Edcley.

Apesar das declarações das autoridades, a Polícia Federal segue conduzindo as investigações sobre o caso, tendo inclusive apreendido o computador e o celular do estudante. No entanto, Palacios reafirmou que a segurança do Enem não foi comprometida, deixando claro que “não há a menor chance de que um item memorizado por um estudante afete a segurança do Enem”. As autoridades garantem que o episódio não afetou a equidade ou a validade do exame.