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MISOGINIA ONLINE

Da web às eleições: como os red pills viraram ideologia política

Ideias inspiradas em Matrix ganharam vida própria em fóruns online, influenciando movimentos masculinistas, culturas digitais e discursos antifeministas ao redor do mundo.

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Imagem ilustrativa da notícia Da web às eleições: como os red pills viraram ideologia política camera A metáfora de Matrix ganhou novo significado em fóruns online, passando a simbolizar ideais de masculinidade tóxica. | Reprodução/Matrix

Às vezes, um simples filme parece falar mais alto do que qualquer aula ou palestra: Matrix trouxe ao público a metáfora da pílula azul e da pílula vermelha, e, curiosamente, essa escolha de Neo encontrou ecos em debates muito além da ficção. No cinema, ela representa a decisão entre ignorar a realidade ou encará-la; na internet, virou símbolo de ideologias complexas e controversas.

No clássico de 1999, Neo é confrontado por Morpheus com duas opções: tomar a pílula azul e manter sua vida confortável, ou escolher a vermelha e enfrentar a verdade sobre um mundo dominado por máquinas. Ele opta pela vermelha, mergulhando em conhecimento, mas também em dor e luta - um dilema que, décadas depois, ganhou contornos sociais e culturais inesperados.

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Nos anos 2000, fóruns voltados para homens começaram a adotar a metáfora da "pílula vermelha". Inicialmente, artistas da sedução difundiam técnicas de conquista, mas a ideia evoluiu para movimentos masculinistas que alegam que as mulheres estariam cada vez mais privilegiadas na sociedade. Essa rede de discussões, chamada de "machosfera", combina misoginia, teorias da conspiração e noções de autoaperfeiçoamento, defendendo ideias como a de que papéis de gênero são biologicamente determinados.

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MOVIMENTO EXPORTADO PELOS EUA

Os Estados Unidos se tornaram o epicentro ideológico da cultura red pill, que deu origem à comunidade incel - homens que se consideram sexualmente marginalizados e expressam frustração contra mulheres e contra homens sexualmente bem-sucedidos. Atos violentos, como o massacre de Isla Vista em 2014, e figuras como Andrew Tate, que misturam conselhos de autoaperfeiçoamento com discursos de dominância masculina, evidenciam a disseminação da ideologia.

ALGORÍTMOS FAVORECEM ANTIFEMINISMO

Plataformas digitais e algoritmos das redes sociais amplificam o movimento. Conteúdos provocativos, muitas vezes antifeministas, alcançam grandes audiências no YouTube, TikTok e Instagram, com influenciadores aproveitando o sistema para aumentar seguidores, principalmente entre jovens. Na Alemanha, pesquisas recentes, como o Estudo sobre Autoritarismo de Leipzig 2024, mostram que cerca de um quarto da população mantém visões antifeministas consistentes, muitas vezes associadas a tendências extremistas.

"COACH DO CAMPARI" E "MINCELS"

No Brasil, influenciadores como Thiago Schutz, o "coach do Campari", propagam conselhos alinhados à filosofia red pill, misturando autoaperfeiçoamento e regras rígidas sobre relacionamentos, mesmo envolvendo polêmicas legais. Pesquisadores apontam que a politização dos debates sobre gênero e a ausência de discussões escolares contribuíram para a expansão dessa narrativa.

O movimento red pill, no entanto, não é homogêneo: adapta-se a contextos culturais e religiosos, como no caso dos "mincels" muçulmanos, que substituem ideias ocidentais de atração por valores de espiritualidade e masculinidade, legitimando papéis tradicionais com base religiosa.

INFLUÊNCIA CULTURAL

Ainda que restrito a espaços digitais, o fenômeno exerce influência cultural significativa, diz Brigitte Temel, pesquisadora de incels e machosfera. "A metáfora da pílula vermelha fornece uma narrativa simples que traduz frustrações pessoais em uma verdade social aparentemente maior. Eles tiram dinheiro do bolso de homens inseguros", explica.

Assim, a pílula vermelha deixou de ser apenas um recurso cinematográfico para se tornar símbolo de debates complexos sobre gênero, poder e economia na era digital.

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