Um fato inusitado virou a vida da cuidadora de idosos, Simone Aparecida Pereira, de 46 anos, que descobriu que foi sequestrada quando tinha apenas dois anos de idade, na cidade de Tanabi, interior de São Paulo.
A menina foi sequestrada no dia 7 de abril de 1975, quando sua mãe, Neide Aparecida Pereira, havia saído para pegar lenha próximo de casa e ao retornar não encontrou mais a criança. Em busca da filha, ela tentou de tudo, mas sem sucesso.
Simone foi levada para a cidade de Cariacica, no Espírito Santo, ganhou uma nova certidão de nascimento e foi criada por Pedro Antônio Garcia, homem que a sequestrou na época. Ela acreditava que havia sido criada pelo pai após a mãe ter morrido.
No entanto, 44 anos após o sequestro, ela descobriu a verdade após conversas insistentes com o pai. Antes de morrer ele afirmou por várias vezes que a mãe dela havia morrido quando ela ainda era bebê.
"Em nenhum momento passou pela minha cabeça que eu não era filha dele. Mas eu desconfiava que minha mãe estivesse viva. Ele era uma pessoa violenta, então achei que ela poderia estar perdida por aí. Do nada liguei para a delegacia de São Paulo e perguntei se ele tinha alguma ficha criminal na polícia. Me falaram para procurar saber no fórum. E foi lá que descobri tudo. Que não era filha dele, que eu havia sido sequestrada"
OS FATOS
De acordo com o processo, Pedro era uma pessoa de confiança de Neide, ele foi casado com uma prima dela e se mudou para a casa de Neide com o filho adotivo de 14 anos, após a morte de sua mulher. Neide havia sido abandonada pelo marido e morava sozinha com os três filhos.
No mesmo dia do sequestro da filha, Neide foi à delegacia de Tanabi para registrar o desaparecimento da filha. Para ela, Pedro Antônio Garcia, era o principal suspeito, já que ele também havia desaparecido. Em depoimento, Neide contou à polícia que ao voltar para casa após buscar lenha, não sentiu falta de Pedro, seu filho e Simone porque achava que eles tinham saído para passear.
Ao comparecer no Fórum de Tanabi, Simone encontrou o processo movido pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) sobre seu desaparecimento. No documento, o inquérito apontava Pedro como principal suspeito, e descreveu o passo a passo das investigações, encerradas um ano depois do sequestro, por decisão judicial, e sem que a menina tivesse sido encontrada.
VIDA CONSTRUÍDA POR MENTIRAS
Após o sequestro, Pedro visitou parentes e disse que Simone era sua filha. “Ele me apresentou com filha dele. Disse que a esposa havia morrido e me deixado. Me apresentou para todos os familiares, segundo meus tios contam. Eu nunca desconfiei que era tudo mentira”, afirmou.
"Tenho cinco irmãos. Então ele teve esses filhos. Ele não tinha boa condição financeira e eu sofria maus-tratos, da parte dele e de minha madrasta. E eu achava que era normal por ele ser meu pai, um viúvo", contou Simone.
Desde que descobriu a verdade, Simone não consegue ter noites tranquilas de sono. Por isso, passou a fazer tratamento psicológico, pois a todo momento ela imagina como foi o seu sequestro.
DESCOBERTA
“Quando descobri foi um desespero porque tenho filhos também. Fiquei apavorada. Me senti novamente com dois anos de idade sendo levada, não sendo cuidada”, desabafou.
Mesmo após todos esses anos ela acredita ainda tem esperança de encontrar a mãe, Neide Aparecida Pereira, que hoje estaria com 66 anos, mas a única certeza que tem, é que a mãe não mora mais em Tanabi.
“Acredito que ela sofreu muito por ter imaginado que mil coisas poderiam ter acontecido comigo e ela não podia fazer nada. Acredito que milagres acontecem. Não tinha como saber dessa história. Tenho esperança em encontrá-la", finalizou.
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