Otoniel Cardoso dos Santos, 48, nunca contribuiu com o INSS (Instituto Nacional de Previdência Social). O trabalhador autônomo morou no exterior até 2010, quando voltou para o Brasil. Continuou trabalhando como representante comercial de pneus e, ao completar 40 anos, começou a se preocupar com a aposentadoria.
Ao buscar um seguro de vida, conheceu a previdência privada: “Após pesquisar e encontrar um plano interessante, me apresentaram alguns investimentos que dariam renda no futuro. Iniciei com algo pequeno que pudesse pagar e fui investindo mais ao longo dos anos.”
Para o futuro, Santos não deseja contribuir com o INSS, por não vê-lo como garantido em uma década. Ele acredita que a Previdência Social não durará até lá –hipótese da qual o consultor de investimentos e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Carlos Heitor Campani discorda. “A previdência deve complementar a renda do INSS para dar uma vida mais digna, e não somente a subsistência.”
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Com contribuições periódicas, que favorecem o planejamento a longo prazo, a previdência privada permite a acumulação de valores que serão investidos pelo gestor do plano. Depois, vem a fase de usufruto, em que o investidor passa a receber a renda de seu patrimônio.
É possível solicitar resgate, mas, normalmente, há um período predeterminado no contrato em que o dinheiro só pode ser retirado mediante o pagamento de tarifa, chamada de taxa de carregamento na saída.
Também é possível que haja um tempo mínimo entre a solicitação de resgates sem o pagamento de taxas. Campani recomenda iniciar esses investimentos o quanto antes, para que o segurado possa fazer aportes menores e aproveitar os juros elevados.
POUPAR
“É como uma montanha de 3.000 metros de altura. Se você começa distante do pico, a subida é tranquila. Agora, se começa pertinho, a subida é íngreme e vai cansar. Da mesma forma, se começar a poupar logo que entra no mercado de trabalho, o percentual para atingir uma mesma renda cai drasticamente.”
Segundo cálculos referendados por Campani com o apoio da equipe de especialistas da BrasilPrev, contribuições mensais de R$ 156 a partir dos 20 anos podem resultar em renda de R$ 1.000 por mês aos 65 anos. O valor é ainda maior para mulheres, devido a perspectivas mais baixas de risco.
Porém, começando aos 30 anos, o valor para ter a mesma quantia seria maior, de R$ 238. A diferença aumenta quando os investimentos começam aos 40, 50 ou 55 anos, com a necessidade de aplicar valores maiores (R$ 1.257) do que a renda mensal resultante no futuro.
Segundo Campani, o ideal é que a pessoa comece investindo de 10% a 20% de sua renda. O especialista simulou o valor que seria acumulado para investidores começando a poupar R$ 200 por mês em diferentes idades. Como as mulheres têm maior expectativa de vida, a renda mensal seria menor. Ao escolher um plano de previdência, é preciso consultar o valor das taxas cobradas pela instituição.
Investir na previdência privada deveria ser um hábito
Daniela Mir, planejadora financeira pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), diz que investir na previdência privada ou em outro investimento de longo prazo deveria ser um hábito de todos, mas que é ainda mais importante para trabalhadores autônomos e pessoas jurídicas.
“Não haverá possibilidade de qualquer aumento da renda vinda do INSS, nem mesmo outras rendas de possíveis benefícios que trabalhadores CLT recebem ao se desligar das empresas, como o fundo de garantia.” A planejadora diz que a maioria das previdências oferece várias formas de resgate: total, renda mensal por um prazo determinado, renda temporária e renda vitalícia. Nessa última, o tamanho da renda que será recebida é definido de acordo com a expectativa de vida.
Há diferentes modalidades de renda vitalícia. Na simples, há pagamento até a morte do participante. Já na renda vitalícia com prazo mínimo garantido é previsto que, caso haja falecimento antes desse período mínimo, o valor continua a ser pago para os sucessores dos beneficiários até a data contratada.
A especialista diz que também existe a renda vitalícia reversível ao beneficiário indicado ou ao cônjuge com reversibilidade aos menores, em que o valor mensal diminui conforme se escolhe receber por um período após a morte ou por um prazo garantido.
“É um salário como outro qualquer, sendo que existe a regra desse valor ser atualizado a cada 12 meses por um índice predeterminado no contrato de inflação”, explica Campani.
Taxa
- A taxa de administração é o custo para gerir o fundo, cobrada sobre o valor total na previdência; a taxa de carregamento, inexistente em alguns planos, é aplicada sobre o aporte, ou seja, sobre cada remessa que investe no plano; e a taxa de saída incide se o dinheiro é sacado antes do período de carência, planejado em contrato.
Tais taxas e prazos podem ser conferidos em contrato, mas Campani afirma que, atualmente, na maioria dos planos a taxa de entrada é zerada e a de saída, válida por poucos anos. O professor recomenda analisar a regra de conversão do patrimônio previdenciário em renda.
“Se uma tabela prevê que vou morrer com 79 anos e a outra, com 85, mas todo o resto igual, o plano que prevê que eu morra com 79 é melhor, porque a conta vai prever menos tempo de vida e mais dinheiro que vou receber mensalmente.” Além disso, Campani indica verificar o percentual da rentabilidade que após a aposentadoria será repassado à pessoa.
Saiba mais
- Em um primeiro momento, investir em previdência privada pode não ser tão simples. Mir explica: “Apesar da disponibilidade deste tipo de investimento em todos bancos e corretoras, é preciso estudar e entender quais produtos fazem sentido para cada pessoa ou família.”
- Além disso, para Campani, a maior desvantagem da previdência é seu uso equivocado. “Se você botar seu dinheiro no plano de previdência e decidir tirar um ano depois, vai fatalmente pagar taxa de saída, um monte de taxa, seu imposto a pagar vai ser maior, então a maior desvantagem é você empregar a previdência privada de forma equivocada.”
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