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Filmes de Ronaldo e o penta remetem a tempos quase inocentes

Do drama que quase custou a carreira à glória de dar o pentacampeonato mundial ao Brasil

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Imagem ilustrativa da notícia Filmes de Ronaldo e o penta remetem a tempos quase inocentes camera O maior atacante da história? | Reprodução/Globoplay

Uma incrível jornada do herói, com ascensão rápida, drama pessoal, um terrível obstáculo e a redenção com final feliz. É o sonho de qualquer roteirista. Mas, se o personagem principal do filme é Ronaldo Luís Nazário de Lima, ou simplesmente Ronaldo Fenômeno, o trabalho do amigo roteirista ficou fácil.

A jornada pessoal do atacante brasileiro é o principal ponto de intersecção entre os documentários recém-lançados "Brasil 2002 - Os Bastidores do Penta", disponível na Netflix, e "Ronaldo, o Fenômeno", lançado pela Globoplay. Cada um tem cerca de 90 minutos de duração, tempo de uma partida de futebol.

São filmes que remetem a tempos quase inocentes, quando o Brasil vencia a Alemanha por 2 a 0 em Copas (final de 2002) ou quando sua pior derrota em Mundiais era um módico 3 a 0 (final de 1998).

Os dois têm uma dinâmica semelhante, usando a final perdida de 1998, na França, como um "prequel" para o que aconteceu em 2002. Se você não colecionava álbum de figurinha na época, é importante saber que o personagem principal daquela decisão contra os franceses foi Zinédine Zidane, autor de dois gols de cabeça.

Mas isso só para o resto da galáxia; para os brasileiros, a final é lembrada pela convulsão de Ronaldo horas antes da partida.

Com direção de Luís Ara e com Belletti (lateral direito reserva) e Roberto Carlos (lateral esquerdo titular) entre os produtores, "Bastidores do Penta" não chega a ser um "All or Nothing" –série documental que acompanha os bastidores, muitas vezes tensos, de equipes como Manchester City, Juventus ou Arsenal.

As tais cenas de bastidores são cortesia de Belletti, que pouco jogou e muito filmou na Copa, com sua câmera pessoal. As cenas são quase sempre de momentos descontraídos na concentração ou das batucadas com pagode nos ônibus a caminho dos jogos –só podemos imaginar o sofrimento do roqueiro Rogério Ceni, que integrava o grupo.

Além das cenas captadas por Belletti, acompanhamos momentos dos jogos do Brasil, com comentários de alguns jogadores –como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Lúcio e os dois produtores– e de alguns rivais derrotados, como os ingleses Owen e Beckham ou o goleiro Oliver Khan, eleito melhor do Mundial de 2002 antes da final... Grande erro.

Mesmo sem as "imagens inéditas", "Ronaldo, o Fenômeno" se sai melhor ao centrar a história apenas no protagonista. O documentário tem a assinatura de Duncan McMath, que já dirigiu Ronaldo em "El Presidente", sobre o dia a dia do ex-jogador como manda-chuva do Real Valladolid, e fez também "Take the Ball Pass the Ball" ("pegue a bola passe a bola"), sobre o empolgante Barcelona nos anos de Pep Guardiola.

Ronaldo viveu dois dramas seguidos na carreira
📷 Ronaldo viveu dois dramas seguidos na carreira |Reprodução/Globoplay

O longa mostra a carreira de Ronaldo desde o início, resgatando a idolatria criada em volta do atacante, mas sempre com foco principal na seleção brasileira e na Copa –ele foi reserva em 1994, quando o Brasil conquistou o tetra sem que ele tenha entrado em campo. Suas arrancadas e gols sensacionais no PSV, Barcelona ou Inter de Milão parecem quase preliminares para o grande palco, as Copas.

Uma boa sacada do documentário acontece justamente na recapitulação da convulsão da final de 1998. Neste momento, Ronaldo deixa de ser entrevistado e passa a entrevistador, conversando com Roberto Carlos (seu colega de quarto na concentração) e tentando encontrar algo novo, como todos nós já tentamos. Ronaldo parece disposto a encerrar de uma vez por todas a polêmica ao concluir que passou "apenas" por um caso grave de saúde mental, sem conspirações.

Mas a melhor frase do jogador no longa vem após as lembranças de 1998: "O que eu não sabia é que pioraria muito ainda nos próximos anos". Ronaldo se refere à grave contusão que sofreu em 2000, quando teve rompimento total do ligamento e viu a rótula do joelho subir pela coxa –este escriba ainda sente mais arrepios com essa imagem do que com muito filme de terror.

A perseverança e o foco na longa recuperação tinham uma só meta: a Copa do Mundo de 2002. E Ronaldo conseguiu uma das maiores voltas por cima pós-contusão da história do futebol ou de qualquer outro esporte.

Há algumas curiosidades interessantes, como o fato de ele não ter gostado do apelido Fenômeno, alcunha que ganhou da imprensa italiana, ou de confessar que o argentino Héctor Cúper foi o pior treinador com quem trabalhou. Também são poucos os depoimentos externos, como os de Zidane e Maldini –mas ótima contribuição de Christian Vieri, que formou dupla com Ronaldo nos tempos de Inter. Entre os colegas do elenco pentacampeão, apenas Roberto Carlos mesmo.

Para tristeza de torcedores corintianos, a jornada heroica de Ronaldo termina no documentário com a conquista do penta. Nada do período vitorioso no Real Madrid, do hipotiroidismo na breve passagem pelo Milan ou dos títulos com o Corinthians em seu retorno ao Brasil. Ou, quem sabe, os produtores já estão pensando na continuação –como é comum nos filmes de heróis–, com o atacante cercado pelo bando de loucos.

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