O ex-craque de futebol Ronaldinho Gaúcho está preso na Agrupação Especializada de Assunção, no Paraguai, onde também abriga narcotraficantes, terroristas, políticos e dirigentes de futebol processados por lavagem de dinheiro.
Ele e o irmão Assis passaram, no domingo (8), a terceira noite reclusos no local. Lá, os dois tem como vizinhos criminosos de todo tipo de periculosidade: como de traficantes de drogas à membros do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho a políticos presos por enriquecimento ilícito.
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A Agrupação Especializada da Polícia fica localizada no bairro de Tacumbú, em Assunção, não muito longe da maior cadeia do Paraguai, a Penitenciária de Tacumbú. O local onde Ronaldinho Gaúcho está, é um quartel da Polícia Nacional, usado como espaço para receber detentos.
Durante o período da ditadura militar de Alfredo Stroessner, a Agrupação Especializada era conhecida como Agrupação de Segurança. Lá, presos políticos eram torturados, mortos e até enterrados durante os anos mais duros de repressão do regime. Até hoje pode-se ver os lugares onde parentes das vítimas escavaram em busca de valas comuns para tentar encontrar os restos mortais dos desaparecidos, baseado em relatos escritos e orais de quem viu os perseguidos chegarem e morrerem naquele local.
Com a democracia, o lugar se tornou a sede da Agrupação Especializada. De acordo com um levantamento feito há alguns anos pelo jornal ABC Color, a unidade de elite apoia os trabalhos da Polícia Nacional. O quartel tem cinco companhias de suboficiais e dois grupos da polícia de choque com 150 agentes, que se revesam em serviços por turno. A segurança do local é composta por 18 policiais.
Além da guarda permanente, o local possui 24 câmeras de segurança espalhadas pelos pavilhões, dentro e fora das instalações.
Não é uma prisão "normal"
Quem assume o Ministério do Interior afirma em dizer que o Agrupamento Especializado não é uma prisão. "Esta não é uma penitenciária, é um instituto da Polícia Nacional, mas, para uma questão excepcional, pode ser usada. Não é para prisioneiros, é para policiais", disse o atual ministro do Interior, Euclides Acevedo.
Porém continua, continua abrigando presos. O quartel funciona de forma improvisada como um local de prisão de criminosos considerados pela justiça como altamente perigosos ou abriga pessoas que, por algum motivo, não são consideradas prudentes de serem enviadas para prisões comuns. Um exemplo disso é, todos os policiais que devem cumprir uma pena disciplinar são encaminhados para a sede do Agrupamento Especializado.
Vizinho de deputados
Ronaldinho está em uma sala que não estava sendo usada como local de confinamento, que foi designada para funções administrativas.
O Agrupamento Especializado tem recebido uma grande alta da demanda por vagas onde "presos especiais" não se juntam aos perigosos. Com isso, teve que reajustar seu espaço, como a sala em que Ronaldinho está, para funcionar como celas. Há pessoas como o deputado Miguel Cuevas, membro do movimento "Colorado Añetete", ao qual pertence o atual presidente da República, Mario Abdo Benítez. Cuevas está no quartel desde a semana passada e cumpre prisão preventiva, acusado de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e declarações falsas.
Ramón González Daher, vice-presidente da Associação Paraguaia de Futebol e do Comitê Olímpico do Paraguai, e irmão do ex-senador pelo Partido Colorado Óscar González Daher, também está lá. Ambos são processados por crimes como suposta lavagem de dinheiro e usura. Segundo a Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro, a família Gonzalez Daher movimentou em cinco anos cerca de US$ 1,6 bilhão (aproximadamente R$ 7,4 bilhões).
Narcotraficantes e criminosos perigosos
Pablo Vera Esteche esteve no mesmo quartel em que Ronaldinho está, ele confessou ser o assassino do vice-presidente Luis María Argaña, morto em março de 1999.
O local também abriga o fundador e líder do autodenominado Exército do Povo Paraguaio (PPE), Alcides Oviedo Brítez. O PPE é um grupo terrorista que baseia suas ações em guerrilhas como as FARC, da Colômbia. Outros membros do grupo criminoso também estão lá, como Aldo Meza, Anastacio Mieres e Vaciano Acosta.
Vários membros dos grupos criminosos como Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho também estão lá. O narcotraficante Luis Henrique Boscatto também ficou preso no quartel antes de ser extraditado para o Brasil há algumas semanas. Estima-se que 147 criminosos estejam detidos no local.
Cenário de assassinato
O momento mais crítico do Grupamento Especializado ocorreu em abril de 2019, quando o narcotraficante brasileiro Marcelo Pinheiro, conhecido como Marcelo Piloto, assassinou em sua própria cela uma mulher de 18 anos, identificada como Lídia Meza. O crime foi praticado, aparentemente, como uma medida extrema para que ele fosse julgado no Paraguai e não fosse extraditado.
É entre traficantes de drogas, terroristas e políticos, que Ronaldinho Gaúcho está passando seus dias, em uma prisão no Paraguai. Ele foi ao país para lançar um livro e participar da abertura de um cassino, mas agora está sendo investigado pela acusação de uso de documentos falsos, que poderia ser estendida à lavagem de dinheiro e outros crimes.
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