Após ter sido barrado com o pai por três horas em um dos bloqueios que ocorrem na BR-364 em Cuiabá, o garoto Gabriel da Guia Boa Sorte, 9, conseguiu enfim ser levado para uma cirurgia de reconstrução de sua visão do olho esquerdo. Até o fim da tarde desta quarta-feira (23), ele ainda estava na sala cirúrgica.
Por telefone, o autônomo Eder Boa Sorte, 41, pai de Gabriel, se diz aliviado, depois de ter passado por momentos de tensão, desespero e raiva na madrugada de terça-feira (22), quando foi impedido de levar o filho do município de Sorriso (420 Km ao norte de Cuiabá) até a capital de Mato Grosso.
O vídeo da discussão viralizou, e mostra o desespero do pai e a frieza de um dos manifestantes que segurava um facão em tom de ameaça.
"Cheguei no local, apresentei meus documentos e expliquei que meu filho precisava fazer a cirurgia e que ele corria o risco de perder a visão. Fui recebido com um facão pelo representante e me senti ameaçado o tempo todo. Ele balançava [o facão] e mostrava dizendo que eu não passaria", conta o pai.
Ele conseguiu ultrapassar o bloqueio e seguiu para Cuiabá, após ter sido orientado por alguns dos manifestantes, sensibilizados, a passar por dentro de uma fazenda para conseguir seguir viagem.
"Eles são os verdadeiros manifestantes porque respeitam o direito de ir e vir. Em caso de saúde, isso não é coisa que se faz", lembra.
Eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PL), o autônomo diz que, mesmo após o episódio, segue apoiando o presidente e as manifestações.
"Toda manifestação justa é direito de todos, desde que não impeça o direito de ir e vir. Não desaprovo, mas é preciso ser feito com respeito", diz.
No vídeo, é possível ver o desespero do pai quando um dos manifestantes disse que ele não passaria pelo bloqueio e que havia mulheres, idosos e crianças também proibidos de continuar o percurso.
Mesmo argumentando que o filho precisava chegar a Cuiabá para realizar uma cirurgia oftalmológica, já que corre risco de perder a visão, ele foi impedido após o homem se exaltar com o facão na mão. "Eu não tenho filho com problema no olho. Vai a pé, uai. De carro não passa."
Um dos filhos do autônomo se desesperou ao ver a cena e pediu que o pai parasse com a discussão. "Chega! Chega, por favor!", implora a criança.
Após toda discussão, o pai de Gabriel seguiu a orientação de outros manifestantes, fez o retorno e entrou em uma fazenda, onde conseguiu sair mais a frente, cerca de 2 quilômetros do bloqueio.
Gabriel passa pelo seu segundo procedimento cirúrgico após um acidente em sala de aula. Um dos seus colegas arremessou um lápis como se fosse uma flecha e acabou acertando a lateral de seu olho.
Após o acidente, ele passou por uma cirurgia de reconstrução do olho no dia 27 de setembro. O pai, então, passou por uma batalha jurídica para conseguir um novo procedimento, conseguindo recentemente uma liminar favorável.
"Essa cirurgia é muito cara e não tem no SUS. Então conseguimos. Hoje ele fez a cirurgia para implantação de uma lente e a drenagem, que é o que dá mais risco, ficar com esse líquido por muito tempo", explicou.
As manifestações antidemocráticas contra a derrota do presidente nas eleições, ocorrem desde a noite do dia 30 de outubro no estado.
As rodovias de Mato Grosso voltaram a ser alvo de bloqueios e outros atos criminosos supostamente em represália à decisão do ministro Alexandre de Moraes de bloquear as contas de 43 suspeitos de envolvimento em manifestações antidemocráticas de bolsonaristas que não aceitam o resultado da eleição.
Desde a sexta-feira (18), o estado registra uma escalada da violência na BR-163.
Em apoio aos manifestantes que bloqueiam as vias, alguns comerciantes do estado decidiram fechar seus estabelecimentos a partir desta terça-feira (22), até domingo (27).
O movimento ocorre nos municípios de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde. A decisão ocorreu após reunião de lojistas e comerciantes na segunda-feira.
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