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Nossa língua! São muitos os dialetos no país que chama Pará

Além de forte influência indígena na linguagem, o "paraensês" é falado de diversas formas, mudando de região para região.

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Imagem ilustrativa da notícia Nossa língua! São muitos os dialetos no país que chama Pará camera Santarém, um símbolo da diversidade de sotaques do Pará | Roni Moreira/Agência Pará

Quando se analisa as variações linguísticas dentro do estado, especialmente entre a capital Belém e outras cidades, como Santarém, observa-se que que o linguajar paraense mantém uma base comum, apesar das diferenças. A variação de uma região para outra é natural, dada a vasta extensão territorial do Pará. No entanto, as características próprias mostram mais semelhanças do que diferenças entre as regiões.

A professora Ian Caroline Campos Carneiro, servidora da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) na Modalidade Modular Indígena que atende com Ensino Médio as aldeias paraenses do Baixo Tapajós, como Marabá, Belterra e Aveiro, observa essa variação. “Seguramente há um ou outro vocábulo, que varia de acordo com a região do nosso Estado de dimensões continentais, mas, no geral, podemos dizer que o linguajar paraense é bem marcado, com características próprias, em que há mais semelhanças do que diferenças”, garante.

Apesar de ser o mesmo idioma, ainda assim há algumas diferenças que podem gerar algum ruído na comunicação. A diversidade de expressões pode, às vezes, gerar mal-entendidos, como relatam moradores que transitam em diversas regiões do Pará. Um exemplo curioso, segundo Caroline, é de um santareno que encontrou dificuldades ao tentar comprar piracuí (farinha de peixe) no mercado Ver-o-Peso: muitos feirantes não reconheciam o termo. Da mesma forma, o uso de palavras como "piroka" (para descrever uma criança nua) ou "panema" (referindo-se a uma pessoa desatenta ou lenta) também pode não ser compreendido de imediato por quem não está familiarizado com essas expressões.

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Para ela, o vocabulário paraense, enriquecido por palavras de origem indígena, reflete essa fusão cultural com os colonizadores portugueses. Termos como cupuaçu, tucupi, taperebá, inajá, tucumã, tipiti, Kurimi, cutucar e guaraná são exemplos de como o idioma local preserva e celebra as raízes indígenas da região. Essas palavras, ainda hoje, são amplamente utilizadas no cotidiano dos paraenses, demonstrando a profunda influência das línguas indígenas na formação do dialeto regional.

Ian Caroline leciona em aldeias no Baixo Tapajós atendendo indígenas dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro
📷 Ian Caroline leciona em aldeias no Baixo Tapajós atendendo indígenas dos municípios de Santarém, Belterra e Aveiro |Arquivo Pessoal

Ian Carolina também aborda um dos aspectos do sotaque paraense, o famoso chiado, traço marcante que resulta da palatalização de certos sons.


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Inicialmente é preciso destacar que, a questão do 'chiado' paraense, está diretamente ligada à influência das inúmeras línguas indígenas faladas pelos vários povos originários

Ian Caroline Campos Carneiro, Professora
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Longe demais da Calha do Amazonas

Acreano de nascença e paraense de coração, o escritor e músico Raimundo Sodré falou sobre as variações linguísticas no Estado. Com o traço paraense marcante em suas composições, Sodré afirma que aprendeu e incorporou em seu vocabulário as expressões e sotaques por meio da convivência com sua mãe, descrita por ele como “uma paraense raiz”.

“O uso desse jeito paraense de se comunicar é um traço das minhas composições. Compõe um estilo. Essa articulação da língua tem origem na fala. É transportada para a escrita por causa de uma outra característica de estilo. Os textos memorialistas. Aí inevitavelmente entram em cena as influências da família. Tenho uma carga cultural, uma assimilação da realidade, um termo de vivência robusto vindo de minha mãe. A maioria das expressões e variações da língua que uso vêm da convivência e das elaborações de minha mãe. Uma paraense raiz”, explicou.

Sodré nasceu no Acre, mas é paraense de coração e suas composições usam uma linguagem tipicamente daqui
📷 Sodré nasceu no Acre, mas é paraense de coração e suas composições usam uma linguagem tipicamente daqui |Arquivo Pessoal

Em suas andanças e trabalhos pelo imenso Estado do Pará, Sodré afirma não ser especialista, mas considera que fenômeno linguístico paraense se encontra nas planícies, ou seja, nos baixões do Amazonas, cidades próximas a Belém, o que difere, segundo ele, dos fenômenos observados quando há uma distância da chamada Calha do Amazonas, em cidades como Marabá e Santarém, mais ao sul do Estado, onde o “paraensês” é considerado raro.


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Seguindo o traçado do rio, de Belém até a fronteira com o Amazonas, a gente reconhece um jeito particular deste eixo. Os termos são comuns. Por exemplo, todo mundo conhece aquele mosquito noturno como carapanã. Há uma cadência no falar, tão clara na expressão ‘mas quando...’, e o dito afrancesamento nas vocalizações. Além do LH substituindo o L com em ‘galhinha’ ou ‘lhinha’ e ‘lhinda’. Um outro marcador clássico é o chiado regendo os ‘esses’ e ‘zês’ nas palavras. A maioria desses fenômenos são raros ou desaparecem quando a gente se afasta da calha do Amazonas. Em Marabá e outras cidades na subida para o sul do estado, são outros fenômenos observados e bem distantes do dito paraensês.

Raimundo Sodré, Compositor e escritor
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Equipe Dol Especiais

  • Reportagem: Lucas Contente
  • Coordenação e Edição: Anderson Araújo
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