O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, neste sábado (17), em Havana, que o embargo econômico americano contra Cuba é "ilegal" e condenou a inclusão da ilha caribenha na lista dos Estados Unidos de nações patrocinadoras do terrorismo.
"Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa. E até hoje é vítima de um embargo econômico ilegal. O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo."
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A declaração foi feita durante discurso na cúpula do G77 + China, em Havana. Trata-se de uma coalizão de países em desenvolvimento considerada pela diplomacia brasileira um espaço para coordenar posições sobre a reforma no sistema internacional de governança política e econômica.
O chefe do Executivo, que foi o primeiro líder a discursar no encontro, passará cerca de 24 horas na capital cubana. Ele parte para Nova York no final deste sábado.
O governo Lula afirma que as sanções são uma forma de sufocamento do regime cubano. Em fevereiro passado, antes de uma reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, Lula disse que o bloqueio não faz sentido e prometeu abordar o tema com o americano.
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As sanções afetam também o Brasil financeiramente. Discussões internas do governo brasileiro apontam que o embargo precisa ser abrandado para haver pagamento da dívida que a ilha tem com Brasília no valor de US$ 538 milhões (R$ 2,6 bilhões).
A retirada de Cuba da relação de países que financiam o terrorismo é tida como um "fator determinante" pelo governo brasileiro, afirma um técnico em um documento interno obtido pela Folha de S.Paulo que relata uma reunião preparatória entre integrantes de órgãos do Executivo e de bancos públicos para tratar da dívida cubana.
Cuba foi recolocada na lista americana em 2021 em decisão tomada pelo ex-presidente Donald Trump. E a ilha foi mantida na lista dos países que "não colaboram completamente" na luta contra o terrorismo pelo atual presidente dos EUA, Joe Biden. O ato impõe ainda mais dificuldades comerciais ao país caribenho, para além do embargo aplicado desde a Guerra Fria.
Diplomatas brasileiros dizem que esse tipo de política contribui para o sufocamento de Cuba.
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No mesmo discurso deste sábado, Lula ressaltou outra bandeira da diplomacia brasileira: a de que as discussões sobre enfrentamento às mudanças climáticas, inclusive temas de financiamento, precisam levar em conta o princípio de que existem responsabilidades diferentes entre países ricos e em desenvolvimento.
"Vamos promover a industrialização sustentável, investindo em energias renováveis, na socio-bio-economia e na agricultura de baixo carbono", declarou.
"Faremos isso sem esquecer que não temos a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas permanece válido. É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento, segundo suas necessidades e prioridades".
O chefe do Executivo disse ainda que, até a COP30, que será realizada em Belém, "será necessário insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos pelos países desenvolvidos".
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Após o evento, no hotel em que está hospedado, Lula ressaltou a importância do grupo G77 e não comentou sobre a bilateral que terá com o líder do regime cubano, Miguel Díaz-Canel. "G77 é um grupo muito importante, praticamente começou a briga pela questão de política comercial mais justa no mundo", afirmou.
"Essa discussão de ciência, tecnologia e inovação é muito importante. Eu acho que tudo isso está produzindo uma mudança no comportamento geopolítico dos governantes. O mundo mudou. A oposição mudou, e os governos têm de mudar", disse a jornalistas.
Ainda neste sábado, o mandatário terá ainda uma reunião bilateral com o diretor-geral da FAO (Organização da ONU para Alimentação e Agricultura). Depois, viaja aos EUA, onde participará da Assembleia-Geral da ONU.
Lula está acompanhado da primeira-dama, Janja, e dos ministros Nísia Trindade (Saúde), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação). Celso Amorim, assessor especial da Presidência, também integra a comitiva.
A ministra Nísia assinou na cúpula, com seu homólogo cubano, José Ángel Portal Miranda, um protocolo de cooperação com foco no fortalecimento do complexo industrial da saúde no Brasil. A intenção é a produção de medicamentos e vacinas para doenças crônicas para atender o PNI (Programa Nacional de Imunização) e as necessidades de Cuba.
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