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Por dentro do VAR: entre a pressão e a justiça no Re-Pa

Djonaltan Costa tornou-se centro de comentários após a vitória do Paysandu por 2 a 0 sobre o Clube do Remo. Profissional avalia a condução da arbitragem na partida.

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Imagem ilustrativa da notícia Por dentro do VAR: entre a pressão e a justiça no Re-Pa camera Equipe do VAR no primeiro jogo da final do Campeonato Paraense. | Arquivo Pessoal/Djonaltan Costa

Remo e Paysandu vivem verdadeiras decisões na temporada. Com quatro clássicos seguidos, os ânimos estão à flor da pele e qualquer polêmica vira um mar de críticas para os envolvidos.

No último domingo (7), pela ida da final do Campeonato Paraense, a arbitragem foi bastante crucificada pela torcida azulina, principalmente o árbitro principal Bráulio da Silvia Machado (FIFA) e o VAR Djonaltan Costa de Araújo (CBF - PA), de 34 anos.

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Envolvido em uma atmosfera de tensão e rivalidade, o paraense Djonaltan agora enfrenta críticas acaloradas e acusações de parcialidade. No entanto, por trás das decisões contestadas, há um ser humano enfrentando o dilema constante entre precisão e pressão.

Árbitro há 17 anos, Djonaltan, que é formado em Educação Física, é apenas mais um na linha de frente do espetáculo, ciente de que equívocos podem ocorrer, mas com a firme convicção de que seu papel é buscar a justiça e o equilíbrio no campo de jogo.

A reportagem do DOL conversou de maneira exclusiva com o árbitro, que esclareceu alguns pontos que ficaram mal vistos por torcedores, jogadores e dirigentes do Leão Azul.

Confira a entrevista:

1- Como você se sente após o Re-Pa, considerando as críticas que recebeu em relação a algumas decisões no VAR?

  • "Apesar do caminhão de críticas que recebemos, me sinto tranquilo, com a consciência tranquila, pois todas as nossas decisões, todas as interferências, as linhas de intervenções foram específicas, objetivas e atendendo o Protocolo VAR. Nós não podemos burlar esse protocolo. Claro que há o sentimento do nosso nome estar sendo vinculado como vilão e temos que dar com isso da melhor maneira. Aquele sentimento de tristeza de 'ah, meu nome poderia não estar ali', mas também há o sentimento de que demos o nosso melhor na cabine do VAR. Todas as intervenções foram feitas de maneira positiva, proativa, e seguindo principalmente o Protocolo VAR que não pode ser burlado, quebrado de maneira alguma".
Árbitro se diz tranquilo e feliz com a atuação no Re-Pa.
📷 Árbitro se diz tranquilo e feliz com a atuação no Re-Pa. |Arquivo Pessoal

2- O lance entre Wanderson e Ícaro foi o de maior discussão para os remistas. Você poderia explicar sua decisão naquele momento?

  • "Com relação ao lance polêmico na entrada da área, nós, enquanto cabine, temos que avaliar conforme as leis do jogo e o Protocolo VAR. Dois jogadores sobem para dividir a bola em ação de disputa e essa ação, eventualmente, ambos sobem com o braço em uma posição justificável para aquela ação. Por que falamos justificável? Porque nem um jogador vai subir com os braços colados. Isso chama-se mecânica do movimento. Então, tudo isso é avaliado. Nesta ação de disputa, um jogador golpeia o rosto do adversário, mas esse golpe não tem movimento adicional, não tem gatilho e não tem principalmente a intensidade alta. Foi uma intensidade média, que dentro da regra do jogo é exigida a apresentação de um cartão amarelo, pois é uma entrada temerária. Ele usa indevidamente o braço de maneira temerária.
Djonaltan explicou tecnicamente o lance FPF
  • Muitos não sabem, mas no Protocolo VAR, quando se há uma jogada desta natureza, nós não podemos interferir, pois é uma jogada de cartão amarelo. Só poderíamos entrar se fosse um jogo brusco grave, que seria o uso da força excessiva. Volto a repetir, é uma ação de disputa entre dois jogadores, fora da área penal, então não tem Protocolo VAR para atender essa ação. Exceto se essa jogada fosse claramente dentro da área. Quando analisamos a área e a câmera do impedimento, identificamos que um jogador está saindo da área e o que sofre o golpe encontra-se fora da área. Este lance não é protocolar. No campo, o árbitro nem falta deu. Prontamente, uma análise importante é que o jogador que sofre o golpe não demora nada para se levantar. O árbitro falou com ele. Isso diz que não teve a intensidade para um cartão vermelho".

3- Como você mantém a objetividade e a imparcialidade ao tomar decisões, especialmente quando há pressão externa vinda de torcedores, jogadores, mídia e clube?

  • "Nós, árbitros de futebol, temos que ter a imparcialidade em primeiro plano para fazer justiça no jogo. Para isso acontecer, essa pressão na hora das tomadas de decisões precisa ser filtrada. Nós precisamos ter o nosso mental em dia para podermos receber essa carga, filtrar e trabalhar para podermos atuar em alto nível, o qual é o que fazemos. Atuar de uma maneira objetiva, imparcial, tomando decisões com credibilidade. Muitos torcedores que não possuem o conhecimento e domínio do jogo acabam tecendo alguns comentários. Os próprios jogadores, clubes e até mesmo a imprensa, quando não têm esse domínio pleno das leis do jogo, acabam emitindo posicionamentos no qual não são compatíveis. Por isso, nós filtramos, avaliamos e seguimos em frente para estar trabalhando nos próximos jogos".

4- Como você se prepara mentalmente para lidar com as críticas e possíveis repercussões das suas decisões durante um jogo tão acalorado como o Re-Pa?

  • "Nossa preparação para lhe dar com esse tipo de pressão é a mental que fazemos em trabalhos periódicos com a respiração, leitura, concentração, estar focado no aqui e agora. No pós-jogo, a única pessoa que vai estar imbuída em te ajudar a filtrar essas críticas é a sua família, que é quem vai estar do lado. A mídia, torcida, clube, olham a gente como vilão, sem saber o pleno domínio do que está acontecendo. Então, essa repercussão negativa do pós-jogo, onde acabamos recebendo ameaças nas redes digitais, pressão, quando assistimos jornais, a gente vê coisas que não são compatíveis com a realidade. Isso tudo, precisamos filtrar, avaliar, pensar e observar se alguma dessas críticas tem fundamento. Aí vamos trabalhar mais para fazer ainda melhor na próxima ocasião".

5- Fora do campo, como você equilibra sua vida pessoal com as demandas e pressões da arbitragem?

  • "Fora do campo é uma pergunta bem legal, pois somos apenas prestadores de serviços para a arbitragem, que temos como uma paixão. Quando somos chamados, queremos sempre fazer o nosso melhor. Fora do campo, precisamos equilibrar com as viagens, vida pessoal. A família sente falta. Como já falei, só nossa família nos abraça, os amigos compartilham mensagens positivas. Depois do domingo, recebi várias mensagens de todo o Brasil, de colegas árbitros, instrutores, que elogiaram as nossas intervenções. No outro dia, o que veio foi um bombardeio.
As pessoas precisam entender que os árbitros também são passivos de erros e ainda precisam ter um segundo emprego.
📷 As pessoas precisam entender que os árbitros também são passivos de erros e ainda precisam ter um segundo emprego. |Arquivo Pessoal
  • Torcida e clube nos colocam em uma posição onde nos tornamos os vilões do jogo. E, na verdade, com lisuras e transparência, fizemos intervenções que trouxeram justiça para o jogo. Quando estamos aqui, passa um filme na cabeça, pois em qualquer situação podemos sofrer ameaças. O futebol tem tido esses momentos que assustam e por isso a preocupação da Federação e da Comissão de Arbitragem Estadual em ter pedido a minha prevenção deste jogo seguinte ao qual eu estava escalado, justamente para podermos preservar a nossa integridade, pois temos família, o nosso trabalho diário. Tudo isso entra no pacote. Cenas lamentáveis, até no pós-jogo, fazem a gente ficar preocupados com o que pode acontecer. Mas é isso. É sempre a família que vai estar do nosso lado".

6- Você acredita que há algo que possa ser feito para melhorar a relação entre árbitros e torcedores?

  • "Com relação ao tratamento entre torcedor e árbitro, o torcedor é fanático, vê o clube com fanatismo e às vezes, quando o árbitro se equivoca em determinado momento a favor do time dele, é 'passado um pano', ninguém vê. Agora, quando o equívoco não é a favor, o torcedor se transforma e comete vários atos que podem ferir a integridade do árbitro. Para isso melhorar, estamos um pouco longe deste meio educativo, pois a maioria dos torcedores é fanática. Óbvio que não podemos generalizar. Mas só por um meio educativo para isso melhorar.
Djonaltan Costa de Araújo já participu de 29 jogos da Série A e já apitou Copa do Brasil, Série B e Série C.
📷 Djonaltan Costa de Araújo já participu de 29 jogos da Série A e já apitou Copa do Brasil, Série B e Série C. |Osmarino Souza
  • A imprensa pode nos ajudar com relação a isso. Primeiro que não temos contato direto com o torcedor. Isso dificulta muito e, se tivesse, poderia ser outro dificultador. É uma situação muito difícil de controlarmos. Para melhorar, só com ações educativas para mexer com essa turma mais fanática. Ainda temos torcedores que não entram neste meio do fanatismo e conseguem identificar quando há algo equivocado, mas que ele consegue ler e ver a realidade de todos nós, árbitros, que é muito diferente do jogador que passa a semana toda treinando para chegar e jogar. Ele trabalha para isso. Nós dividimos o nosso pessoal com a arbitragem. Temos que treinar, trabalhar e apitar. É uma situação bem complicada, que somente o meio educativo pode ajudar.

7- O que você diria aos torcedores do Remo que sentiram que houve favorecimento ao Paysandu durante o jogo?

  • "Essa pergunta é muito legal. Se eu tivesse a oportunidade, responderia cada torcedor de uma maneira bem técnica do que a gente avaliou. Não teve favorecimento para nenhum dos dois lados. Pelo contrário, fizemos intervenções que fizeram justiça para o jogo. Existem situações que nos deixam muito tristes. Logo que acabou o jogo, fizeram um print de uma imagem recortada, alegando que o jogador estava em posição de impedimento. Eles cortaram um jogador da imagem e vincularam a imagem para causar ódio entre torcidas e clubes.
  • Mas eu poderia responder de maneira técnica cada lance que a gente interferiu, cada lance checado de maneira silenciosa e os que chamamos para revisão para mostrar que não houve favorecimento. De maneira técnica, observamos cada detalhe, cada lance despercebido dentro do campo de jogo.
  • Também iria lembrar que temos alguns protocolos que nos impedem de algumas ações, onde o árbitro em campo de jogo tem que tomar as decisões. Eu poderia responder de maneira técnica, mas sei que tem o fanatismo e entendo que, às vezes, o clube está em primeiro plano.
  • Respeito a opinião de todos, mas queria pedir para não irem para o lado da violência, de ameaças, pois todos nós somos seres humanos. Nesse jogo, eu fiquei muito feliz com a minha atuação, pois tenho certeza de que contribui para a justiça do jogo.
  • Vocês podem ver os vídeos de maneira técnica e avaliar. Todo o Brasil já viu os lances e avaliou que tomamos as decisões de maneiras acertadas. O mesmo se tivéssemos errado, iriamos dar a cara a tapa. Íamos falar que erramos de uma maneira técnica, mas não tivemos esse momento. Entramos para salvar o jogo, salvar decisões que iriam passar se não tivéssemos as ferramentas do VAR".
Torcidas precisam entender que ninguém vai trabalhar para errar
📷 Torcidas precisam entender que ninguém vai trabalhar para errar |Ronaldo Santos
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