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Estudo mede eficácia de medicamento em pessoas com Parkinson

Estudo confirma período de eficácia de medicamento para controle postural em pacientes com Parkinson

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Imagem ilustrativa da notícia Estudo mede eficácia de medicamento em pessoas com Parkinson camera Estudo avalia o impacto do medicamento levodopa para o controle da postura e do equilíbrio em pacientes com doença de Parkinson | Fabio Barbieri/Movi-Lab (Agência Fapesp)

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas sofram com a doença de Parkinson no Brasil. Aproximdamente 1% da população em todo o globo, com idade acima de 65 anos, tenha essa doença degenerativa e crônica que ataca o sistema nervoso central.

Os resultados de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa do Movimento Humano (Movi-Lab) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, foi publicado na na revista Brain Research. Os cientistas conseguiram mensurar o impacto do medicamento levodopa para o controle da postura e do equilíbrio em pacientes com doença de Parkinson.

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Eles também estabeleceram o período que dura o efeito do remédio: de 60 a 120 minutos após a ingestão. O grupo teve apoio da FAPESP por meio de dois projetos.

Estudo avalia o impacto do medicamento levodopa para o controle da postura e do equilíbrio em pacientes com doença de Parkinson
📷 Estudo avalia o impacto do medicamento levodopa para o controle da postura e do equilíbrio em pacientes com doença de Parkinson |Fabio Barbieri/Movi-Lab (Agência Fapesp)

Considerado essencial no tratamento do Parkinson, o fármaco levodopa age aumentando a quantidade de dopamina no cérebro, o que reduz os sintomas. No estudo, a equipe monitorou a ingestão da primeira dose do medicamento em 15 pacientes que se encontram em estágio leve a moderado da doença. Todos já faziam uso de levodopa há mais de seis meses e muitos também usavam outros fármacos.

O professor do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências da Unesp e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento-Interunidades Fabio Augusto Barbieri destacou que o estudo contou com pacientes em escala especifica. “Trabalhamos com pacientes em estágio da doença entre 1 e 3 [em uma escala que vai até 5]. Esses estágios leve e moderado apresentam as primeiras alterações posturais e de equilíbrio do paciente, mas ainda sem perda da independência. A maioria dos estudos foca nessa etapa, procurando melhorar a qualidade do tratamento”, explicou.

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O grupo optou por estudar o impacto da primeira dose diária do remédio, por ser a que tem menos oscilações, levando em conta o período para o início do efeito e o tempo de duração. “E, mesmo assim, há variação de paciente para paciente. Entretanto, pode-se dizer que o efeito da primeira dose é mais regular”, disse o pesquisador, lembrando que a quantidade de doses que cada paciente toma diariamente varia com o grau de evolução da doença e outros fatores.

Para Barbieri, dois aspectos do trabalho devem ser salientados. “O estudo avança na determinação de um período adequado para a avaliação do controle postural e equilíbrio, ou seja, de determinar o período padrão para que os efeitos do medicamento possam ser avaliados por outros estudos; e também no tratamento, uma vez que, determinando a duração de efeito da medicação no equilíbrio, é possível estabelecer o período “ideal” para a prescrição de exercícios físicos, pensando em melhorar o efeito da intervenção. Porém, é importante lembrar que os achados do estudo só valem para controle postural e equilíbrio, que foram o foco deste trabalho. Para marcha ou controle de membros superiores, por exemplo, pode ser que essas ‘janelas’ sejam um pouco diferentes.”

Barbieri ressalta que, no experimento, foi usada uma tarefa postural que exigia bastante do paciente. “Ele tinha de ficar parado por um minuto, descalço, com um pé na frente do outro e os braços relaxados ao lado do corpo, olhando para um ponto estático a mais ou menos um metro de distância. E repetia essa tarefa três vezes. Em estudos anteriores, com os pés posicionados lado a lado, não foi encontrado efeito positivo do levodopa. Mas era uma tarefa postural mais fácil. Há estudos anteriores que corroboram essa hipótese do efeito positivo em tarefas mais difíceis.”

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Os voluntários fizeram duas visitas ao Movi-Lab, separadas por no mínimo sete e no máximo 14 dias. Em ambas, compareceram ao laboratório sem tomar a medicação e com um mínimo de 12 horas desde a ingestão da última dose. Isso porque eles foram avaliados antes e depois da ingestão do levodopa (que os cientistas chamam de período OFF e período ON da medicação, respectivamente). Neste último caso, os pacientes foram avaliados a cada 30 minutos, por três horas após a primeira dose matinal. Em um dos dias foram avaliadas variáveis clínicas e, no outro dia, o controle postural.

Os cientistas mediram a oscilação do centro de pressão do paciente (CoP, na sigla em inglês) usando uma plataforma de força. Mensuraram também a atividade muscular, com um eletromiógrafo, e a atividade cortical, com um eletroencefalograma, procedimento que afere a atividade das diferentes regiões do córtex por meio dos sinais elétricos no cérebro.

“Medimos as variáveis do CoP, da atividade muscular e da atividade cortical em diferentes momentos após a ingestão do levodopa e comparamos. Vimos que, 60 minutos após a ingestão do levodopa, há um aumento na atividade elétrica, o que mostra que o paciente está ativando mais as regiões do córtex estudadas e lidando melhor com os efeitos que a doença tem no cérebro para o controle postural. Assim, o paciente consegue produzir um sinal motor mais adequado para controlar melhor a postura.”

Todos os sinais medidos (CoP, atividade muscular e cortical) foram sincronizados eletronicamente e analisados no Matlab, um software de cálculo numérico de alta performance. “Até onde sabemos, este é o primeiro estudo a investigar a dinâmica do controle postural [atividade cortical, atividade muscular e movimento corporal] em resposta ao levodopa durante uma tarefa desafiadora em pé”, afirma.

Para o professor, tendo em vista o tratamento da doença, que inclui exercício físico, os resultados do trabalho podem ajudar a direcionar as prescrições de intervenções motoras para pacientes com Parkinson.

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“Se quisermos que o tratamento tenha efeito maior no controle postural, o exercício físico deve ser realizado dentro da janela entre 60 e 120 minutos após a ingestão da primeira dose, para garantir que o paciente consiga o melhor rendimento possível.” Ele afirma que o grupo não esperava que o efeito do remédio durasse tanto (duas horas), embora a marca dos 60 minutos já tivesse sido delimitada por outros estudos.

O próximo passo, de acordo com Barbieri, é propor intervenções que possam auxiliar no controle postural e no equilíbrio do paciente, pensando em como combinar a medicação com a realização de exercício físico e também determinar o período mais indicado para prescrever esse exercício.

“Temos visto estudos na literatura que combinam vários tipos de reabilitação – medicação, exercícios físicos, fonoaudiologia, fisioterapia e outros – para reduzir a progressão da doença. Se a intervenção for feita no melhor momento, é possível diminuir ainda mais o ritmo de progressão. Entretanto, faltam estudos que mostrem qual é o momento ótimo para intervir. É nesse âmbito que nosso trabalho se insere.”

Parkinson precoce

Há dois subtipos de Parkinson idiopático (sem causa determinada) mais conhecidos: aquele que provoca instabilidade postural e distúrbios da marcha e aquele que provoca tremor. “O que se sabe até agora é que a doença pode ser causada por vários fatores: genética, exposições ambientais, estilo de vida [hábitos não saudáveis, alimentação, sedentarismo], execução de trabalho que envolva substâncias tóxicas, lesões no sistema neural ou mesmo consumo de drogas.”

Segundo Barbieri, o perfil do enfermo tem mudado. “Era uma doença que atingia mais os idosos, principalmente acima dos 60 anos. Mas o perfil está mudando. Temos visto muitos casos de Parkinson precoce, abaixo dos 50 anos. Possivelmente, o diagnóstico hoje é mais precoce por conta do avanço da tecnologia. A doença também teve mais visibilidade nos últimos anos, falou-se mais dela publicamente. Esses fatores parecem interferir na idade de diagnóstico da doença, melhorando a caracterização dos pacientes com Parkinson.”

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