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Entregadores tem maior jornada de trabalho e menos ganho. Veja!

Segundo pesquisa, os trabalhadores têm flexibilidade de horário, mas pouca autonomia sobre valores recebidos.

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Imagem ilustrativa da notícia Entregadores tem maior jornada de trabalho e menos ganho. Veja! camera A pesquisa investigou a influência das plataformas sobre a jornada de trabalho, desde incentivos para cumprir determinados prazos até ameaças de punições e sugestão de turnos e dias. | Paulo Pinto / Agência Brasil

Embora 86,1% dos trabalhadores por aplicativos atuem por conta própria e defendam a maior flexibilidade com relação a horários e locais de trabalho, grande parte desses profissionais não tem tanta autonomia quanto aos valores recebidos pelas tarefas realizadas.

Na maior das vezes, tudo é definido pela plataforma. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, cujos resultados sobre trabalho por meio de plataformas digitais no país foram divulgados nesta sexta-feira (17).

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A pesquisa investigou a influência das plataformas sobre a jornada de trabalho, desde incentivos para cumprir determinados prazos até ameaças de punições e sugestão de turnos e dias.

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Plataformas determinam valores e clientes

Entre aqueles que trabalharam com aplicativos de transporte particular de passageiros, excluindo táxis, em 2024, impressionantes 91,2% afirmaram que o valor recebido era determinado pelo aplicativo.

Já para os que trabalham com entregas de produtos e serviços, o percentual foi de 81,3%, ligeiramente menor mas ainda representando a grande maioria.

A questão da escolha dos clientes revela outra faceta da limitada autonomia desses trabalhadores.

Para 76,7% dos que trabalham em apps de transporte, a plataforma determinava os clientes a serem atendidos. Para entregadores, esse número foi de 73,5%, demonstrando que em ambas as categorias a decisão sobre com quem trabalhar raramente está nas mãos do profissional.

Como as plataformas influenciam a jornada

Quanto ao prazo para realização das tarefas, 70,4% dos que trabalham com entregas disseram que isso é algo definido pela plataforma, criando pressão constante por agilidade e eficiência determinadas externamente.

A maioria dos motoristas de aplicativo, 78,5%, informou que a jornada de trabalho era influenciada pela possibilidade de escolha de dias e horários de forma independente, o que representa o principal atrativo dessa modalidade.

No entanto, outros mecanismos de influência também são significativos. Mais da metade dos motoristas, 55,8%, disse ser por meio de incentivos, bônus ou promoções que mudam os preços.

Cerca de um terço, 31,8%, mencionou ameaças de punições ou bloqueios realizados pela plataforma, e 22,9% citou sugestão de turnos e dias como forma de influência.

Esses dados revelam que, embora a flexibilidade de horário seja real, ela convive com múltiplos mecanismos de controle que limitam a verdadeira autonomia prometida pelo modelo de trabalho por aplicativo.

A realidade dos entregadores: entre a "nuvem" e a estabilidade

Segundo dados do aplicativo de entregas iFood, 75% dos colaboradores da plataforma atuam de forma independente, em uma modalidade chamada "nuvem".

De acordo com o site da empresa, esses profissionais têm autonomia para escolher como, onde e quando desejam realizar as entregas. Na prática, porém, essa liberdade pode significar menos trabalho e renda reduzida.

O dilema da flexibilidade

O entregador Anderson Trajano, de 32 anos, explica que opta pelo modelo "nuvem" por necessidade familiar, não por preferência. Pai de três filhos, ele precisa da possibilidade de interromper o trabalho a qualquer momento para lidar com emergências domésticas.

"Preciso trabalhar nessa modalidade porque tenho três filhos. Se acontece alguma coisa, preciso poder desligar. Mas, pra gente, a demanda é bem menor. Trabalho cerca de dez horas por dia para ganhar, no máximo, R$ 200", relata Anderson.

A conta é simples e reveladora: trabalhando dez horas diárias, o profissional ganha aproximadamente R$ 20 por hora, valor que fica abaixo do salário mínimo proporcional. A flexibilidade, nesse caso, tem um custo financeiro significativo.

Operador Logístico: mais regras, mais entregas

Quem busca mais estabilidade e volume de entregas pode optar pela modalidade Operador Logístico (OL), um modelo em que empresas mantêm contrato com o iFood para intermediar os serviços.

Nesse formato, o entregador precisa ter CNPJ, seguir horários fixos e atuar em locais determinados, mas recebe R$ 2,55 por hora trabalhada, independentemente do número de entregas realizadas.

Paulo Roberto e a escolha pelo modelo OL

Paulo Roberto, de 19 anos, faz entregas de bicicleta e tem o Shopping Tijuca, no Rio de Janeiro, como ponto fixo de trabalho. Ele explica as vantagens e limitações do modelo Operador Logístico.

"Para virar OL, precisa de convite e, pelo que sei, eles não estão aceitando funcionários novos. A gente tem prioridade nas corridas, mas também tem regras. Existe um tempo estimado pra cada entrega. Se demorar muito, a pontuação cai e fica mais difícil de chamarem para novas corridas", conta Paulo.

A escolha pela modalidade OL se deve à vantagem de conseguir as melhores corridas e ter prioridade no sistema.

Morador do Morro do Borel, Paulo concluiu o ensino médio no último ano e agora planeja fazer um curso de especialização para mudar de profissão, enxergando o trabalho de entregador como transitório.

"Quem não é OL demora a pegar corridas, e pega umas longas ou em ladeiras, pra gente é muito ruim. A gente pega mais corridas, tem prioridade e ganha por hora, isso facilita. Mas quero estudar pra crescer profissionalmente. Aqui, a gente precisa ralar muito pra conseguir ganhar dinheiro. Eu ganho R$ 80 trabalhando seis horas por dia", afirma o jovem.

Fazendo as contas, Paulo recebe aproximadamente R$ 13,33 por hora, valor que ainda está abaixo do salário mínimo proporcional, mesmo com as vantagens do modelo OL.

Para um trabalhador de 19 anos que usa bicicleta como meio de transporte, o desgaste físico é considerável em relação ao ganho financeiro.

O paradoxo da flexibilidade

Os dados do IBGE e os relatos dos trabalhadores revelam um paradoxo fundamental do trabalho por aplicativo: a flexibilidade de horário existe e é valorizada, mas vem acompanhada de dependência quase total das decisões das plataformas sobre valores, clientes e condições de trabalho.

Enquanto motoristas e entregadores são classificados como autônomos ou empreendedores individuais, com toda a carga tributária e ausência de direitos trabalhistas que isso implica, eles têm menos autonomia real sobre seu trabalho do que muitos empregados formais.

Não podem negociar preços, escolher clientes com quem trabalhar ou definir suas próprias condições de prestação de serviço.

Mecanismos de controle disfarçados de incentivos

A pesquisa do IBGE revela como as plataformas exercem controle sobre os trabalhadores sem assumir as responsabilidades de empregador.

Os incentivos, bônus e promoções mencionados por 55,8% dos motoristas funcionam como mecanismos para direcionar o comportamento dos trabalhadores, fazendo-os trabalhar em horários de menor demanda ou em regiões menos desejadas.

As ameaças de punições ou bloqueios, citadas por quase um terço dos motoristas, criam um ambiente de insegurança onde o trabalhador pode perder sua fonte de renda sem aviso prévio ou possibilidade de recurso efetivo.

A sugestão de turnos e dias funciona como forma sutil de controle, criando pressão psicológica para que o trabalhador esteja disponível quando a plataforma precisa.

Desafios de quem trabalha na "nuvem"

O modelo "nuvem" de trabalho, predominante entre os entregadores do iFood, oferece liberdade máxima mas com penalidades severas.

A menor demanda enfrentada por esses trabalhadores significa que a flexibilidade tem um preço: menos oportunidades de trabalho e, consequentemente, menor renda.

Anderson Trajano trabalha o dobro de uma jornada padrão, dez horas diárias, para ganhar no máximo R$ 200.

Isso significa que, em um mês de 26 dias úteis, sua renda máxima seria de R$ 5.200, sem considerar gastos com combustível, manutenção de veículo, alimentação e outros custos operacionais.

Na prática, a renda líquida provavelmente fica significativamente abaixo disso.

A barreira de entrada no modelo OL

O fato de que Paulo Roberto menciona que é necessário convite para se tornar Operador Logístico e que não estão aceitando novos trabalhadores nessa modalidade revela outra dimensão do problema.

Os trabalhadores que conseguem condições ligeiramente melhores são uma minoria selecionada, enquanto a maioria permanece no modelo mais precário.

Essa estrutura cria uma hierarquia entre os próprios trabalhadores de aplicativo, onde alguns têm acesso a condições um pouco melhores enquanto outros ficam limitados às piores oportunidades.

Mesmo assim, até os privilegiados do modelo OL, como Paulo, reconhecem que precisam "ralar muito" para ganhar dinheiro e veem o trabalho como temporário, buscando qualificação para mudar de área.

Perspectivas futuras

Os dados do IBGE e os relatos dos trabalhadores sugerem que o modelo de trabalho por aplicativo, tal como estruturado atualmente, oferece flexibilidade real apenas na dimensão temporal, mas não na dimensão econômica ou decisória.

Os trabalhadores são responsáveis por todos os riscos e custos, mas têm controle mínimo sobre os aspectos fundamentais de seu trabalho.

O debate sobre regulamentação do trabalho por aplicativo continua em diversos países, incluindo o Brasil, com discussões sobre direitos trabalhistas, proteção social e limites para o poder das plataformas.

A pesquisa do IBGE fornece dados importantes para embasar essas discussões, revelando a distância entre o discurso de autonomia e empreendedorismo e a realidade vivida pelos trabalhadores.

Principais números da pesquisa IBGE

Autonomia dos trabalhadores

  • 86,1% atuam por conta própria;
  • 91,2% dos motoristas têm valores determinados pelo app;
  • 81,3% dos entregadores têm valores determinados pelo app;
  • 76,7% dos motoristas têm clientes determinados pela plataforma;
  • 73,5% dos entregadores têm clientes determinados pela plataforma;
  • 70,4% dos entregadores têm prazos definidos pela plataforma.

Influências sobre a jornada de motoristas

  • 78,5% podem escolher dias e horários;
  • 55,8% são influenciados por incentivos e bônus;
  • 31,8% mencionam ameaças de punições;
  • 22,9% recebem sugestões de turnos.
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